Discurso do Reitor Prof. Dr. Padre Pedro Rubens pelo Jubileu de Diamente da Unicap
|Genealogia de uma Excelência anunciada
- Palavras do Reitor da Unicap –
Teatro Santa Isabel, 29 de setembro de 2018
Celebramos os 75 anos dos primeiros seis cursos que deram origem à nossa Universidade Católica de Pernambuco: assumimos, pois, neste Jubileu de Brilhante da Unicap, essa longa história como um grande patrimônio, ao mesmo tempo, material e imaterial, cultural e espiritual, “tão humano que é divino”, como diria Fernando Pessoa…
Marcada por pioneirismos e superações, a Unicap honra a história de Pernambuco: genuinamente nordestina, essa instituição de educação superior, ainda com um único campus, inscreve o Nordeste no cenário do Brasil e do mundo, mediante sua identidade católica e a marca da pedagogia jesuíta… Como bem destacou o Superior Geral dos Jesuítas, P. Adolfo Nicolas, “na cidade das pontes, a Unicap é uma universidade sem fronteiras”.
No âmbito nacional, a Unicap não apenas fez parte, mas foi protagonista de vários fóruns, como a antiga Associação Brasileira de Educação Superior Católica (ABESC), da qual o reitor Theodoro Peters foi presidente, liderança que se ampliou na rede latino-americana de universidades confiadas à Companhia de Jesus (AUSJAL). Igualmente foi a participação e protagonismos na Associação Brasileira de Universidades Comunitárias (ABRUC), à qual tive a honra de presidir. Tal exercício de liderança é, pois, comprovadamente institucional, da qual toda a comunidade universitária compartilha.
E, graças à atuação do Instituto Humanitas, nossa alma mater, a Católica de Pernambuco, vai se configurando cada vez mais como uma verdadeira universidade comunitária que não apenas trabalha a integração da comunidade e a transdisciplinaridade acadêmica, mas promove a “troca de saberes” ad intra e ad extra: na verdade, o nosso campus é a cidade e nossa atuação se traduz em cidadania, como tão bem expressam os diversos serviços prestados por todos os cursos.
Graças à sua vocação universal, verdadeira Universitas inspirada no humanismo cristão, a Unicap segue as grandes orientações da Igreja sobre a identidade e missão de uma universidade católica a serviço da sociedade. Comprovando o dito, recordo que neste mesmo Teatro, em 27 de setembro de 2011, recebemos a Medalha Ex Corde Ecclesiae, a mais alta condecoração da Federação Internacional de Universidades Católicas. Na sequencia, de 2012 a 2018, por dois mandatos consecutivos, fui o primeiro brasileiro eleito presidente dessa mesma instituição internacional que congrega hoje 230 universidades do mundo inteiro. Essa experiência não foi apenas pessoal, mas uma liderança de nossa universidade.
Esses sentimentos oceânicos, no entanto, além do componente universal próprio de toda universidade, carrega a marca da grandeza do povo pernambucano: nossa universidade, nascida do coração da Igreja, pulsa no coração do Recife, cidade das rebeliões libertárias e porto estratégico que nos conecta com o mundo inteiro… Trata-se de uma verdadeira obra coletiva que, mediante programas diversos de Ensino, Pesquisa e Extensão, constrói pontes entre gerações e classes sociais, entre instituições públicas e organizações não governamentais, transformando sonhos em projetos e projetos em realizações…
Providencialmente, celebramos esses 75 anos de superações e conquistas, com um salto qualitativo, cheio de significações: como sabem, a Unicap acaba de ser avaliada, segundo as mais rigorosas exigências do Ministério de Educação e Cultura, conquistando o conceito cinco, a nota máxima para uma universidade no Brasil. Isso significa, em poucas palavras, que alcançamos o patamar da excelência universitária.
Para nós, porém, segundo uma expressão da missão jesuíta, “a excelência acadêmica visa à excelência humana”. Nossa missão não é, portanto, formar elites intelectuais nem classes dominantes para manter o status quo; não se trata apenas de instruir nem somente de incluir pessoas, mediante um curso superior e uma profissionalização, por mais que isso seja necessário. Trata-se, sobretudo, de apostar nas pessoas e na possibilidade de transformação de suas vidas e, igualmente, na capacidade de transformar a sociedade e o mundo em uma verdadeira humanidade, cuidando da casa comum e inaugurando novos tempos.
