Em nome do humanismo: parem a violência, parem o massacre!
|(Um grito de indignação de um professor humanista)
Por Artur Peregrino[1]
“Nada é mais vergonhoso do que matar crianças dormindo”. Assim reagiu o secretário-geral da ONU ao saber do massacre acontecido em uma escola de refugiados mantida pelo órgão na faixa de Gaza. “Foi um ataque condenável. É injustificável. E exige responsabilização e justiça”, disse ele. Foi uma cena vergonhosa. Crianças morreram enquanto dormiam junto dos seus pais no chão de uma sala de aula. Elas estavam lá para terem proteção e foram massacradas com um saldo de 19 mortes. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, disse que “a localização da escola foi comunicada 17 vezes às autoridades militares israelenses, a última vez horas antes do ataque”. Que horror! Que terror!
Como acabar com esse banho de sangue em cima dos palestinos? Já são mais de 1.330 palestinos e 53 israelenses mortos até hoje (31/07/14). E devemos considerar que são números duvidosos. Junte-se a estes números mais 6 mil pessoas gravemente feridas e 220 mil palestinos que saíram de suas casas.
Por isso que a presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, tem razão quando classifica de desproporcional a ação de Israel na faixa de Gaza e acusa o estado judeu de estar promovendo um “massacre ao atingir a população civil, principalmente mulheres e crianças”. E o número de vítimas da palestina, na sua maioria esmagadora, são civis.
Não é humano, não é moral, não é aceitável, não é normal assistir esse banho de sangue todo dia. Hoje leio na manchete de um jornal: “Gaza: mais de 100 mortos em um dia”. E olhe que a grande mídia passa as notícias filtradas. Já perceberam que a maioria dos correspondentes internacionais transmitem as notícias do conflito da faixa de Gaza ou dos EUA ou de Jerusalém em companhia de soldados israelenses? Curioso. Lembro-me de Euclides da Cunha quando estava cobrindo a guerra de Canudos (1893 – 1897) ao lado dos militares relatando o massacre em cima de pobres sertanejos no Nordeste do Brasil. Mesmo assim Euclides da Cunha não deixou escapar e disse: “o acontecido em Canudos não foi uma guerra, mas uma charqueada”.
A onde vai chegar essa crise humanitária? Na guerra todos perdem. Há um ditado saído das guerras do século XX: “Todas as guerras se parecem”. Essa é uma guerra pela guerra sem negociação política. Quem mediará esse conflito? Os Estados Unidos? Para se mediar um conflito desse porte tem que ter reconhecimento diante do mundo. E isso os Estados Unidos não tem. Não se pode mediar um conflito estando de um lado. A alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Navi Pillay, denunciou os Estados Unidos por proporcionar armamento ao Exército israelense e não fazer o suficiente para deter a ofensiva contra a Faixa de Gaza. “Os Estados Unidos não só fornecem a Israel artilharia pesada usada em Gaza, mas gastou quase US$ 1 bilhão para proteger o país contra os foguetes palestinos. Uma proteção que os civis de Gaza não têm”, denunciou Pillay.
Nesses dias, aumenta a pressão internacional contra o Estado de Israel. A guerra diplomática Israel já perdeu, porque o mundo tem dado desaprovação ao massacre. O poderio de Israel é infinitamente maior que o dos palestinos. Por isso o Estado de Israel, historicamente, tem ocupado militarmente o território dos palestinos, cujo direito à terra já foi reconhecido pela ONU e pelos organismos internacionais. De fato, para se alcançar uma paz duradoura, a ocupação israelense de terras palestinas, incluindo o cerco a Gaza, deve acabar.
Qual a saída? O poço está muito fundo. A cada momento se tomam decisões que dificultam o término do conflito. Há uma complexidade muito grande. Há uma radicalização do conflito. Na região, cenário da guerra, há um milhão e seiscentas mil pessoas. É um absurdo querer expulsar mais de um milhão de pessoas. Não é possível continuar alimentando o ódio no meio da juventude desses povos. Mas, como dizia o poeta: “no meio do caminho há uma pedra”. O que fazer? Uma maioria quer a paz, mas a grande questão é como fazer.
A saída é voltar às raízes do conflito e olhar para frente. A construção de um mundo de paz vem pelo respeito aos direitos humanos. E para isso os dois lados têm que ceder. A médio e longo prazo só há um caminho: o diálogo. Pode ajudar muito voltar a 1947, ano que definiu a criação de dois países soberanos. Essa é uma luz no final do túnel. Isso é possível. A França e a Alemanha foram inimigas em três guerras. Mas perseguiram a paz e através do diálogo encontraram uma saída para o conflito.
A curto prazo, nesse momento, e em relação à situação dramática que se vive na faixa de Gaza, todos os recursos políticos e humanitários devem ser orientados para a garantia de um cessar fogo efetivo, com o fim do bloqueio e a abertura das fronteiras, a livre circulação de pessoas, a ajuda humanitária e entrada de produtos comerciais, a recuperação das infra-estruturas destruídas, uma investigação independente sobre a prática eventual de crimes de guerra e de crimes contra a humanidade.
Em nome do Deus da vida, é urgente formar uma opinião pública que leve adiante uma bandeira, e você faz parte dessa corrente, solidária a essa causa da humanidade. Para que as crianças possam dormir em paz junto a seus pais sonhando com um mundo colorido e cheio de vida. Unamo-nos ao papa Francisco que há dias atrás, durante a tradicional oração do Ângelus, deu um grito pela paz e pela justiça na Palestina: “Eu imploro a vocês: parem! Eu peço do fundo do meu coração. Por favor, parem!”.
[1] José Artur Tavares de Brito é Mestre em Antropologia Cultural pela Universidade Federal de Pernambuco (1999). Possui graduação em Licenciatura em Filosofia pela Universidade Católica de Pernambuco (1995), graduação em Bacharelado em Filosofia pela Universidade Católica de Pernambuco (1996), graduação em Teologia pelo Instituto de Teologia do Recife (1987). Tem experiência na área de Antropologia, com ênfase em Antropologia da Religião, atua principalmente nos seguintes temas: teoria da complexidade, antropologia urbana, sistemas simbólicos, ritualidade, catolicismo, terra, sertanejo, contemporaneidade, religião, cidade e pastoral. É integrante do grupo de pesquisa Transdisciplinaridade e Diálogo inter-religiosos. Atualmente é Professor da Universidade Católica de Pernambuco – UNICAP e colaborador do Instituto Humanitas Hunicap – IHU. Email: arturperegrino@gmail.com