Alunas da Católica são aprovadas em 1º e 2º lugares na seleção de mestrado da UFPB
|Após o excelente resultado na OAB, a Universidade Católica de Pernambuco continua colhendo frutos no curso de Direito. Luísa Câmara Rocha e Maria Júlia Leonel obtiveram o primeiro e o segundo lugar na seleção do mestrado da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), uma das mais concorridas do Nordeste.
Luísa Câmara abordou a masculinização das adolescentes que estão internadas em clínicas socioeducativas. Já Maria Júlia estabeleceu os conflitos vívidos por travestis nessas unidades. “Encontramos muitas dificuldades. Estávamos nos propondo a dizer que o direito não atingia algumas pessoas. Nós sabíamos que a realidade existia, mas foi bem chocante fazer pesquisas de campo sobre o tema”, ressaltou Luísa.
Confira a entrevista com as ex-alunas da Unicap:
Católica – Como foi que surgiu a ideia de se fazer uma pesquisa sobre assuntos tão delicados?
Júlia – O projeto começou ainda quando terminávamos o curso na Católica. Disciplinas como a de Criminologia Crítica, Biodireito,
Diversidade e Direito da Família nos mostraram outro lado, mais humano, evidenciando problemas sociais. Textos que lemos durante o curso foram essenciais para a formação do projeto. É bom que os estudantes saibam que não é inacessível fazer mestrado. Parece que as pessoas só fazem Direito visando o concurso público, e que a carreira acadêmica deve ser colocada em segundo plano. Não deve ser assim. Temos professores na Unicap que têm total capacidade de orientarem os alunos a seguir esse tipo de carreira.
C – Vocês poderiam dar mais detalhes sobre o projeto de cada uma?
Luísa Câmara- O meu tema foi a masculinização das adolescentes que estão internadas cumprindo medidas socioeducativas. Para assumirem a liderança dessas unidades, elas se masculinizam. Deixam de ser Maria, Joana e se transformam no “boy” (garoto) do local. É uma típica reprodução da lógica machista que o homem domina e a mulher é submissa. No entanto, esse fenômeno não é decorrente da opção sexual das meninas, não é porque elas são lésbicas. Até porque, quando saem da unidade, voltam a se portar dentro de padrões femininos. Era um assunto já conhecido, pois dentro dos espaços políticos que convivemos também existem mulheres que acabam se masculinizando, mas não de uma forma tão agressiva, para assumir algum tipo de liderança. Foi chocante.
Maria Júlia – Eu abordei o tema das travestis adolescentes em conflito com a lei, também em clínicas. Quando elas cometem um ato infracional, são enviadas para casas de saúde masculinas, ou seja, têm que tirar toda a identificação delas como mulheres, voltando a ser aquilo que a sociedade diz que é o certo, serem homens. Lá dentro, para fazer as atividades educativas da unidade, têm que fazer os trabalhos domésticos, ditos de mulher. São também estupradas por outros meninos. Tudo isso sobre a proteção do Estado, que se propôs a reeducá-las. Fica muito evidente como essas medidas socioeducativas são uma fachada para esconder da sociedade o que ela mesmo não quer ver. É uma forma de higienização.
Júlia Câmara – A principal lição que a gente tirou desse trabalho, que desenvolvemos e vamos dar continuidade no mestrado, é como não vivemos em um estado democrático. Como o direito é uma fachada, que nos faz acreditar que estamos em uma democracia. Nós sabíamos que a realidade existia, mas foi bem chocante fazer pesquisas de campo sobre o tema.
AGRADECIMENTOS
Luísa Câmara – Nós devemos agradecer à professora Carolina Ferraz. Uma pessoa com total disponibilidade, que fez esse diálogo com a gente entre a Universidade e os movimentos sociais.
Maria Júlia – Agradecer também a Érika Babini, que nos ajudou na escolha da temática e no desenvolvimento do projeto. Fez cada passo junto com a gente. De instruir, dar o subsídio emocional e nos ajudar em tudo que nós precisamos. Destacar também outras professoras da Unicap: Miriam Pereira, Marília Montenegro, Catarina Oliveira, Maria Rita e Andréa Campos. Foram elas que nos deram todo suporte e que nos ajudaram nessa caminhada.