Boletim Unicap

Católica recebe condecoração internacional na solenidade dos 60 anos

No mais belo teatro de Pernambuco, a Universidade Católica de Pernambuco celebrou seus 60 anos de fundação recebendo a condecoração máxima da Federação Internacional das Universidades Católicas (Fiuc), a medalha Ex Corde Ecclesiae. A comenda é um reconhecimento a instituições que se consagram como centros de ensino de excelência. A solenidade foi realizada no dia 27 de setembro, data do aniversário da Unicap, no Teatro de Santa Isabel, e contou com a presença do Secretário Geral da Fiuc, Professor Monsenhor, Guy-Réal Thivierge.

Na ocasião, personalidades e autoridades foram homenageadas pela Católica com a entrega do troféu Asa Branca. A ave símbolo do Nordeste aparece estilizada na logomarca da Unicap. Foram condecorados o governador de Pernambuco Eduardo Campos (representado pelo secretário de Educação, Anderson Gomes); o prefeito do Recife, João da Costa (representado pela assessora executiva da Secretaria de Educação, Irenice Bezerra); o Arcebispo de Olinda e Recife, Dom Fernando Saburido; e os reitores Amaro Lins (UFPE), Valmar Correa (UFRPE) e Carlos Calado (UPE). Também recebeu o troféu, o ex-reitor da Unicap Padre Theodoro Peters, numa homenagem especial pelos 20 anos em que esteve à frente da Reitoria da Unicap. Logo após a premiação, foram ouvidas as palavras do Secretário Geral da Fiuc e do Reitor, Padre Pedro Rubens. Em seguida, houve a exibição do vídeo institucional comemorativo aos 60 anos da Unicap.

A solenidade, que lotou o Santa Isabel, teve início com música e terminou com música. O recital “A Música Coral nas Reduções Jesuítas”, apresentado pelo Madrigal Marlos Nobre, regido pelo Irmão Lindbergh Pires, abriu o evento, que foi encerrado com a apresentação do grupo MPB Unicap, que fez uma viagem no tempo com repertório incluindo sucessos das décadas de 40, 50, 60, 70, 80, 90 e 2000, a exemplo de “Asa Branca” (Luiz Gonzaga/Humbeto Teixeira), “Eu só quero um xodó” (Dominguinhos e Anastásia), “Coração bobo” (Alceu Valença) e Leão do Norte (Lenine).

Ainda na terça-feira (27), às 11h, foi realizada uma missa em Ação de Graças no Santuário de Nossa Senhora de Fátima, no Liceu Nóbrega, celebrada pelo presidente da Conferência Nacional de Bispos do Brasil Regional Nordeste 2, dom Genival Saraiva de França. Houve participação do Arcebispo de Olinda e Recife, Dom Fernando Saburido, e dos seminaristas. Um pouco mais cedo, às 9h, estudantes, professores e funcionários foram recepcionados no hall do bloco G com um bolo presenteado pela Bunge Alimentos.

Confira abaixo o texto do discurso do Reitor, durante o evento:

Universidade Católica de Pernambuco 60 anos: “nascida do coração da Igreja, a Unicap pulsa no coração da sociedade”

No cenário da bela cidade do Recife, capital multicultural do Nordeste, emoldurado pelo decoro deste magnífico Teatro de Santa Isabel, comemoramos o 60º aniversário da Universidade Católica de Pernambuco. Ao longo deste ano, celebramos este jubileu com pequenos e grandes eventos, mas, principalmente, com a renovação de nosso projeto institucional; na manhã de hoje, no santuário Nossa Senhora de Fátima, rendemos graças a Deus e a todos que fazem parte desta bela história; cumpre, agora, solenizar mais uma ação de graças, nesta casa, panteão da arte e da beleza, entre o Palácio do Governo e o Palácio da Justiça, na Praça da República e não muito longe da Assembleia Legislativa.

Todo este contexto é muito significativo e marca, sobretudo, o nosso compromisso com a sociedade democrática, a partir de Pernambuco, mas olhando para os horizontes que as águas de tantos rios nos indicam. Que neste cenário ecoem os sentimentos de gratidão de toda a nossa comunidade acadêmica e, ao mesmo tempo, que possamos reafirmar a identidade e missão da Unicap. Para esse fim, recorrerei a quatro metáforas principais: a flauta, o coração, o rio e o passarinho.

1. Com a flauta evoco a realidade do Brasil antes da chegada dos portugueses e o início da pedagogia jesuíta de educação e evangelização. A peça mais importante de nosso Museu de Arqueologia, descoberta na Furna do Estrago, no município do Brejo da Madre de Deus; trata-se do esqueleto de um homem sepultado ao lado de uma flauta de osso: por isso recebeu o nome de “o flautista”. O conjunto compõe um cemitério indígena e representa um dos acervos arqueológicos mais importantes do Brasil, datado de mais de dois mil anos. Há pouco mais de cinco séculos, com os portugueses, vieram também os missionários evangelizadores, dentre os quais os jesuítas. No filme, “A Missão”, as primeiras cenas mostram um jesuíta chegando com uma flauta na mão: ele não conhecia a terra, não sabia a língua, ignorava a cultura. A flauta e a arte foram os primeiros instrumentos de evangelização e da educação.

