Análise de discurso e Base Nacional Comum Curricular são tema de seminário promovido pelo PPG em Ciências da Linguagem
|As atividades da tarde desta segunda-feira (7) do seminário Em torno do Ensino da Língua Portuguesa: questões teóricas e aplicadas foram marcadas pela interação entre os alunos do mestrado e doutorado do Programa de Pós-graduação em Ciências da Linguagem da Católica. Convocados pela professora Maria Inês Batista Campos, eles analisaram as primeiras páginas de jornais impressos locais e nacionais.
A ideia era fazer análise de discurso a partir do gênero jornalístico identificando e aplicando conceitos de língua e linguagem. Professora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade Estadual de São Paulo (USP), Maria Inês tem entre os seus referenciais teóricos Mikail Bakhtin e Valetin Voloshinov.
“A análise deve vir acompanhada de dados linguísticos e não apenas de interpretação”, explicou ela ao apresentar a ordem metodológica proposta pelos linguistas russos que leva em consideração o contexto extraverbal (data de publicação, seção, autor), o contexto amplo (revista, perfil editorial e perfil dos leitores) e a inserção na prática social a partir do estudo da língua.
Inês também falou sobre o plano de Base Nacional Comum Curricular, que está sua terceira versão, e as consequentes transformações na política pública dos livros didáticos a partir da interferência de governos. Ela contou que essas mudanças remontam a época da ditadura. “Os militares mudaram completamente o ensino no País e começaram pelos livros didáticos”. Ainda de acordo com Inês, essa prática é típica de regimes autoritários. Ela contou que a Alemanha Nazista de Hitler, ao invadir a França, passou a controlar as editoras e a história da invasão era contada aos alunos franceses como sendo uma medida “progressista”.
A pesquisadora da USP explicou ainda que um documento com os parâmetros curriculares foi elaborado na década de 1990 e previa ajustes regionais. Já no final dessa mesma década, optou-se pela unificação curricular. A primeira versão do atual plano de Base Nacional Comum Curricular ficou pronta na gestão do então ministro da Educação Renato Janine Ribeiro “mas ela caiu junto com ele”. Uma segunda versão foi construída na gestão de Aloizio Mercadante e a terceira foi instituída na Era Temer.
A Base deve ser implantada em 2019 e em uma das diretrizes está proibido o ensino de História da Literatura. Segundo Inês, as mudanças na avaliação dos livros têm deixado as universidades de fora do processo, favorecendo ainda que indiretamente grupos do setor privado de educação. “Os editais não são mais elaborados por especialistas. Há um desmonte do livro didático para favorecer os apostilados”, frisou.
Esta é a primeira vez que a pesquisadora vem a Unicap. “Achei a Universidade extremamente bem organizada, uma excelente infraestrutura. Estou impressionada com a participação e envolvimento da turma. É gente que está querendo aprender com empenho e dedicação”.