Congresso sobre adoção recebe especialistas da França
|Recife sediará de 18 a 21 de agosto o primeiro congresso franco-brasileiro sobre psicanálise, filiação e sociedade, com o tema “Adoção: da criança à filiação”. O evento é organizado pela Universidade Católica de Pernambuco em parceria com a Universidade Denis Diderot, de Paris.
O congresso pretende discutir a temática da adoção a partir das visões biológica, jurídica e afetiva. Nos dias 17 e 18 de agosto acontece o curso pré-congresso, no Recife Palace Hotel. Serão abordados assuntos como a seleção dos pais adotivos e o papel das leis na ética da adoção e os riscos desse processo.
A presidência francesa do congresso está a cargo do professor Pierre Levy-Soussan, membro da Sociedade Psicanalítica de Paris. Ele coordena um grupo de pesquisa sobre adoção na Universidade Paris 7, importante na área de psicologia. Também organiza grupos multidisciplinares sobre o tema no Canadá e é perito do governo francês para assuntos de adoção.
Em entrevista realizada por e-mail ao Boletim Unicap, ele fala das dificuldades que envolvem a adoção e como esse processo se desenvolve na França.
Um bom pai biológico pode tornar-se um bom pai adotivo ou esse sucesso depende de características especiais?
R- Após se ter filhos biológicos, a adoção é mais difícil porque o encaminhamento filiativo não é o mesmo. Há riscos de supervalorização dos filhos biológicos em detrimento dos adotados ou o contrário. É importante reconhecer as razões e as motivações da adoção, a fim de que a criança adotada tenha um lugar de verdadeira filiação e não de compensador dos problemas familiares não resolvidos.
O fato de ser um filho adotivo cria dificuldades para a inclusão da criança ou do jovem rapaz no meio social que os acolheu?
R- Podem existir dificuldades de integração ao meio social, quando as expectativas referentes à criança são muito importantes, ou então quando o discurso dos pais lembra com muita frequência as origens diferentes da criança.
Do ponto de vista dos pais adotivos, quais são as principais diferenças entre o processo de adoção das crianças pequenas e dos adolescentes? E quais são essas diferenças do ponto de vista da criança e do adolescente?
R- O período da primeira infância é o da construção dos laços e o período da adolescência é o da provação dos laços construídos antes. Para os pais, é mais fácil enfrentar a provação, quando se trata da criança pequena. Quando esta se torna adolescente, os pais têm mais dificuldade de assegurar sua posição de pais diante dela. Portanto, do lado da criança, ou do adolescente, é a mesma a necessidade de segurança que eles buscam e é da mesma firmeza parental que eles precisam, mesmo quando tudo fazem para ser insuportáveis. Como diz Winnicott*, uma criança, ou um adolescente, têm mais necessidade de pais do que de amor. Eles precisam que os pais resistam e não se desencoragem, não obstante todas as decepções que a criança, ou o adolescente, lhes causam.
Como é feito o processo de adoção na França? E quanto tempo ele dura desde sua abertura até seu acabamento?
R – Na França, o processo tem dois tempos: o tempo do acordo, isto é, o período em que os candidatos devem obter uma autorização oficial de cinco anos para ser candidato à adoção. Esse período dura no máximo nove meses e este tempo simbólico é importante e compara-se a uma gravidez psíquica para que se tenha uma certa maturidade para adotar. O segundo tempo é o da procura da criança seja em plano nacional ou internacional e na média esse tempo é de três a quatro anos. Na França, quando a criança está pronta para ser adotada, a adoção definitiva se faz em cinco meses.
Nos últimos 30 anos, o que foi que mudou no perfil dos pais adotivos?
R- Uma preparação menos benfeita para as particularidades da adoção internacional por causa da necessidade cada vez mais importante de ter a criança, em detrimento do desejo da criança. Esta necessidade arrasta os pais à adoção não bem ajustados ao seu perfil, suas possibilidades e seus limites.
Quais as experiências francesas no campo da adoção que o senhor quer partilhar com os pesquisadores brasileiros?
R- As experiências no campo dos fatores protetores ou de risco no campo da adoção: como são feitas a seleção e a preparação dos candidatos à adoção, a preparação das crianças, a escolha de tal criança para tal pai. Qual o quadro que melhor protege a criança contra os fracassos na adoção.
*Donald Winnicott (1896-1971) – Pediatra inglês que realizou estudos sobre o desenvolvimento infantil
Mais informações no site http://www.unicap.br/congresso_adocao