Por mais que contestemos o contexto ambíguo deste início, contento-me em contemplar as possibilidades pedagógicas de um diálogo entre o indígena flautista, que viveu nas terras pernambucanas e o missionário jesuíta, embora eles jamais se tenham encontrado nem no tempo nem no espaço. A arte de educar passa pelo encontro que aproxima as pessoas antes da primeira palavra e é capaz de construir cidadania, desde as reduções jesuítas do passado às nossas universidades contemporâneas. Os riscos continuam, embora diferentes, mas não menos desafiadores.

O complexo educacional da Unicap compreende hoje uma rede de projetos educativos que vão da educação popular à pós-graduação, do ensino básico e profissionalizante ao ensino superior. Merece destaque o Liceu Nóbrega, em convênio com a Secretaria de Educação do Estado de Pernambuco; o Movimento de Educação Popular Fé e Alegria, em parceria com os Jesuítas do Brasil; a gestão do Espaço Criança Esperança, em parceria com a Unesco, Rede Globo e Prefeitura Municipal de Joboatão; a Formação de Professores, em parceria com a Prefeitura da Cidade do Recife, além de inúmeros projetos de Extensão, somente para citar algumas parcerias operativas de nossa arte de educar como universidade a serviço da sociedade.

Além desses convênios que nos permitem parcerias para execução de projetos diversos, temos uma “parceria afetiva” com a Arquidiocese de Olinda e Recife e várias outras dioceses do Regional Nordeste II da CNBB, graças à abertura e iniciativa de nosso pastor, Dom Fernando Saburido, a quem queremos agradecer pela confiança depositada, bem como encorajá-lo a continuar esse diálogo dentro da Igreja e com a sociedade pernambucana, a serviço do povo de Deus.

Que o “sopro do tempo” nos inspire a orquestrar os nossos desafios sintonizados com a contemporaneidade, sensíveis às “angústias e esperanças” de um mundo, por um lado, globalizado e interconectado, mas, por outro, ameaçado de perder o senso de humanidade.

2. A segunda metáfora é o coração, em sinal de agradecimento à medalha de honra que a Unicap acaba de receber da Federação Internacional de Universidades Católicas (F.I.U.C.), das mãos de nosso Secretário Geral, Monsenhor Guy-Réal Thivierge, na pessoa de quem gostaria de manifestar a nossa gratidão com um caloroso aplauso: muito obrigado, de coração. Não apenas somos membros de uma associação que congrega 215 universidades católicas em todos os continentes, mas nos sentimos protagonista dessa “rede de redes”, participando dos mais diversos projetos e desenvolvendo a vocação universal no seu sentido mais pleno. A medalha Ex corde ecclesiae representa um selo de qualidade internacional e uma efetivação de nossa pertença.

A denominação dessa Medalha, maior condecoração da Federação a uma Universidade, evoca o título da Constituição Apostólica do Papa João Paulo II, de 1990, carta magna das Universidades Católicas, que definiu sua identidade e missão: “nascida do coração da Igreja, a universidade católica insere-se na tradição que remonta à própria origem da universidade como instituição, revelou-se sempre um centro incomparável de criatividade e de irradiação do saber para o bem da humanidade” (ECE, 1).

A Universidade Católica nasceu de uma tradição cultural da qual o cristianismo faz parte e, portanto, é expressão de um desejo deliberado da Igreja, em seu papel evangelizador – entenda-se “educador” – em diálogo com a cultura e a sociedade da qual faz parte. Nascida do coração da Igreja, a Universidade Católica pulsa no coração da sociedade para que essa se torne, cada vez mais, sinônimo de humanidade. Para tanto, toda universidade católica, “gozadaquela autonomia institucional que é necessária para cumprir, eficazmente, suas funções, e garante, aos seus membros, a liberdade acadêmica na salvaguarda dos direitos do indivíduo e da comunidade, no âmbito das exigências da verdade e do bem comum” (ECE, 12).

A Unicap, fazendo eco à Constituição Apostólica da Igreja, iniciou um processo de elaboração de sua “Carta de Princípios”, concluída em 1995, sob a batuta de Pe. Theodoro Peters, jesuíta que cumpriu o maior mandato de reitor, de 1986 a 2006: aproveito para, em nome da Unicap e da Província Jesuíta do Nordeste, agradecer pelo seu grande legado. Nossa universidade foi caracterizada, então, como: uma universidade genuinamente nordestina, de natureza comunitária, inspirada na visão cristã do mundo e do ser humano, segundo a tradição pedagógica jesuíta que aspira à qualidade acadêmica visando à excelência humana.

3. A terceira metáfora é a do rio, seja pelo que eles significam no Recife, seja pelo que esse símbolo evoca de vida. Embora Pernambuco seja uma terra de grandes poetas e escritores, peço licença para citar Guimarães Rosa e sua bela expressão “a terceira margem do rio”. A Unicap pode contar sua história como busca dessa terceira margem, desde a sua natureza jurídica aos anseios mais profundos de estudantes, professores, funcionários e jesuítas.

