Boletim Unicap

Alfonso Garcia Rubio realiza conferência de abertura da Semana de Teologia 2011

A Universidade Católica de Pernambuco, o Instituto Humanitas Unicap e o curso de Teologia promoveram, na noite da quarta-feira (25), no auditório G2, 1º andar do bloco G, a abertura oficial da Semana de Teologia 2011, que nesta edição tem como tema “O Cristianismo em Diálogo”.

Antes da conferência de abertura do professor Alfonso Garcia Rubio sobre “O Cristianismo em Diálogo com as Ciências”, teve a apresentação do Coral Recife em Canto, formado por funcionários, alunos e amigos da Católica, e um momento de oração realizado por alunos do curso de Teologia.

O coordenador da Semana de Teologia e coordenador do curso de Teologia, professor Cláudio Vianney Malzoni, deu as boas-vindas aos presentes. “Sejam todos bem-vindos, sejam todas bem-vindas para este auditório nesta abertura oficial da Semana de Teologia. Nós temos aqui no centro a fotografia de José Comblin. Nós começamos com uma homenagem a Comblin, que foi um dos mais importantes representantes da Teologia da Libertação. Ele faleceu no dia 27 de março. Comblin nasceu em Bruxelas, na Bélgica, em 1926, foi ordenado sacerdote em 1947 e doutorou-se em Teologia pela Universidade Católica de Louvain, na Bélgica. Trabalhou na América Latina, desde 1958. Foi assessor da Juventude Operária Católica e professor da Escola Teológica Dominicana de São Paulo, até o ano de 1962. Depois lecionou na Universidade do Chile. A convite de Dom Helder Camara veio para o Recife, foi professor aqui do Instituto de Teologia. A partir do ano de 1969, ele esteve à frente dos Seminários Rurais em Pernambuco e na Paraíba. A metodologia utilizada por ele ficou conhecida como Teologia da Enxada. Suas ideias o colocaram sob suspeita do Regime Militar e ele foi expulso do Brasil em 1971. Foi para o Chile, onde ficou oito anos. Foi expulso do Chile, em 1980, pelo Regime de Pinochet. Voltou ao Brasil. Aqui foi para o estado da Paraíba, em João Pessoa. Ultimamente, morava na cidade de Barra, no interior da Bahia. Um homem de vida simples, comprometido com uma Igreja humilde e acessível aos pobres. Lia muitos livros, escreveu muitos livros, doou a sua biblioteca para a nossa biblioteca aqui da Universidade Católica de Pernambuco. Nós temos uma grande gratidão a Comblin. Ainda vivo ele manifestou sua vontade que a sua biblioteca viesse para cá e está acessível a todos nós. Por isso, é nosso dever no início desta Semana de Teologia prestar homenagem a José Comblin”, enfatizou o professor Vianney, pedindo uma salva de palmas.

Em seguida, o Pró-reitor Comunitário e coordenador do Instituto Humanitas Unicap, Padre Lúcio Flávio Ribeiro Cirne, coordenou os trabalhos da noite. “Boa noite a todos vocês. Em nome do curso de Teologia e do Instituto Humanitas Unicap, eu gostaria de apresentar a vocês o professor, padre, grande teólogo, com mestrado e doutorado, tem desenvolvido excelentes trabalhos, grandes pesquisas no Brasil a fora. Uma coisa que eu gostaria de destacar do Padre Alfonso Garcia Rubio é que ele é um excelente pesquisador e professor, aliás, ele tem 52 anos de magistério e, desde 1968, ensina na PUC do Rio de Janeiro. Pois bem, gostaria de apresentá-lo, sobretudo, como amigo, amigo da PUC, amigo dos Jesuítas, amigo do Nordeste, amigo desta Universidade.  Meu querido amigo sinta-se bem-vindo, sinta-se em casa, muito obrigado por estar aqui com a gente.”

Alfonso Garcia Rubio possui Mestrado em Teologia pela Pontificia Universidade Gregoriana (1968) e doutorado em Teologia Sistemática pela Pontificia Universidade Gregoriana (1973). Atualmente é professor titular da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Tem experiência na área de Teologia, com ênfase em Teologia Sistemática, atuando principalmente nos seguintes temas: Antropologia teológica, Cristologia, diálogo Fé cristã e Modernidade/pós-modernidade e diálogo Fé-ciência. Em 2009, recebeu o título de Professor emérito da PUC/Rio.

O professor Alfonso apresentou, dentro do tema proposto pela Semana de Teologia “O cristianismo em diálogo com as ciências”, a conferência “A visão científica evolucionista interpela a fé em Deus criador”. Iniciou sua apresentação falando do conflito entre fé e visão evolucionista, no panorama atual.

“A explicação evolucionista da vida (e do universo) é aceita, entre os cientistas, de maneira quase universal. Evolução mediante mutações genéticas e seleção natural. A evolução, conforme a visão neo-darwiniana, implica: A) Grande quantidade de acidentes, de mudanças aleatórias, não dirigidas (o acaso). B) O mecanismo da seleção natural, cego, cruel, brutal, desapiedado (a necessidade). C) Exigência de uma enorme quantidade de tempo, para tornar possível o processo evolutivo.”

