Boletim Unicap

Crescimento econômico e sustentabilidade marcam segunda noite da Semana da Mulher

fotos: Luísa Nóbrega

A segunda noite de palestras da Semana da Mulher na Católica foi marcada por conferências que trataram de meio ambiente, crescimento econômico e sustentabilidade. A programação contou com a participação da professora do departamento de Ciência Florestal da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Isabelle Meunier, e do assessor de Relações Internacionais da Unicap professor, Thales Castro. Os trabalhos foram coordenados pelo coordenador do curso de História da Unicap, professor Luiz Carlos Marques.

Durante a sua explanação, Isabelle explorou as diversas visões e conceitos do que vem a ser meio ambiente e sustentabilidade. Ela defendeu que uma sociedade sustentável deve ter visão de futuro, a longo prazo, não pode ser imediatista. ” Tem que ter a preocupação com a capacidade de o meio ambiente resistir a tais impactos provocados pela intervenção humana”. A professora, que está fazendo doutorado, apresentou conceitos pesquisados para sua tese durante a palestra. Um dos pontos destacados é a noção de valor agregada a questão ambiental. ” No conceito de sustentabilidade deve haver valores como ética, solidariedade e amor”. E ela foi mais além: ” Sustenatibilidade é um valor, ideia que não se concretiza em sua extensão. Nem sempre iremos atingir em sua totalidade. É uma meta, mas não podemos nos frustrar em não atingí-la”.

A professora da UFRPE também fez uma análise entre o crescimento e desenvolvimento econômico. Ela tomou como ponto de partida a década de 80, também chamada pelos acadêmicos de “década perdida”. Na época, o Brasil vivia uma grave crise econômica, dívida externa. Isabelle relembrou o tempo em que era estudante quando ouviu de um professor que o Fundo Monetário Internacional (FMI) era um tolhedor da agressão ao meio ambiente por controlar tudo, inclusive o crescimento econômico. Ela explica que naquele período era comum associar prosperidade econômica à degradação ambiental. Pensamento que, segundo Isabelle, se desconstruiu ao longo dos anos. “População pobre, desassistida nunca foi bom para o meio ambiente.  A gente precisa de legislação que nos proteja, instituições fortes que saibam dizer sim e não aos governos”.

O segundo painelista da noite foi o professor Thales Castro. Ele começou sua apresentação destacando a relação do tema da Semana da Mulher (Cuidar da vida, cuidar do mundo); Dia Mundial da Água (celebrado hoje 22 de março) e o tema da Campanha da Fraterndiade (Fraternidade e a vida no Planeta). O professor fez um breve histórico do comportamento social ao longo dos séculos quanto à questão ambiental. Segundo ele, as sociedades primitivas eram cosmocêntricas, usavam a natureza como meio fim. Valores teocêntricos dominaram a Idade Média, seguidos do Iluminismo sustentados na razão. ” Hoje somos tecnocratas, mas ainda nos deparamos com o obscuranismo ambiental fundamentado, em grande parte, pelo capitalismo liberal”.

Thales citou várias conferências mundiais que debateram o tema meio ambiente ao longo das últimas décadas. “A Eco 92, no Rio de Janeiro, em sua declaração, colocou o homem como centro de tudo. Se as preocupações são centradas no indivíduo, o que resta para o meio ambiente? O ser humano é sujeito ou objeto?”, indagou. O especialista em relações sinternacionais tambem  relembrou a conferência de Estocolmo de 1972. A reunião global reproduziu o pensamento vgente à época de que a responsabilidade pela degradação ambiental era dos países pobres. Cogitou-se até o controle da natalidade nesses países como forma de conter a agressão à Natureza. Tese descontruída  em 1992 com o surgimento do novo conceito de desenvolvimento sustentável.

O professor Thales também chamou a atenção para a reunião global do clima realizada na cidade japonesa de Kyoto em 1997. ” Foi um marco para as relações econômicas internacionais. Uma quebra do paradigma das ciências econômicas da época que redifiniu o que é bem público, o ar passa a ser um bem econômico, graças aos créditos de carbono”. A partir de então as realções internacionais passaram a ser regidas também pelo clima. Ele citou um exemplo considerado emblemático da ilha de Tuvalu. O estado polinésio chegou a considerar processar os EUA por não terem assinado o Protocolo de Kyoto e contribuir para a elevação dos oceanos, o que estaria provocando o desparecimento da ilha. “Pela primeira vez temos a categoria de refugiados ambientais. Já tivemos países conuistados, anexações, colonizações, mas nunca desaparecimento por água. ”

Para o professor, as relações internacionais de hoje são baseadas em três fatores indissociáveis: a segurança ambiental, segurança energética e a segurança alimentar. ” Saõ temas que precisam ser delicadamente debatidos e analisados. É preciso mudar os padrões de consumo, mas para isso é preciso mudar também as placas tectônicas do poder”, finalizou.

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