O momento atual brasileiro é muito crítico, palco de muitas crises justapostas: crise de civilidade, crise de cordialidade, crise de esperança… Desencanto que vira a mesa da razão, argumentos que beiram a irracionalidade, reações que envergonham e preocupam. Parece que o nosso complexo de vira-lata, os preconceitos velados e a agressividade bruta vieram à tona todos ao mesmo tempo e foram, exponencialmente, ampliados pelas redes sociais… Eis, portanto, um dos maiores desafios que a Unicap terá que assumir como missão própria nos próximos anos.
Ao celebrarmos os 75 anos da Unicap, estamos convictos de que essa história de pioneirismos e superação de nossa universidade reclama de nós, mais uma vez, a atitude responsável com o tempo presente. Como sinal de nosso compromisso histórico, criamos, recentemente, o Instituto Politeia com a vocação específica de elevar o debate político ao nível universitário, promovendo uma reflexão contínua e aprofundada sobre a vida na Polis, na cidade que hoje tem o perímetro de uma aldeia global. E ainda este ano, lançaremos um novo curso: o curso de Ciências Políticas da Unicap. “O Brasil não é para principiantes”, como dizia Tom Jobim; em todo caso, não podemos colocar em risco a perda das construções democráticas em nome da barbárie. Como diz o samba de Ivan Lins, “desesperar jamais, aprendemos muito nesses anos…” Por mais que seja difícil este momento, ele não matará nossa esperança. Segundo o dito popular “a esperança é a última que morre”. E, segundo o apóstolo Paulo, a esperança cristã é “esperar contra toda esperança”…
Enfim, para não roubar mais o tempo dedicado artistas que abrilhantarão essa comemoração, concluo, olhando para vocês que espelham a beleza de nossa comunidade universitária, e recordo um fragmento da poesia de Carlos Drummond de Andrade, Canção amiga, de 1948:
“Minha vida, nossa vida, formam um só diamante;
aprendi novas palavras e tornei outras mais belas…”
Com essa imagem poética, concluamos a celebração de nosso Jubileu de Brilhante, lembrando que um brilhante não é senão um diamante lapidado… De fato, a Universidade Católica de Pernambuco não é um diamante bruto, mas uma pedra preciosa lapidada por sua história, entrecortada de crises e, sobretudo, de superação.
Alcançamos o conceito cinco, nota máxima e estamos brilhando de felicidade, reluzindo nos olhos a alegria de uma missão cumprida… Mas, não menor é a convicção de que precisamos continuar lapidando esse diamante para que a Unicap se revele sempre mais como um verdadeiro brilhante. Pois, como diz Caetano Veloso: “Gente nasceu para brilhar…”
Concluo com uma palavra que aprendi a tornar bela: gratidão.
- Agradeço aos que fazem a comunidade universitária: aos funcionários, a dedicação que assegura os atendimentos, desde os trabalhos mais básicos aos mais complexos; aos colegas docentes, obrigado pela colaboração no exercício da desafiadora missão de integrar ensino, pesquisa e extensão; aos estudantes que, com jovialidade e inquietude não permitem a Unicap envelhecer nem nos acomodar…
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Permitam-me aqui fazer um recorte e agradecer, dentro da comunidade universitária, a todos os companheiros jesuítas em missão na Unicap: como podem constatar, somos muito diferentes, na personalidade, nas culturas e até na formação recebida na mesma Companhia de Jesus, segundo a história de cada um, tempo e lugar de formação; mas, graças a Deus e a vocês com quem colaboramos, essa missão tem feito de nós uma bela equipe.
Deixemos, finalmente, que a música, na voz dos artistas da casa, complete essas palavras e faça aflorar em cada um de nós os melhores sentimentos de ação de graças. E, no embalo dos ritmos, arrisquemos uma prece a Deus, pedindo para que a nossa missão educativa comum seja, como dizia Drummond, “uma canção que faça acordar os homens e adormecer as crianças”. Muito obrigado!
Pedro Rubens, SJ