“Atitudes dos cientistas em relação à fé em Deus criador: Rejeição total na opção pela visão meramente materialista em conexão com o cientismo e, assim, com o ateísmo, mais ou menos militante; a opção pelo agnosticismo; atitude de abertura dialógica em relação de outros saberes (pluralismo epistemológico). E o deus bom, criador e providente?”

“Atitudes dos cristãos face à visão evolucionista: Incompatibilidade radical entre essa visão e a fé em Deus criador. O chamado criacionismo: leitura literal dos relatos bíblicos sobre a criação. A versão atual mais extrema: Criacionismo da Terra Jovem (Young Earth Criacionism –YEC) A explicação fixista: criação de cada espécie viva, no início, por separado e de maneira imutável.”

“Aceita a perspectiva evolutiva, como repensar a expressão cultural da fé em Deus criador?”

“Para a pessoa de fé, a explicação última do processo evolutivo é a criação divina. Isto em nada desautoriza a verdade contida em outros níveis científicos ( nível físico-químico, nível da herança genética, nível da seleção natural…)”

“Revisão da imagem do Deus onipotente desvinculado do Amor. Significado e eficácia do poder verdadeiro. A projeção em Deus de nossa visão do poder: controle, domínio. O Deus humilde revelado por Jesus Cristo (cf. Fil 2, 6-11; 2Cor 8,9…). Mas, não é um Deus impotente! O Deus da desconcertante auto-doação e do esvaziamento livre. Ora, o Deus da encarnação é o mesmo Deus da criação. Nesta, encontramos o mesmo dinamismo kenótico. Deus é tão poderosamente criador que faz com que o mundo se crie a si mesmo! (A. Gesché). Um mundo com potencial criativo para que possa se desenvolver a partir de si próprio.”

Revisão da imagem de Deus bom, criador e providente diante do tremendo desafio do mal. No processo evolutivo, quanta luta, violência, destruição e caos! Como um Deus bom pode criar um mundo onde a violência e a destruição estão tão terrivelmente presentes? Diante do mal: qual a atitude a assumir? A resposta da teodicéia tradicional e da primeira modernidade (o deus do deismo): na finitude da criatura, encontra-se a explicação racional do mal. A resposta da segunda modernidade, a modernidade da suspeita: morte de Deus para que o homem possa viver e morte do homem, pois sem Deus, o ser humano fica esmagado pelo peso do mal! Terceira modernidade: nova procura do divino. Que Deus viva para que o homem possa viver! (A. Gesché). Então, diante da nova procura do divino, onde encontrar o Deus vivo e verdadeiro?”

“Recuperação da figura histórica de Jesus de Nazaré, do dinamismo vivido por ele, fortemente aberto ao futuro escatológico, a serviço do Reinado de Deus, culminado na cruz-ressurreição. Recuperação da cristologia cósmica em conexão com a atuação do Espírito no interior de cada criatura e no cosmos todo. É nesse dinamismo que se revela o Deus original da kénosis, o Deus que persuade com o amor, no pólo oposto de toda dominação e coerção. O Deus que impulsiona para o Futuro (plenitude).”

“E o pecado original e a redenção? Profunda ambiguidade em que todos estamos imersos. Somos condicionados tanto pela abertura à vida e ao amor quanto pelo fechamento destruidor da vida, em todos os níveis. Mas, o mal está não apenas na desordem destruidora da vida, mas, igualmente, na monótona repetição do mesmo (injustiça)! Necessidade da salvação de Deus. Num mundo inacabado, a redenção como  “nova criação”, reconciliação do universo, superação do mal e plenitude da vida e do amor. Redenção atuando já, germinalmente, no presente. A aposta pelo futuro do ser  humano e do universo. Deus  bíblico da aventura, bem mais do que aquele que preserva o status quo!”

“Repensar o que significa ser humano. Valorizado pela capacidade de se decidir com liberdade (condicionada, mas real), de amar e de criar algo novo na história e no cosmos, aprendendo a lidar com a insegurança. Ressaltar a prioridade da liberdade e da criatividade sobre os determinismos da natureza, vivendo a atenção e o cuidado. No início, está o Deus criador: a liberdade e não a fatalidade é que guia o cosmos e a história humana. A natureza, o acaso e a necessidade fazem parte do processo evolutivo, mas, no início, está a liberdade amorosa de Deus. Repensar o significado do poder humano à luz do poder humilde do Deus criador-salvador. Implicações para a eclesiologia e para a pastoral.”

Professor Alfonso conclui sua conferência dizendo que não há contradição entre a fé em Deus criador e os resultados comprovados da ciência. Pode e deve haver complementação, mutuamente enriquecedora. “Não tenhais medo, nos fala hoje também o Senhor Jesus, vivo. O dom do Espírito supera o medo. É urgente enfrentar com coragem e discernimento os desafios da visão evolucionista do universo, da vida e do ser humano. Amém.”

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