A Católica recebeu, na tarde desta quinta-feira (26), uma das mais renomadas pesquisadoras do país na área de Altas Habilidades e Superdotação. Denise Matos, que é professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e responsável pela coordenação da Educação Especial na Secretaria de Educação do Paraná, fez palestra sobre “O professor universitário frente às estratégias de identificação e atendimento ao aluno com altas habilidades/superdotação”, tema da sua dissertação de mestrado, defendida em 2011 na UFPR e que teve como orientadora a Profª. Drª. Laura Ceretta Moreira.
A palestra aconteceu durante o IV Seminário Temático sobre Altas Habilidades/Superdotação e a Inclusão no Ensino Superior, promovido pelos Grupos de Pesquisa da Unicap sobre Altas Habilidades/Superdotação – Humanismo e Cidadania, coordenado pela Profª Drª Vera Borges de Sá, e sobre Diversidade na Matemática – Ensino e Aplicações, coordenado pelo Prof. Dr. Vicente Francisco Souza Neto, com o apoio do Instituto Humanitas Unicap. O evento fez parte da programação da 15ª Semana de Integração Universidade Sociedade e foi prestigiado pelo Pró-reitor Comunitário, Padre Lúcio Flávio Cirne, e pela coordenadora de Graduação em exercício, Valéria Passos.
Para o público que lotou o anfiteatro do bloco G4, a palestrante esclareceu que a superdotação não é uma doença, não é um transtorno, não é uma síndrome e não é uma deficiência. É uma condição de cérebro, uma condição do sujeito.”O cérebro do superdotado é um cérebro potencializado, que funciona numa intensidade maior, fazendo conexões mais rápidas, mais elaboradas”, explicou. No Brasil, estima-se que entre 3 e 5% da população sejam superdotados.
Diante da escassez de pesquisas que abordam o tema da superdotação no ensino superior no país, o objetivo principal do estudo qualitativo realizado pela professora Denise Matos foi investigar se os professores universitários reconhecem alunos com altas habilidades/superdotação, como o fazem e que estratégias metodológicas adotam para a inclusão educacional desses jovens na universidade.
Para o desenvolvimento do estudo, foram entrevistados nove professores da UFPR que possuem entre cinco e 40 anos de docência, com formação diversificada, dos quais 66,6% foram indicados por alunos superdotados da própria universidade e 33,3% indicados pela coordenação do Núcleo de Apoio às Pessoas com Necessidades Especiais da UFPR.
A pesquisa constatou que a maioria dos professores diverge sobre a concepção de necessidades educacionais especiais, demonstrando incerteza acerca da participação do estudante superdotado no grupo de alunos que fazem parte do público-alvo da educação especial. Sobre a concepção de altas habilidades/superdotação que os professores universitários têm, o estudo mostra que, em sua maioria, é constituída por informações do senso comum em geral, não sistematizadas e que dificultam a aplicação de procedimentos pedagógicos que atendam aos critérios necessários para organização de práticas de enriquecimento curricular.
De acordo com a pesquisa, os professores que promovem encaminhamentos pedagógicos e estratégias diferenciadas e acabam identificando alunos com perfil de superdotados, de modo geral o fazem empírica e informalmente, sem focar as características de altas habilidades/superdotação nem necessidade específica de enriquecimento curricular que estes apresentam.
O estudo mostra que na trajetória das universidades brasileiras em busca da educação inclusiva há uma preocupação, ainda que insuficiente, com a inclusão de alunos com deficiência e outros problemas que interferem na aprendizagem, mas o aluno superdotado não tem sido alvo de discussões e ações inclusivas, apesar de fazer parte do público-alvo da educação especial.
O estudo apontou que a UFPR necessitava de políticas e programas mais concretos para atender essa demanda, como a criação de programas específicos, estruturados em parceria com os setores e comunidade, com projetos e contribuindo para que se fosse além da formação e se transformasse cada vez mais num espaço democrático na promoção do desenvolvimento do potencial humano.
Cinco anos depois da defesa da dissertação da professora Denise Matos, os reitores da UFPR, Zaki Akel Sobrinho, e da PUC Paraná, Waldemiro Gremski, firmaram, em setembro de 2016, parceria criando o Núcleo de Estudos e Práticas em Altas Habilidades/Superdotação (Nephas), um projeto pioneiro e inovador no Brasil com o objetivo de promover a reflexão, a capacitação e a intervenção na área de altas habilidades e superdotação. O Nephas é o primeiro centro no país dedicado a estudos nas áreas de altas habilidades e superdotação.
Ao final da sua elogiada apresentação, a pesquisadora enfatizou que os superdotados precisam de oportunidades para desenvolverem suas habilidades e serem valorizados pela família e pela sociedade. “Precisamos dar asas a essas pessoas”, concluiu, abrindo espaço para perguntas, que foram muitas, só interrompidas em função do tempo, já esgotado. Após a palestra, foi oferecido um coquetel aos presentes.
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