Boletim Unicap

Colóquio promove mesa-redonda sobre revolução passiva e filosofia política latino-americana

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Tadeu, João e Afonso

O 3º Colóquio de Ética e Filosofia Política da Católica promoveu, na noite desta quinta-feira (19), no auditório do Centro de Teologia e Ciências Humanas (CTCH),  uma mesa-redonda com o coordenador da especialização em Ciência Política da Unicap, Prof. Dr. Afonso Chaves, e com o vice-coordenador do Mestrado em Ciências da Religião da Católica, Prof. Dr. José Tadeu. A mediação foi do Prof. Dr. João Evangelista, do curso de Filosofia da Universidade.

Afonso tratou do tema Sociedade Civil: democracia e revolução passiva. Ele partiu do pensamento do filósofo Gramsci, que construiu conceitos que analisam a relação das sociedades contemporâneas com crises. O pesquisador da Católica tomou como ponto inicial da sua explanação uma frase muito repetida durante os protestos a favor do impeachment da presidenta Dilma Rousseff. “Eu quero meu Brasil de volta”.

IMG_1309“Que país é este que quer ser resgatado?”, indagou Afonso ao responder que é possível “ver que país é este a partir dos primeiros dias do governo Temer”. O professor mencionou declarações de ministros que, segundo ele, apresentaram discursos de incentivo à iniciativa privada, a exemplo de possíveis redimensionamentos no Sistema Único de Saúde (SUS) e cobranças de mensalidades em universidades federais. “A universalização de políticas públicas inclusivas está ameaçadaa”, opinou.

Afonso citou ainda um termo cunhado pelo sociólogo Thomas Popkewitz inclusão pelas margens. Ele ilustrou este conceito dando como exemplos a inclusão de mulheres, pobres e negros  no acesso à educação superior a partir da Lei de Diretrizes e Bases (LDB) de 1996, inclusive com a interiorização deste ensino. “Os primeiros passos desse ‘país resgatado’ indicam que haverá um freio nessas políticas”, disse ele.

O professor foi buscar no conceito de Revolução Passiva de Gramsci explicações para a atual conjuntura do Brasil. “Este termo significa um pacto entre as elites para fazer valer seus interesses, deixando de lado os interesses dos mais pobres. A chamada revolução passiva não traz mudanças efetivas e não incluem todos os estratos sociais.”

Ele citou como exemplo de revolução passiva a unificação italiana e como contraste  a este conceito a Revolução Francesa. “No caso da França, tivemos a queda da aristocracia e a ascensão da burguesia. Houve uma mudança de comando do destino daquela sociedade”.

No âmbito nacional, Afonso destacou que a história do Brasil apresenta vários episódios de revolução passiva, a exemplo da Revolução de 30 e o momento atual. “A revolução passiva não muda nada, ela conserva. É preciso que tudo mude para que tudo continue a ser como sempre foi”.

IMG_1311Em outro momento da mesa-redonda, o professor José Tadeu abordou A Filosofia Política Latino-americana. A explanação dele girou em torno do pensamento do filósofo argentino Enrique Dussel, considerado por Tadeu um interlocutor dos filósofos vivos do século 20.

Tadeu falou sobre a teoria dusseliana chamada Arquitetônica Categorial. De acordo com o professor, este conceito trabalha a dialética entre dominador x dominado. De acordo com Tadeu, Dussel afirma que a construção da cultura ocidental não leva em consideração a oriental. A negação do pensamento anteriormente existente seria uma reação originária dessa forma de poder”.

Ele se utiliza de acontecimentos históricos para explicar tal conceito. “Não houve descoberta das Américas porque astecas, incas e maias já existiam muito antes das comunidades europeias. Esta narrativa histórica foi construída a partir do colono, desprezando o conhecimento anterior”.

Ainda segundo Tadeu, Dussel apresenta uma concepção diferenciada sobre povo. “Diferentemente do significado sociológico enquanto nação, classe e etnia, povo, segundo Dussel seria a potência de um elemento transformador. Já os políticos, são tidos como potestas, os guardiões da legitimidade do poder”.

Tadeu ainda apresentou uma vertente um tanto positivista da corrente da Filosofia Política Crítica de Dussel como sendo um projeto de ética para a libertação. “É a única que reage, que apresenta uma alteração. Coloco como exemplo os operários associados, as mulheres da Praça de Maio na Argentina, a CUT enquanto visão crítica do trabalho.  São frentes que elaboram um diagnóstico que incitam uma posição. Dussel afirma que o povo é sujeito histórico das mudanças possíveis”.

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