Boletim Unicap

Combate ao racismo marca abertura da 15ª Semana da Mulher

A solenidade de abertura oficial da 15ª Semana da Mulher na Unicap (SMU), na noite desta terça (7), marcou o lançamento da campanha Diga Sim à Igualdade Racial. O evento reuniu representantes do poder público e de movimentos sociais que discutiram o tema Racismo – Povos Afrodescendentes: reconhecimento, justiça e desenvolvimento.  Ao dar as boas-vindas, o Pró-reitor Comunitário, Prof. Dr. Pe. Lúcio Flávio Ribeiro, destacou a sintonia da SMU com o tema da Campanha da Fraternidade deste ano. “O enfoque da SMU é a da visão socioambiental da natureza. É preciso agir, mas não uma ação qualquer, uma ação pensada, reflexiva e organizada”.

Logo depois, a mesa dos trabalhos foi montada e teve a coordenação da Profª Drª Valdenice José Raimundo. “O racismo é um componente cruel e perverso dentro das nossas relações sociais e precisa ser combatido”, disse ela ao dar início ao debate. Entre as convidadas estava a secretária da Mulher da Prefeitura do Recife, Cida Pedrosa, que destacou a importância da parceria com a Católica. “O poder público não é nada sem as universidades. A universidade faz parte desse contraponto da sociedade civil”.

Vera Baroni representou a Articulação de Mulheres Negras Brasileiras e a Rede de Mulheres de Terreiro. “Desde que nossas ancestrais vieram forçadas do continente africano para cá, sempre tivemos como marca a invisibilidade e a negação. E hoje, em pleno século 21, ano de 2017, ainda é preciso lançar campanhas para buscar respeito e a liberdade da mulher negra como sujeito político”, afirmou Vera ao mencionar dados que mostram que o Brasil é o país com a segunda maior população negra do mundo, só ficando atrás da Nigéria, e que Pernambuco tem 62% de seus habitantes autodeclarados negros. “Nenhuma questão social pode ser debatida sem a discussão racial”.

Esse ponto também fez parte da fala de Deila Martins, do Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares. A representante do Gajop criticou as ações violentas da Polícia Militar em relação aos negros e o crescente encarceramento das mulheres negras que vivem em condições precárias nas unidades prisionais. “Na Colônia Penal Feminina do Recife (antigo Bom Pastor), existem 630 mulheres quando a capacidade é para 270. Sem reconhecer o racismo, não é possível combatê-lo”.

Um combate que na visão de Mônica Oliveira, da Rede de Mulheres Negras, não pode ser feito individualmente. “O racismo só se enfrenta no coletivo. Junte-se aos seus, junte-se as suas e lute”. Ela também falou sobre o regime de cotas nas universidades. “O racismo  opera cotidianamente para que não funcione. O racismo define lugares na sociedade brasileira e a universidade não é um deles”, explicou Mônica lembrando que essa conquista foi fruto de um movimento que durou décadas.

As dificuldades em ter acesso à educação também foi abordada por Silvia Maria de Souza, do Centro de Estudos Bíblicos (Cebi). “Fui a primeira da minha família a passar no vestibular. Ingressei em Biomedicina na Federal. No primeiro dia de aula, o professor disse: ‘finalmente uma negra na sala de aula’. Todo mundo olhou para trás e foi aí que eu vim entender que ser negra não era só aquilo que me diziam, ‘tu é feia, tem um cabelo ruim’. Senti na pela o que era ser negra e pobre”. Silvia contou também que estudava na casa de uma colega branca e ‘rica’ para aproveitar os livros dela e mesmo assim teve que abandonar o curso para trabalhar e ajudar a família.

Os homens da mesa foram os últimos a falar. Anderson Bezerra da Silva, do Fórum Juventude Negra e do Coletivo Cara Preta, criticou o tratamento discriminatório dos órgãos de segurança aos negros pobres e a ausência de políticas públicas para o jovem como forma de prevenção dessa violência. “Eles estão sendo mortos por quem deveria os estar protegendo. É muito importante trazer essa discussão à tona.”. O gesto de escutar e compreender o outro foi o que defendeu o coordenador do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas (Neabi) da Unicap, Pe. Clóvis Cabral. “Não acredito que a gente vai avançar se não discutirmos o racismo no Brasil”.

Cultura – A batida do maracatu ecoava lá fora até que o público presente no auditório G1 se surpreendeu com a entrada marcante do grupo Kalinas. A apresentação empolgante fez parte do momento cultural da solenidade de abertura da 15ª Semana da Mulher na Universidade Católica de Pernambuco, que também contou com a participação de Surama Rheis e Percy Marques. Os músicos interpretaram a música O Canto das Três Raças, composta por Mauro Duarte, Paulo César Pinheiro e eternizada na voz de Clara Nunes.

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