Café com Marx realiza lançamento de livro sobre a Ditadura no Quinta em Ritmo e Poesia

O grupo de estudos Café com Marx, da Universidade Católica de Pernambuco, realizou, em parceria com o Quinta em Ritmo e Poesia, o lançamento do livro Informação, Repressão e Memória: A construção do estado de exceção no Brasil na perspectiva do DOPS-PE (1964-1985), de autoria da pesquisadora e professora da Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE, Marcília Gama da Silva. O evento aconteceu no final da tarde desta quinta-feira, dia 30, no hall do bloco G da Católica.

A obra é fruto de 18 anos de pesquisa no acervo do DOPS Pernambuco, que está no Arquivo Público Estadual Jordão Hemereciano. A autora, Marcília Gama da Silva, fez parte da equipe de transição do acervo da antiga Secretaria de Segurança Pública – SSP, atual Secretaria de Defesa Social – SDS, onde trabalhou na catalogação, higienização e organização do acervo. Posteriormente, surgiu a necessidade de fazer uma pesquisa para saber que estrutura era essa e a partir da pesquisa, do aprofundamento da Polícia Política de Pernambuco, a autora fez sua dissertação de Mestrado sobre a Era Vargas, de 1930 a 1945, e a tese de Doutorado abordando de 1964 em diante.

Segundo a autora, o acervo dava a ela uma outra perspectiva apontando para uma Rede de Informação que cruzavam todas as pessoas consideradas subversivas ou que eram simpatizantes de algum partido de esquerda. “A partir daí, eu fiz um levantamento do que eram esses órgãos de informação e levantei uma estrutura muito complexa de órgãos de informação de segurança que é a base de minha tese de Doutorado. A minha tese de Doutorado foca na ideia que só foram possíveis os 21 anos de Ditadura nesse país, graças a existência dessa Rede de Órgãos de Informação e Segurança atuando em nível nacional, não só nas prefeituras, no estado, como no Governo Federal. Assembleia Legislativa, todas as câmaras, Senado coordenados pelo SNI. Quem atuava nessa Rede não eram só os militares, havia uma coparticipação da sociedade e no livro eu aponto vários momentos em que isso ocorreu por pessoas que você nem imagina. Pais apontando os filhos, porque queriam eles dentro de um grupo que era considerado dentro dos padrões sociais da época. Então qualquer pessoa que desvirtuasse dessa ordem era considerado subversivo. Hotéis entregaram hóspedes, taxistas entregaram passageiros”, disse Marcília  Silva.

O livro relata uma passagem na Universidade Católica de Pernambuco. “Aqui na Católica tem um caso muito interessante que foi de uma infiltração no movimento estudantil daqui, que era muito forte, diga-se de passagem, de um PM da 2ª Informação da Polícia Militar, que estava disfarçado de estudante da Católica e passando todas as informações de uma mobilização que estava aqui numa passeata que ia acontecer no Dia 7 de Setembro. Ele é denunciado por alguém que o reconhece, ele é preso pelos estudantes aqui na Católica. Isso vai trazer uma celeuma aqui, os meninos arrumando a propaganda para o Dia 7 de Setembro e o material, que era badoque (estilingue). Isso vai parar no 4º Exército. Há um receio de um ataque aqui do pessoal da PM. Cercam o prédio e há uma evasão dos estudantes conseguindo escapar do cerco”, relata a autora.

O livro Informação, Repressão e Memória: A construção do estado de exceção no Brasil na perspectiva do DOPS-PE (1964-1985), da Editora UFPE, contem 346 páginas e está à venda nas livrarias da cidade e pela internet.

O Café com Marx é um grupo de estudo da Universidade Católica de Pernambuco, que tem como coordenadora a professora do Centro de Ciências Sociais – CCS, Vera Borges de Sá. Nele, são feitas palestras sobre temas relacionados ao Marxismo; são trazidas as dissertações de Mestrado e as Teses de Doutorado dos professores que trabalharam com essa linha e são apresentadas palestras a serviço do conhecimento dos alunos.  O grupo trabalha, em parceria com o Cine Revezes do curso de Jornalismo, promovendo filmes que abordam questões de desigualdade social, direitos políticos, tudo dentro da filosofia do Café com Marx.

“O Café com Marx existe há dois anos e a frequência das pessoas no grupo de estudo da Católica acabou se estendendo e ele está quase como um grupo de extensão porque vem pessoas de outras universidades participar das nossas atividades. A característica do grupo é que ele não é fechado, ele é um grupo de estudos aberto a quem queira participar. Então você vem participa, escuta os temas, debate com os professores. No princípio era um grupo de difusão do conhecimento nessa temática do Marxismo em várias áreas interdisciplinares, como Filosofia, Sociologia e História”, explicou  a coordenadora do grupo, Vera Borges de Sá.

Além do lançamento do livro, o Quinta em Ritmo e Poesia, coordenado pela professora Haidee  Camelo Fonseca, teve como atração o poeta Chico Pedrosa, que declamou os poemas de sua autoria “Santo Protetor” e “A Briga na Procissão” e em seguida teve a apresentação da banda Atividade Paralela, do aluno de História da Católica Will Lopes. A banda formada por quatro integrantes interpretou músicas do rock nacional dos anos 80 e 90, como Legião Urbana, Cazuza e Titãs. O público era formado por alunos, funcionários e professores da Católica e visitantes como a professora de História do Ensino Médio do Amapá, Mikaela Araújo, acompanhada por alunos.

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