Boletim Unicap

Seminário internacional discute relação entre desastres naturais e vulnerabilidade social nas cidades

O I Seminário Internacional Resiliência de Cidades frente a Desastres Naturais reuniu, na manhã desta quinta-feira (12), no auditório G1 da Unicap, sete pesquisadores do Brasil e Argentina que investigam as causas e consequências das mudanças climáticas e suas relações sociais. A programação do evento contou com três mesas redondas seguida de debate com o público presente.

Durante a sua fala de boas-vindas, o Reitor da Católica, Padre Pedro Rubens, citou a encíclica Laudato Si, documento escrito pelo Papa Francisco que defende a tese de que a humanidade atravessa uma crise socioambiental na qual os problemas estão interligados e que a solução passa pelo desenvolvimento de uma ecologia integral, considerando aspectos econômicos, sociais e ecológicos. “Esse evento deve aproximar a academia, poder público, iniciativa privada e o cidadão para assumir uma responsabilidade que é de todos nós”, disse ele durante fala intitulada O Cuidado com a Casa Comum é um Ato de Fé Responsável.

Também faziam parte da mesa a Pró-reitora de Pesquisa e Pós-graduação, Profª Drª Valdenice José Raimundo; o Pró-reitor de Graduação e Extensão, Prof. Dr. Degislando Nóbrega; a diretora do Centro de Ciências Jurídicas, Profª Drª Maria Luíza Ramos; a coordenadora do curso de Direito e uma das organizadoras do evento, Profª Drª Cinthya Suassuna; a diretora de Pesquisas Sociais da Fundação Joaquim Nabuco, Prof.ª Drª Alexandrina Sobreira; e o pesquisador titular da Fundaj, Dr. Neilson Freire.

Dados apresentados durante o evento revelam que entre 1970 e 2016, 2,5 bilhões de pessoas foram atingidas por algum tipo de desastre natural. De 2009 a 2011, entre os dez países que mais sofreu com os impactos dos desastres naturais, o Brasil ficou sexta posição. O enfrentamento desta realidade é um desafio para a América Latina, onde 80% da população vive em áreas urbanas. “São muitos desafios postos e sobrepostos. Temos que trabalhar no caminho de uma construção”, destacou Alexandrina.

A segunda mesa apresentou pesquisas e experiências. O Prof. Dr. Fábio Araújo (Unicap e UPE) falou das vulnerabilidades das zonas costeiras às mudanças climáticas. De acordo com números fornecidos por ele, mais de 60% do PIB brasileiro estão distribuídos em 400 municípios litorâneos, o que aumenta a necessidade de se preparar para os impactos nessas áreas e, principalmente aqui no Estado. “Pernambuco é o estado com maior densidade populacional no litoral do Brasil”, destacou ele chamando a atenção para o relevo da região predominantemente plano e próximo ao nível do mar.

Já Cinthya Suassuna falou sobre o Direito à Cidade Segura: Avaliando Resiliência de Cidades do Núcleo Metropolitano do Recife. Durante a tese de doutorado, ela desenvolveu um indicador que mede a capacidade institucional de resiliência do município frente à desastres naturais (IRCi). “No Brasil, há 821 municípios muito suscetíveis a este tipo de impacto e a Região Metropolitana do Recife é uma das mais vulneráveis”, explicou ela.

Na sequência, a gerente geral de Atenção Social da Secretaria de Defesa Civil da Prefeitura do Recife, Keyla Ferreira, falou das políticas públicas adotadas pela gestão da capital pernambucana. De acordo com a ex-aluna do curso de Serviço Social da Unicap, são realizadas 16 mil visitas domiciliares em áreas de risco para divulgar práticas seguras, distribuição de material informativo e mutirões de sensibilização. “Por ano, fazemos 300 ações nas escolas”.

Os pesquisadores da terceira mesa estabeleceram uma relação entre a vulnerabilidade social e o conceito de resiliência. Uma das palestras ficou a cargo da Profª Drª Cláudia Natenzon. Ela é doutora em Geografia pela Universidade de Sevilla; professora titular e pesquisadora da Faculdade de Filosofia e de Letras, Universidade de Buenos Aires – UBA;  investigadora convidada da Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais (Flacso); e doutora do Programa de Investigação sobre Recursos Naturais e Ambientais – Pirna.

Logo depois, o pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz, Dr. Carlos Machado, abordou a questão da saúde coletiva frente a desastres naturais. “A pobreza potencializa os riscos de desastres e os impactos podem levar meses a anos. Se a área for de risco, pode piorar isso”.

A preocupação social também predominou na fala do Prof. Dr. Humberto Barbosa, que tratou do tema Redução do Risco de Desastre Naturais no Semiárido Brasileiro: monitoramento ambiental e políticas para resiliência à seca. Professor associado da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), onde participa na condição de membro permanente do Programa de Pesquisa e Pós-graduação em Meteorologia, ele implantou e coordena o Laboratório de Processamento de Imagens de Satélites, uma das principais referências no país quanto à recepção, processamento, análise e distribuição de dados satelitários do Meteosat segunda geração (MSG).

De acordo com dados apresentados por ele, entre os anos 1901 e 2016, foram registradas 32 secas, sendo 30 relacionadas ao fenômeno El Niño. “Os processos climáticos estão mudando cada vez mais rápido, mas o que não mudou foi como a gente lida com a pobreza, Nossa urbanização foi e continua caótica”.

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