Convergência Midiática é tema de mesa-redonda na 8ª Semana de Integração
|Por Tiago Cisneiros
A internet mudou muitas vidas nos últimos anos. Inclusive as dos profissionais de comunicação. Para debater esse processo – e as implicações dele na produção e difusão de conteúdos –, os professores Alexandre Figueirôa, Adriana Dória, Cláudio Bezerra, Dario Brito e Carla Patrícia participaram, quarta-feira (6) à noite, da mesa-redonda “Convergência Midiática em Sistemas de Comunicação”. O evento integra o calendário do Centro de Ciências Sociais da 8º Semana de Integração Universidade Católica & Sociedade.
A mesa-redonda constituiu-se numa oportunidade para os professores – todos do curso de Jornalismo da Católica – apresentarem suas pesquisas acerca das alterações provocadas pelo fenômeno da convergência midiática. A mediação coube ao coordenador da graduação, Alexandre Figueirôa, para quem o debate acerca dos novos processos é necessário dentro e fora da Universidade. “Precisamos refletir sobre isso com conhecimento de causa. A tecnologia avança a passos larguíssimos, e nós, que vamos produzir conteúdo para as multiplataformas, temos a oportunidade de conhecer e intervir neste processo.”
O professor Dario Brito, que ministra as disciplinas Jornal e Novas Tecnologias e Teoria e Prática de Pesquisa em Comunicação, focou sua apresentação nas semelhanças e diferenças nas coberturas do Jornal do Commercio (impresso) e do JC Online. Como objeto de análise, escolheu o Abril Vermelho, um mês marcado por protestos de movimentos sociais no Recife, e a fase de julgamento do Caso Serrambi.
Adriana Dória contribuiu com a análise de um dos seus campos de estudo, o chamado jornalismo opinativo, nos meios impresso e virtual. O primeiro ponto abordado pela professora foi a diferença de gêneros ou plataformas onde se apresentam as opiniões, de acordo com o tipo do veículo. Segundo ela, o jornal tradicional reserva alguns espaços para os textos analíticos, como o editorial, o artigo, a seção de cartas, a resenha e a coluna. Na web, por sua vez, a formalidade perde força e termina por caracterizar os blogs e áreas de comentários como locais de expressão.
Para a jornalista, os espaços opinativos mais formais, como o editorial e o artigo, ainda não tiveram vez na plataforma virtual, porque não são considerados relevantes. Essa ideia está ligada à efervescência e à interatividade procuradas (e encontradas) na internet, que contrariam o “segundo olhar” necessário nas análises e opiniões.
Adriana ressaltou que os portais de notícias (no caso, o JC Online) ainda não chegaram a um estágio de “características rígidas”. Esse caráter fluido acaba, segundo ela, por alterar a função do jornal tradicional, que cada vez mais emprega recursos não-textuais, como fotografias e infográficos. “O papel do impresso só ficará mais claro quando a plataforma virtual estiver madura”, afirmou.
Em diálogo com Adriana Dória, a professora e designer Carla Patrícia observou, em sua apresentação, que há um atraso no desenvolvimento de projetos gráficos para os portais noticiosos. Segundo ela, os sites não costumam aproveitar as possibilidades da plataforma, investindo em infográficos e imagens que apenas “repetem” a estrutura dos jornais impressos, sem interatividade ou dinamismo (elementos de games). Como exemplos para comparação, Carla também escolheu o Jornal do Commercio e o JC Online. “Hoje, o repórter não precisa fazer um infográfico, mas, sim, pensar a notícia de modo a utilizar o que é oferecido pela web”, disse.
Em meios às críticas aos projetos gráficos dos portais, cujas falhas atribui ao fato de serem desenvolvidos por designers que fizeram carreira no meio impresso, Carla Patrícia apontou um movimento “paradoxal” de renovação. “Essa concorrência com a internet e outros meios já influencia os jornais há muito tempo. Eles perderam o estilo ‘quadradão’ e ganharam mais a cara de revista, com investimentos em imagem e infográfico.”
O último a falar foi o professor Cláudio Bezerra, responsável por disciplinas ligadas ao audiovisual no curso de Jornalismo da Católica. Ele apresentou os primeiros resultados da pesquisa “A transformação de conteúdo jornalístico da TV Jornal para o ambiente digital do JC Online: desafios e possibilidades”.
De acordo com Bezerra, a TV Jornal (emissora do Sistema Jornal do Commercio de Comunicação), do ponto de vista técnico, está interligada com o meio online. O desafio, afirmou, é tentar pensar e propor formatos, isto é, como trabalhar os conteúdos televisivos no ambiente virtual. A partir da análise dos telejornais e do portal da corporação midiática, Cláudio Bezerra encontrou falhas e indicadores que podem contribuir para a construção e difusão audiovisual de uma maneira particular na web.
Entre essas falhas e indicadores, há a carência de profissionais que possam atualizar e organizar os portais com conteúdo televisivo. Isso faz com que, atualmente, só haja uma transferência das reportagens, stand-ups e notas cobertas (gêneros do telejornalismo) para os portais, sem produção própria e/ou cuidados de reedição e adaptação. Outro ponto importante é a constatação das preferências dos internautas. “No JC Online, as matérias mais acessadas tratam do ‘mundo cão’ (violência), de esportes e de celebridades, apesar de o usuário-padrão ser um adulto jovem da classe A ou B”, disse.