Boletim Unicap

Dilemas e Desafios da América Latina Contemporânea são debatidos na Católica

foto-3O Instituto Humanitas Unicap, o Núcleo de Estudos para América Latina (NEAL), o Instituto de Estudos da América Latina e os Programas de Pós-Graduação em Ciências da Religião e em Direito da Unicap  promoveram, na manhã desta quinta-feira (6), no auditório G2, debate com o tema “Dilemas e Desafios da América Latina Contemporânea”.

Participaram da mesa o  cientista político Manoel Moraes, professor da Escola de Direitos Humanos vinculada ao Instituto Humanitas Unicap; o Prof. Dr. Gustavo Ferreira, do Programa de Pós-Graduação em Direito da Unicap; o Prof. Dr. Thales Castro, coordenador do NEAL e assessor de Assuntos Internacionais e Interinstitucionais da Unicap; e o Prof. Dr. Drance Elias, do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Unicap. O debate foi coordenado pelo Prof. Me Carlos Vieira.

Na sua apresentação, Manoel Moraes ressaltou que o desafio conjuntural na América Latina passa pelos direitos humanos, longamente ameaçados e, paradoxalmente, conquistados. Segundo ele, nos últimos 20 anos, houve na América Latina avanços significativos nas conquistas de direitos econômicos e sociais, com aumento do IDH e redução da pobreza. Reflexo, na sua visão, da ascensão da esquerda ao poder em vários países latino-americanos. “O que estamos assistindo agora é o risco de perda dessas conquistas, com a possibilidade de retrocesso e de ameaça em relação aos direitos econômicos e sociais, fruto de uma nova configuração política, com a chegada ao poder de coalizações conservadoras”, pontuou, ressaltando que, no caso do Brasil, estamos vivendo um momento de flexibilização das políticas sociais, conquistadas nos últimos 16 anos. “Essas conquistas estão sendo colocadas em xeque em função de um ajuste de contas”, salientou.

O professor Gustavo Ferreira fez uma abordagem sobre a América Latina a partir de suas Constituições. Ele destacou que, até pouco tempo atrás, as Constituições eram nominais, não influenciavam na vida das comunidades. “Eram Constituições para inglês ver”, frisou. A primeira experiência de Constituição efetiva no Brasil, segundo ele, foi a de 1988, fruto de um processo constituinte mais participativo. Na América Latina, ele citou a Constituição do Equador, promulgada em 2008, e a da Bolívia, promulgada em 2009, como exemplos de processos constituintes muito participativos e democráticos, com textos inovadores e influência efetiva na vida das pessoas. Ele lembrou que o Chile vive hoje um processo pré-constituinte e que na Colômbia e no Brasil já há discussões sobre a possibilidade de novas Constituições.

O professor Thales Castro começou a sua fala com uma citação de Ortega Y Gasset: “Eu sou eu e minhas circunstâncias”, para dizer que existem muitas Américas Latinas. Uma região, na sua visão, plural e una, mística e pouco conhecida. Destacou que a América Latina vive numa situação de semiperificidade e defendeu um olhar de pós-colonialidade sobre a região. Ele chamou a atenção para o ano de 1985, quando foi assinada a Declaração do Iguaçu pelos então presidentes do Brasil e Argentina, José Sarney e Raúl Alfonsin, que foi um passo inicial para a implantação do Mercosul. “A partir da assinatura daquele tratado, o Brasil e a Argentina deixaram de se ver como rivais e passaram a construir pontes e a trabalhar em cooperação”, enfatizou. O professor Thales aproveitou a ocasião para falar sobre o Núcleo de Estudos para América Latina da Católica, criado em 1999, com o objetivo de ser um centro de estudos sobre a América Latina de maneira transdisciplinar, com três eixos: o político, o jurídico e o econômico. Também destacou a atuação da Cátedra Konrad Adenaur, criada na Unicap em 2010. Apoiada pela Fundação Adenauer e pela Embaixada da Alemanha, a Cátedra tem incentivado estudos e publicações sobre a América Latina.

Encerrando o debate, foi a vez do professor Drance Elias abordar a América Latina sob a perspectiva da religião. Na sua apresentação, ele mostrou as transformações vividas pela América Latina no campo religioso a partir da década de 1990, com a perda significativa da hegemonia da Igreja Católica. “Desde a colonização, a Igreja Católica tinha hegemonia sobre o domínio do controle do campo religioso na América Latina. Com a pluralidade e a diversidade das religiões a partir da criatividade das populações latino-americanas, começa a haver um enfraquecimento da Igreja Católica nesse domínio”, explicou, acrescentando que esse cenário é revelador da autonomização das religiões a partir dessa criatividade que as populações vêm tendo, fundando as suas experiências de religiosidade, que necessariamente não estão amarradas a uma dinâmica institucional. “O campo religioso não tem mais o controle  por parte do Estado”, acentuou. O professor destacou ainda que o Brasil hoje exporta religiões, sobretudo as neopentecostais, particularmente para a África.

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