Começa o atendimento às pessoas em situação de vulnerabilidade social no prédio do antigo Liceu
|Danilo Inácio de Souza, 40 anos, vive nas imediações da Igreja do Carmo, no Centro do Recife. Ele foi um dos primeiros a ser atendidos no mutirão organizado por voluntários no prédio do antigo Liceu, na Praça da República. Ganhou roupas, material de higiene pessoal e o que para muitos parece algo trivial e diário, mas que para ele representa um momento de dignidade: o direito de tomar um banho. “Estou me sentindo novo de loja! Mais novo do que carro zero quilômetro”, brincou ele ao expressar a alegria pela oportunidade de cuidar do próprio corpo.
A Universidade Católica de Pernambuco cedeu temporariamente as dependências da edificação anexa onde funcionou o antigo Liceu de Artes e Ofícios para que o poder público e Organizações Não Governamentais a usem como ponto de apoio para pessoas em situação de vulnerabilidade social ou que vivem nas ruas neste momento de pandemia de Covid-19. A ação está sendo coordenada pelos Unificados, um coletivo de voluntários que reúne 31 instituições.
O representante dos Samaritanos, Rafael Araújo, explicou que nesses primeiros dias serão distribuídas roupas limpas, material de higiene pessoal como xampu, sabonete, desodorante, escova e pasta de dente, além da disponibilização de banheiros para que as pessoas possam tomar banho. Há ainda espuma e lâminas para os homens que quiserem fazer a barba. “Não há uma seleção específica. Vamos responder às demandas espontâneas. Nossa capacidade é de 50 atendimentos por dia”. Os atendimentos serão concentrados no turno da manhã, a partir das 8h, de segunda a sábado. À tarde, os voluntários vão reservar o expediente para organizar os materiais e donativos.
Ainda de acordo com Rafael, além de receber as pessoas em situação de vulnerabilidade, o local vai ser um ponto de coleta de doações de roupas limpas e material de higiene pessoal. A equipe que está trabalhando na ação conta com dez voluntários. A iniciativa é uma parceria entre a Unicap, ONG Novo Jeito e a Prefeitura da Cidade do Recife. A expectativa é de que, a partir da próxima semana, sejam instaladas máquinas de lavar e as pessoas nesta situação possam usar os equipamentos.
O movimento foi aumentando à medida em que a informação foi circulando nos arredores. Em menos de duas horas, a cota de atendimento neste primeiro dia havia sido atingida. O grupo de voluntários montou um toldo e colocou cadeiras na área externa, respeitando o distanciamento social, para que as pessoas pudessem esperar.
Everaldo Gomes dos Santos, 41 anos, nasceu no bairro de Nova Descoberta, Zona Norte do Recife, mas tem como endereço fixo a Praça XVII, ao lado do Fórum Thomaz de Aquino, no bairro de Santo Antônio. Ele disse que trabalha como pedreiro e pintor, mas que não tem conseguido trabalho por conta do novo coronavírus. “Queria mesmo era trabalhar, ter minha casa, mas por conta dessa doença ficou ainda mais difícil. Achei muito boa essa iniciativa!”, disse ao falar sobre o mutirão.
Ele estava acompanhado do amigo Natanael Francisco do Nascimento, 56 anos, que estava a maravilhado com a chance de tomar banho. “A gente não tem condições, não tem como tomar banho, vestir uma roupa. Agradeço muito a Deus e a vocês. Nós somos pobres, mas somos gente!”