Boletim Unicap

Projeto para a Tamarineira é tema de debate na Católica

Mesa do debate

Na noite da última segunda-feira (12), a Universidade Católica de Pernambuco recebeu especialistas para discutir o projeto que pretende ser implementado na área onde funciona o Hospital Psiquiátrico Ulisses Pernambucano, com a construção de shopping e museus. O fórum de debates foi realizado pelo Centro de Ciência e Tecnologia da Universidade, com iniciativa do Observatório do Recife.

Na ocasião, estiveram presentes o superintendente do Hospital Ulisses Pernambucano e também integrante do grupo Amigos da Tamarineira, Luís Carlos Almeida; o Profº Drº Luiz Lira, membro do Instituto Oceanário-PE/UFRPE; o Dr. João Alberto, da Associação Brasileira de Psiquiatria; a Profª Drª Amélia Reynaldo, do curso de Arquitetura e Urbanismo da Unicap; Sérgio Buarque, economista da Multivisão; além do presidente do Instituto da Cidade da Prefeitura do Recife, Milton Botler. Mediados pelo membro do Observatório do Recife, Ruben Pecchio, cada um, em sua área, contribuiu para a discussão sobre o assunto em pauta.

O Hospital da Tamarineira, como é conhecido, é o primeiro hospital de tratamento psiquiátrico público na região. Sendo ainda a única emergência em Pernambuco, onde atende mais de 1.500 pacientes por mês, gerando mais de 300 internações, sendo 30% delas no próprio hospital. A unidade é considerada, por ambientalistas e defensores da causa, como o pulmão da Zona Norte do Recife, tendo uma área verde e de reprodução de espécies animais maior que o Parque da Jaqueira, que está localizado na mesma região.

O debate foi iniciado com a leitura de uma carta enviada pela Realesis Empreendimentos, grupo empresarial do Rio de Janeiro, que assinou o contrato de aluguel do imóvel com a Arquidiocese de Olinda e Recife. Na carta, a empresa justifica a proposta lançada em doze itens, indo desde a sustentabilidade do projeto até a preocupação com o meio ambiente e a oportunidade que a cidade do Recife está tendo viabilizando um projeto como esse.

Em seguida, os membros da mesa puderam expor seus posicionamentos em relação à obra. Luís Carlos Almeida expressou sua indignação com o lançamento do projeto, destacando a descaracterização do que é o hospital no ponto de vista da empresa. Luiz Lira analisou o projeto do ponto de vista ambiental. Em um esboço gráfico, explorou o solo pernambucano e sua biodiversidade, ressaltando a necessidade de preservar a área verde e o subsolo, consequentemente.

A professora Amélia fez um levantamento da evolução das construções no Recife, e defendeu que o Hospital da Tamarineira tem um papel importante no equilíbrio territorial. “O projeto urbano a ser produzido,  com a Tamarineira no centro, é ligar o Rio Beberibe ao Rio Capibaribe, visando um equilíbrio estrutural da cidade”, destacou a professora.

Dr. João Alberto

 João Alberto direcionou sua fala para a necessidade de se manter um hospital como o Ulisses Pernambucano, que é referência em atendimento aos doentes com problemas mentais, mesmo defendendo que a assistência médica não se faz dentro de hospitais. O psiquiatra lançou a proposta de analisar como é feito o processo de prevenção de saúde mental, destacando a importância das clínicas. “O serviço psiquiátrico prestado pelo Ulisses Pernambucano é excelente, pois abrange vários tipos de atendimento às patologias mentais”, ressalva. Sugeriu ainda que o projeto seja encaminhado sem a presença de estigmas, que ele caracterizou como não considerar a existência de pessoas em tratamento naquele local.

Sérgio Buarque fez a defesa e a complementação de um artigo que escreveu em 2008, que faz uma análise da mídia em relação ao projeto. Bem taxativo, o economista não se convence de que o projeto é inadequado, defendendo que “Pernambuco precisa de hospitais de saúde pública, mas não precisa, necessariamente, de um lugar específico”. Na visão dele, a Tamarineira tem um uso público muito restrito, de uma amplitude muito grande para um hospital. “Tem de haver, independentemente de Tamarineira ou não, uma análise dos impactos que a construção pode ter, respeitando a preservação”, completou.

Por fim, Milton Bloter acredita que as questões que foram colocadas contra o projeto não dizem respeito a ele, e frisou a construção de corredores ecológicos, previstos no projeto, e ainda a sustentabilidade do mesmo.

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