Boletim Unicap

Confira o discurso do Reitor na abertura da Semana Docente e Fórum dos Funcionários

Semana Docente e Fórum dos Funcionários

 Universidade Sustentável: meio ambiente e qualidade de vida

 Boas-vindas do Reitor

 Um ano atrás, o evento que reúne a Semana Docente e o Fórum dos Funcionários nos convidou a refletir sobre o conceito e a vivência de uma universidade como a nossa, a partir do tema: “Universidade Comunitária: da concepção à vivência”. Gilberto Garcia, Conselheiro do CNE, na palestra de abertura do evento, em 2012, praticamente sugeriu a inversão da ordem proposta pelo tema, afirmando que nas universidades comunitárias a vivência precede o conceito, até mesmo porque a concepção de universidade comunitária ainda está sendo construída, precisamente a partir de muitas vivências e experiências. Seja como for, tivemos a oportunidade de aprofundar o desafio de uma universidade comunitária, cujo conceito é ainda bastante impreciso, mas a realidade nos interpela, não apenas porque constitui a natureza jurídica e institucional da Unicap, mas porque nos diferencia tanto das públicas estatais quanto das privadas particulares. Esse tema tem sido aprofundado pelo Fórum Permanente Identidade e Missão da Unicap, coordenado pelo Padre Jaime, no qual aprofundamos os termos da Carta de Princípios.

A proposta de reflexão para a semana que hoje se inaugura tem como tema “Universidade Sustentável: meio ambiente e qualidade de vida”. De certa forma, existe uma continuidade e uma especificação entre o tema proposto no ano passado e o deste ano. Porque se é na vivência que se vai explicitando um conceito, uma Universidade que assume seu compromisso na construção de sociedades sustentáveis, amplia o seu conceito e a sua experiência de comunidade e de sustentabilidade. Ou seja, uma Universidade Comunitária vai se reconhecendo e se firmando como tal quando, no seu cotidiano, vai igualmente se tornando uma Universidade Sustentável na medida em que procura respeitar o ambiente e promover a qualidade de vida. Transparece, portanto, uma íntima conexão entre os dois temas: Universidade Comunitária e Universidade Sustentável.

No meu entender, essa correlação fica ainda mais evidente quando se considera, como se deve, a pluralidade conceitual da noção de “sustentabilidade”. Logo de entrada, dois riscos de reducionismos devem ser evitados: por um lado, o risco de reduzir sustentável à ambiental, no sentido restrito ao meio físico; por outro, reduzir a questão da sustentabilidade ao fator econômico.

Estudiosos do tema – como o geógrafo Roberto Guimarães para quem a temática da sustentabilidade é um processo complexo que envolve diferenças e particularidades de cada matriz cultural e variedade de atores – chamam atenção para as múltiplas dimensões da sustentabilidade: ecológica, ambiental, demográfica, cultural, social, política e institucional (GUIMARÃES, R. “Desenvolvimento sustentável: da retórica à formulação de políticas públicas”. In: BECKER, B (org) A geografia política do desenvolvimento sustentável. Rio de Janeiro, UFRJ, 1997).

Assim, a questão da sustentabilidade vai além dos desafios da relação técnica com o entorno natural e coloca no centro dos debates o desafio de repensar continuamente as formas de organização espacial nas quais está implicado tanto o relacionamento dos seres humanos entre si como também destes com o meio natural. Portanto: “É preciso trazer a noção de sustentabilidade para o campo das relações sociais. Sustentáveis são as formas de apropriação e uso do meio ambiente e não os recursos naturais” (ACSElRAD, Henri. “Sustentabilidade e domocracia”. In: Proposta, FASE, Rio de Janeiro, 2007.

Nesse passo, poderemos avançar na reflexão do nosso tema dizendo que nossa abordagem da sustentabilidade deve abarcar tanto a realidade financeira da Universidade quanto à agenda socioambiental, dentro de uma perspectiva comunitária. Criamos, há mais de quatro anos, o Fórum de Gestores, com a finalidade de trabalhar a relação entre Qualidade Acadêmica e Sustentabilidade Financeira, aprofundando assim a noção de universidade comunitária. Hoje, proponho a criação de um GT para trabalhar as diversas dimensões da sustentabilidade, inaugurando a Agenda Socioambiental da Unicap, cuja portaria que institui o GT será lida pelo Padre Lúcio Flávio, Pró-reitor Comunitário e coordenador do Instituto Humanitas. Dessa forma, nesta Semana Docente e Fórum dos Funcionários, queremos desencadear um processo dinâmico e comunitário, que envolva criativamente toda a universidade, na linha da construção e implantação da Agenda Socioambiental da Unicap. O Humanitas, que trabalha a multidisciplinariedade dos saberes e a transversalidade dos diversos setores da universidade, acompanhará de perto esse processo, precisamente na perspectiva de uma IES comunitária.

A PUC –Rio é uma das universidades pioneiras nessa preocupação em buscar formas de sustentabilidade e, para tanto, já tem estabelecida desde 2008 a sua Agenda Ambiental, sendo hoje uma referência amplamente reconhecida. Quem esteve à frente desse processo foi o NIMA (Núcleo Interdisciplinar de Meio Ambiente), que é coordenado pelo professor doutor Luís Felipe Guanaes, nosso palestrante de hoje, a quem agradecemos, desde já, pela presença e importante colaboração.

Para concluir, evoco uma data comemorativa, anuncio uma ousadia e proponho uma metáfora para definir nosso estilo.

Em 2013, celebraremos o início da Unicap, com a criação da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras Manuel da Nóbrega. A então faculdade parecia insustentável, financeiramente e também, creio, por carência de recursos humanos, além de estar em uma região empobrecida. No entanto, sete anos depois da fundação, a jovem faculdade em parceria com outras instituições pernambucanas passava a ser universidade. Precisamos resgatar essa história, inclusive dizendo que estamos fazendo 70 anos e vamos rumo ao jubileu de diamante.

Nessa perspectiva, anuncio um projeto ousado: estamos estudando seriamente a ampliação de nossa área de saúde, estudando e trabalhando a viabilidade de um curso de Enfermagem e Medicina. Não queremos suscitar expectativas, mas afirmar a mesma coragem que nossos pioneiros tiveram.

Enfim, proponho uma metáfora que define os diversos paradoxos aos quais somos chamados a abraçar e que acabam nos constituindo, revelando nosso jeito de ser. Assim, cito passagem do livro “Cidades Invisíveis”, de Italo Calvino.

“Marco Polo descreve uma ponte, pedra por pedra.

-Mas qual é a pedra que sustenta a ponte? – pergunta Kublai Khan

-A ponte não é sustentada por esta ou aquela pedra – responde Marco -, mas pela curva do arco que estas formam.

Kublai Khan permanece em silêncio, refletindo. Depois, acrescenta:

– Por que falar das pedras? Só o arco me interessa.

Polo responde:

-Sem pedras o arco não existe.”

Que essa metáfora narrativa nos ajude a pensar os paradoxos que tentamos abraçar, como por exemplo: qualidade acadêmica e sustentabilidade financeira, teoria e prática, tradição e inovação, e tantos outros. Que a dilatação da concepção de sustentabilidade e a nova agenda socioambiental da Unicap nos ajudem a configurar a universidade comunitária que queremos ser.

Obrigado!

Pedro Rubens

Recife, 31 de janeiro de 2013

 

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