A Católica é uma universidade comunitária e, no contexto nacional, nossas instituições representam o “terceiro setor” da educação e reivindicam um marco regulatório para fazer valer os direitos que a Constituição Federal assegura, para além da polarização falseada entre público e privado.

De toda sorte, a Unicap postula:

– entre estatal e particular, as universidades comunitárias são um “bem público”, que, por um lado, são vigilantes quanto ao risco de elitismo da Educação Superior estatal e, por outro lado, precisam resistir aos imperativos do mercado e a liberalização do ensino;

– entre a secularização e os fundamentalismos, a proposta das universidades jesuítas baseia-se sobre a lucidez de um humanismo aberto à transcendência, em diálogo com as culturas, as religiões e as diversas mentalidades;

– entre o realismo fatalista e as utopias idealistas, as universidades de inspiração cristã postulam a construção da esperança a partir de projetos históricos sustentáveis, inclusivos e inovadores;

– entre os avanços tecnológicos e as ideologias de mercado, nossa universidade aposta numa formação humana e profissional voltada para a região, mas aberta ao mundo de possibilidades, à condição de criarmos oportunidades, sobretudo para os mais pobres.

Esses são alguns elementos de nossa identidade e missão que nos lançam corajosamente rumo à “terceira margem do rio”, traduzindo os sentimentos oceânicos que nos habitam, sobretudo na “Veneza brasileira”.

4. Concluo, finalmente, com a metáfora do passarinho, a Asa Branca.

Logomarca da Católica de Pernambuco, essa pombinha nordestina é um símbolo da resistência de nosso povo, além de ser ícone do Espírito Santo, da liberdade e da paz. Com essa insígnia que nos inspira, queremos homenagear alguns daqueles que representam a nossa gratidão à Igreja, à Companhia de Jesus, às universidades parceiras, à cidade e ao Estado. Antes das homenagens, porém, importa dizer que, agradecidos, queremos alçar novos voos, rumo a novas fronteiras, pelo menos vislumbrando o jubileu de diamante, daqui a quinze anos.

De fato, o horizonte de nossa missão pode ser expresso na busca de novas fronteiras, conforme o apelo da Igreja e da Companhia de Jesus, em sintonia com as questões de nosso tempo. Por ocasião da 35ª Congregação Geral da Companhia de Jesus, com a representação de todos os jesuítas do mundo em Roma, em 2008, o Papa Bento XVI reafirmou a missão jesuíta nos seguintes termos: “A vossa Congregação realiza-se num período de grandes mudanças sociais, econômicas e políticas; de acentuados problemas éticos, culturais e ambientais, de conflitos de todos os tipos […]. Como várias vezes vos disseram os meus Predecessores, a Igreja tem necessidade de vós, conta convosco e continua a dirigir-se a vós com confiança, de modo particular para chegar àqueles lugares físicos e espirituais aonde os outros não chegam ou têm dificuldade de chegar. Permaneceram gravadas no vosso coração essas palavras de Paulo VI (Discurso por ocasião da XXXII Congregação Geral, 3 de Dezembro de 1974): “Onde quer que, na Igreja, também nos campos mais difíceis e de vanguarda, nas encruzilhadas das ideologias e nas trincheiras sociais, tenha havido e haja o confronto entre as exigências ardentes do homem e a mensagem perene do Evangelho, lá estiveram e estão presentes os Jesuítas”.

As palavras de Bento XVI são, para nós, um encorajamento e um desafio, sobretudo porque as “novas fronteiras” não são apenas geográficas, nem sempre são visíveis, muito menos estão definidas. A congregação respondeu ao desafio, lançando as perspectivas da missão jesuíta em geral e, em 2010, no México, representantes de universidades jesuítas do mundo inteiro especificamos as orientações para o mundo acadêmico: em suma, assumimos o compromisso de enfrentar a exclusão provocada pela globalização, de repensar o ministério educativo e de criar redes de parcerias operativas.

Essas palavras inflamam o nosso coração de jesuítas e colaboradores da Unicap, como um apelo a irmos ainda mais longe do que fomos até hoje, atentos ao grito de tantos empobrecidos, sensíveis às grandes causas humanas e críticos em relação a toda ideia ou prática que não promovam a dignidade do ser humano, imagem semelhança de Deus, nem cuidam do mundo com a responsabilidade requerida (“a natureza geme e sofre, como em dores de parto”, segundo o apóstolo Paulo).

E o fato de a Católica estar em Pernambuco, lugar de tantos pioneirismos no passado e de tanto dinamismo no presente, é um motivo a mais para descobrirmos novas oportunidades e para nos lançarmos rumo ao futuro, cheios de projetos, sonhos e esperanças.

Reafirmamos, portanto, diante de todos vocês, colaboradores, amigos e parceiros, a nossa missão primeira, aquela que não envelhece com o tempo, a saber: buscar a qualidade acadêmica visando à excelência humana.

Pedro Rubens

Reitor da Unicap

Teatro Santa Isabel, 160 anos

Recife, PE, 27 de setembro de 2011

 

 

 

 

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