As Marias das Paixões de Cristo de PE
|A história da crucificação e ressurreição de Cristo traz à tona também o protagonismo feminino. Seja na controversa Maria Madalena ou na ligação afetiva entre Jesus e sua mãe, Maria de Nazaré, essas personagens despertam as mais variadas reações seja nos fiéis religiosos ou no público leigo. Ao longo de mais de 2000 anos, a trajetória dessas duas mulheres vem sendo encenada ao redor do mundo.
Aqui em Pernambuco, caberá à professora do curso de Jornalismo da Unicap e atriz Stella Maris Saldanha interpretar Maria de Nazaré na Paixão de Cristo de José Pimentel, em Olinda. No começo do ano, ela defendeu dissertação de mestrado em Ciências da Religião na qual desenvolveu pesquisa relacionando a área ao teatro. Já a também atriz Nínive Caldas vai fazer a sua estreia no papel de Maria Madalena, na Paixão de Cristo de Nova Jerusalém, em Fazenda Nova.
O estudante de Jornalismo da Universidade Católica de Pernambuco, Júlio Cesar de Araújo, conversou com as divas. Elas falaram sobre a grandeza dos seus personagens e de suas emoções ao interpretá-los.
JCA: Stella, como está sendo essa experiência em fazer o papel de Maria de Nazaré na Paixão de Cristo de José Pimentel?
SM: Eu retorno ao papel de Maria há alguns anos, depois de já ter interpretado esse personagem em 1998 e 1999 na Paixão de Cristo de Nova Jerusalém. A primeira vez quando eu fiz, o Jesus, era Fabio Assunção, e a segunda vez, era Herson Capri.
JCA: É um reencontro com Maria? O que representa esse personagem para você?
SM: É um retorno ao personagem que eu acho riquíssimo, fortíssimo, porque é como se Maria, de alguma forma, representasse um pouco a dor de todas as mulheres do mundo que sofreram com os seus filhos aviltados, torturados, injustiçados. Perderam os filhos exatamente por desejarem o bem coletivo, em comum, o bem dos mais fracos, o bem dos humildes. Filhos que lutaram na verdade por um mundo mais humanizado. E acho inclusive que a dor de Maria se equipara a dor do próprio Cristo, ele na dor de ser torturado e ela na dor de ver o filho sendo torturado. É um corpo de um filho que é perversamente castigado. Ela presencia tudo isso. Então, eu acho que essa dor de Maria é muito simbólica, historicamente inclusive.
JCA: Foi em Olinda onde você iniciou a sua carreira como atriz de teatro, conta um pouco dessa história.
SM: Eu fiz os cursos regulares para formação em Olinda e lá eu apresentei os meus primeiros espetáculos. Então é um retorno duplo, eu estou voltando ao personagem muito gratificante, de interpretar uma força simbólica imensa e estou voltando à Olinda como atriz. Então tudo isso é muito bacana para mim. Bacana profissionalmente, afetivamente e, assim, é uma espécie de respiradouro nesse momento conturbado das nossas vidas brasileiras.
JCA: Nínive, como a personagem Maria Madalena chegou até você?
NC: Essa personagem chegou para mim através de um convite da Sociedade Teatral de Fazenda Nova, dos diretores Carlos Reis e Lúcio Lombardi, e de Robson Pacheco, um dos organizadores do teatro. Fiquei muito feliz em poder fazer essa personagem.
JCA: Qual o seu sentimento ao interpretar esse papel?
NC: O sentimento que eu tenho é do empoderamento feminino dessa mulher. Ela é muito, muito contemporânea. Essa mulher forte, poderosa que quebrou barreiras e que nos ajudou muito. Jesus foi muito generoso quando se apresentou para ela na ressurreição. Naquela época, as mulheres não tinham vez nem voz, nem nada. O testemunho de uma mulher não era válido. Então, ele se apresentar para ela e fazer que a voz de uma mulher valesse foi muito importante. E o sentimento que vem é do sagrado feminino, dessa mulher que carrega essa força feminista, essa grande possibilidade de força, de dizer: eu também posso ser forte, eu também posso ser empoderada. Isso vem de tanto tempo, e ainda estamos engatinhando, mas ela é uma grande referência para mim em relação a isso.
Nínive Caldas em Nova Jerusalém