Boletim Unicap

Ex-aluno do Liceu Nóbrega e Unicap conclui master na França e pode atuar como arquiteto na Europa

EdnailtonEdnailton Félix era um menino de família humilde que vinha de San Martin, Zona Oeste do Recife, para estudar na Rua do Príncipe, bairro da Boa Vista. Foi assim da 5ª série ao 3º ano do Ensino Médio no Liceu Nóbrega. Quando ele passou no vestibular foi só atravessar a mesma rua para mais cinco anos de estudos no curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Católica de Pernambuco. O trajeto ficou maior. Ednailton havia se mudado para Maranguape II, em Paulista.
No caminho percorrido por Ed (ele prefere ser chamado assim), estava uma admiração profunda pelos valores arquitetônicos franceses. A admiração que alimentava o sonho de estudar no país da Torre Eiffel se tornou realidade graças à participação da Unicap no programa Ciências Sem Fronteira. 
ENSAP LES LIEUX -59Aos 28 anos, o então menino que tinha na Rua do Príncipe o endereço onde estudava concluiu o master em arquitetura na École Nationale Supérieure d’Architecture et de paysage de Lille (Ensap Lille), cidade localizada no Norte da França. Ele é o primeiro brasileiro a obter este diploma da instituição francesa. A proeza habilita Ed a atuar como arquiteto na Europa.
ENSAP LES LIEUX -14A instituição é uma das 20 escolas de arquitetura filiadas ao Ministério da Cultura francês que forma arquitetos. Ed foi o único aluno não-europeu da turma de 46 estudantes a receber o título de Architecte diplômé d’Etat no semestre.
O trabalho de conclusão do curso foi um projeto de transformação da biblioteca da Universidade de Lille 3 em um centro de aprendizagem seguindo o modelo holandês. A pesquisa intitulada Un Learning center dans la bibliothèque universitaire de Lille 3 (Pierre Vago architecte, 1974) foi desenvolvida na área de Histoire, théories et projet.
“Eu desenvolvi a proposta tendo como base os ensinamentos de Louis Kahn. Também me servi das teorias de intervenção desenvolvidas pelos autores italianos Cesare Brandi e Camilo Boito”, contou Ed que disse ter sido elogiado pela banca examinadora pelo francês fluente na apresentação do mémoire de projet (algo como uma dissertação). Ed começou a estudar o idioma aos 14 anos no centro público de línguas do Colégio Estadual Luiz Delgado, no Recife.
Direto de Lille, o ex-aluno que tem menos de dois anos de formado na Católica conversou com o jornalista Daniel França. Abaixo você acompanha alguns trechos da conversa.
12322507_10153826162134859_492967119382886020_oBoletim Unicap – Como começou o seu interesse por Arquitetura?
Ednailton Félix – Meu avô era pedreiro, uma pessoa muito forte que despertava admiração naqueles que o cercavam. Além disso, aos 12 anos, fui ajudar meu pai numa oficina de eletrotécnica e refrigeração em Jardim São Paulo (bairro vizinho a San Martin). Na frente havia uma obra que eu acompanhei do início ao fim. Não a construção em si, mas aquele ambiente dinâmico, o cheiro do cimento e da madeira cortada me fascinavam. Eu ficava imaginando como as pessoas iriam ocupar aquele espaço.
Boletim Unicap –  O que motivou você a cursar a graduação em Arquitetura e Urbanismo na Unicap?
E.F – Bem, eu cursei da 5ª série ao 3º ano no Liceu Nóbrega. Esse fato me permitiu ter um contato mais próximo com a Unicap desde cedo. Entretanto, como eu venho de uma família humilde, eu nunca teria como custear meus estudos na instituição. A oportunidade surgiu graças aos meus resultados no Enem.
Como eu tive uma nota muito boa no exame, isso me permitiu receber uma bolsa de 100%  através do Prouni. Na época, eu poderia ter escolhido outro estado mas, por razões práticas, decidi continuar em Pernambuco. Então, como a Unicap é uma instituição de renome e referência em todo Nordeste, optei por ela.
B.U – Como você avalia a estrutura dos laboratórios da Universidade?
E.F – Considero em geral a estrutura dos laboratórios da Universidade como boa e adaptada às necessidades do percurso acadêmico do curso. Mas, eu reconheço que ainda há muito a melhorar.  Faltam estruturas que sejam concebidas estritamente para o curso de Arquitetura e ligadas às necessidades do dia a dia dos alunos como as que eu encontrei aqui na França. Por exemplo: armários para os alunos guardarem os materiais de produção e maquetes, laboratórios de produção de maquetes amplos e uma gráfica que permita a todos imprimir grandes formatos (A1, A0, etc) a um preço acessível.
B.U – Qual a contribuição do corpo docente da Unicap para a sua formação acadêmica?
E.F – Acredito que o  investimento pessoal e profissional dos professores da Unicap foi uma base crucial para minha formação como arquiteto. Sem essa base eu não seria capaz de seguir os meus estudos no país da Tour Eiffel. As críticas dos professores nos impulsionam sempre a melhorar os nossos projetos. Os cursos que constituem os ensinamentos teóricos solidificam a nossa cultura arquitetônica em geral.
B.U – A formação obtida aqui na Unicap influenciou de alguma forma os seus estudos aí na França?
E.F – Para ser sincero, há um certo tempo eu já queria seguir os meus estudos na França. Independentemente dos meus estudos na Unicap. Entretanto, a participação da Universidade no programa Ciências Sem Fronteiras foi crucial para a realização deste sonho.  Gostaria de salientar que a base de estudos tecnológicos que recebi na Católica fizeram uma grande diferença para o sucesso de meu projeto de estudos aqui na Europa.Ednailton
O meu conhecimento e familiarização com os aspectos estruturais da construção, sempre foram bem notados pelos meus professores da Ensap Lille. Eu vim buscar aqui uma relação mais artística e filosófica com a  arquitetura (particulares ao ensino superior francês) a fim de complementar a minha formação.
B.U – Você mesmo mencionou ser de “família humilde”. Imagino que você deva ter enfrentado várias dificuldades. Houve algum momento mais crítico? Você pensou em desistir?
E.F – Ingressei na Católica em 2006. Depois tive que trancar a minha matrícula na Unicap por um ano para poder me dedicar ao estudo da língua. Isso porque, na época, eu queria concorrer a uma vaga da École Nationale Supérieure d’architecture Lyon. Eles disponibilizavam um número muito limitado de vagas para estrangeiros e eu concorri com candidatos do mundo inteiro.
Eu passei, mas não pude viajar porque não tive como justificar os recursos financeiros necessários para me manter na França e não obtive o visto de estudante (isso ocorreu em 2007). Esse foi o momento mais crítico para mim. Cheguei a ter um princípio de depressão. Minha família ficou muito preocupada comigo. Mas superei e retomei a minha vida.
B.U – Quais são os seus planos para o futuro?
E.F – Eu não sei se eu conseguiria me readaptar a morar no Brasil, mas de alguma forma eu quero levar o conhecimento adquirido aqui na França para o meu país. Existem alguns escritórios binacionais. Já que agora posso exercer a arquitetura na Europa, pretendo trabalhar num escritório que desenvolva projetos com o Brasil.
B.U – Diante de sua trajetória de sacrifício e dedicação, que mensagem você passaria a pessoas que ainda estão no meio do caminho?
E.F – Paciência. Acho que o segredo é ter paciência e não desistir nunca. Seja persistente.
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