Boletim Unicap

Chris Nolasco lança CD Pele Negra

Por Thiago Benevides

A cantora e compositora Chris Nolasco apresenta seu primeiro CD solo, Pele Negra, num show de lançamento, no próximo domingo (29/05), às 19h, no Teatro de Santa Isabel. Chris Nolasco já participou de gravações de artistas locais e até internacionais e canta profissionalmente há mais de dez anos, acompanhando outros cantores e grupos. Sempre ao lado de grandes nomes. Tem inúmeras canções compostas. Algumas já registradas e outras ainda guardadas, elementos só dela, em estado de pura maturação, como gosta de dizer.

Com produção executiva da própria Chris Nolasco, Pele Negra traz dez faixas e mais um remix de uma das músicas, assinado pelo DJ BIG, que também é responsável pela produção do show de lançamento do CD. As dez canções do álbum – quase todas inéditas – falam das belezas do Recife, da força e da sutileza da alma feminina, das raízes africanas e muito de amor. Numa bem sucedida mistura, a cantora explora manifestações culturais afro-brasileiras como o ijexá, maracatu e samba e também o jazz e o blues, que sempre a encantaram. Os arranjos são suaves e bem cuidados, mostrando que houve sensibilidade e elaborado estudo no tocante a escolha dos instrumentos utilizados para criá-los. Os arranjadores Wallace Seixas, Marcos FM e Fernando Rangel seguiram um acertado caminho, valorizando o universo da música negra.

As letras são simples e ao mesmo tempo ricas. Com brandura e leveza, exploram o universo lírico de seus autores – em sua maioria pernambucanos –, como na canção Engulo Angola, do compositor Raphael Costa, que aborda as dificuldades ainda enfrentadas pelo negro na sociedade brasileira. Mas isso com sutileza no texto, sem palavras pesadas, ou clichês. Destaca-se nessa faixa a sensibilidade para o experimentalismo no arranjo com uma afinação alternativa (não convencional) para a guitarra semi-acústica.

À sua afinadíssima e melodiosa voz meso soprano, Chris Nolasco alia experiência e bom gosto musical, apresentando no CD Pele Negra um repertório bem elaborado. O álbum traz finos sambinhas nas faixas Ao povo do mundo chamado Recife; Oração para Santa Bárbara e Clara, canções do compositor André Mussalem, e Preto e Branco, de Chico Nunes. Além dos instrumentos que formam a base do samba, os arranjos das quatro canções ficaram leves e sofisticados com o uso de instrumentos inusitados para o ritmo a exemplo do cello, viola erudita, vibrafone e baixo fretless, muito explorado nas músicas compostas nos anos de 1970.

O tom poético do trabalho é marcante e enaltecido, a exemplo da letra escrita pelo poeta Walter Ramos para a canção Luz do Farol, musicada por Chris Nolasco. A receita se repete nas faixas Ainda Bem, um ijexá, escrita e musicada por Cláudio Ferreira e que no final é acompanhada pela poesia ‘A ver o Mar’, de André Mussalem e Originário das Águas, uma parceria de Chris Nolasco com Demétrio Rangel. O compositor também autor da dançante Pele Negra, que dá nome ao CD. Em outros momentos do CD há a presença do viés poético, como na faixa Clara, com a citação de parte da letra feita por Mussalem ao final da música e na participação especial do angolano Edilson Pascoal que fez um rap para o remix de Engulo Angola, na última faixa.

Parafraseando a letra da canção Voz, a voz de Chris Nolasco é “uma voz que acaricia”. Nesse envolvente blues, de autoria da artista, o arranjador Wallace Seixas teve a boa sacada de explorar o compasso composto em 6/8 (seis oitavos), bem mais elaborado que o compasso simples, naturalmente usado. Destaque ainda nessa faixa para a beleza da sanfona colocada por Cezzinha do Acordeon.

Sob a direção musical do talentoso músico recifense Hebert Lucena, o CD Pele Negra teve o patrocínio do Fundo de Incentivo à Cultura do Estado de Pernambuco (Funcultura-PE). O álbum teve ainda as brilhantes participações do maestro Edson Rodrigues (sax), João do Cello (cello), Tadeu Junior (surdo), Lucas dos Prazeres e Claudio Santana (percussão), Barreto (vibrafone), Ana Araújo (agbê), Nilson Amarante (trombone), Israel Silva (baixo fretless), Ricardo Brafman (violino), Sávio Santoro (viola erudita), Fernando Rangel (baixo acústico) e Scot Kettner. Amigo de Chris desde que a artista realizou sua primeira turnê internacional acompanhando a banda belga Think Of One, o americano gravou e enviou de Nova York a base de percussão leve para a música Originário das Águas, verdadeiro deleite para os ouvidos.

Saiba mais

Chris Nolasco, como é conhecida no meio artístico, nasceu em Feira de Santana, Bahia. Filha de pernambucanos, vive em Pernambuco desde os dois anos de idade e aqui criou sua identidade musical. Assim, seguiu nossos ritmos e desenvolveu seu universo artístico, experimentando a mistura dessa base com muito do jazz e até do blues, que sempre a encantaram.

Vinda de uma família marcada pela presença de músicos, Chris Nolasco herdou do pai e de um primo o gosto pelos sons tradicionais nordestinos e a cumplicidade com a música popular. O sobrenome artístico foi uma homenagem ao avô materno, Pedro Nolasco. Assistente social, graduada pela UFPE, Chris Nolasco é especialista em Etnomusicologia e produtora cultural. Estudou música na adolescência, quando teve o saudoso maestro Mário Câncio como seu professor e maior incentivador.

Com várias composições escritas, Chris sempre valorizou sua origem nordestina, afrodescendente, e traz em seu trabalho autoral forte influência das manifestações culturais, a exemplo do maracatu e afoxé, além do samba e chorinho. No meio artístico, a cantora ostenta respeitada bagagem, tendo se apresentado ao lado de talentosos e importantes artistas pernambucanos e estrangeiros, em palcos brasileiros e no exterior.

Por sua significativa ligação com o social, não só por causa da graduação, mas também por já ter realizado trabalhos na área de arte-educação para crianças de comunidades carentes do Recife, a cantora fará questão de distribuir uma boa quantidade de CDs junto a importantes instituições sócio-culturais de Pernambuco. Assim, Chris Nolasco vai distribuir cópias do seu CD no Centro de Educação Popular Maílde Araújo (CEPOMA) – Maracatu Nação Erê, Núcleo de Cultura Afro do Recife, Grupo Balé de Cultura Negra do Recife (Bacnaré), no Movimento Negro Unificado de Pernambuco (MNU-PE) e Ponto de Cultura Quilombo Urbano da Nação Xambá, em Olinda. Pelo que se pode constatar na bagagem profissional da artista e principalmente nesse belo primeiro trabalho, Chris Nolasco veio para ficar no cenário artístico e sua trajetória promete ser brilhante.

print

Compartilhe:

Deixe um comentário