Boletim Unicap

Pesquisa sobre liturgia de Padre Jaime é apresentada para alunos e professores de Teologia

Creômenes

“Páscoa de Cristo na Páscoa da gente. Páscoa da gente na Páscoa de Cristo”. A frase de autoria do escritor e teólogo Dom Pedro Casaldáliga intitulou a palestra do Padre Creômenes Tenório Maciel na tarde desta quarta-feira (30), no auditório Dom Helder Camara. A explanação girou em torno da pesquisa sobre a liturgia elaborada pelo Padre Jacques Trudel (mais conhecido como Padre Jaime), atual Ouvidor da Unicap. Ele mesmo também participou do evento que contou com uma roda de diálogo.

A pesquisa de Creômenes resultou numa dissertação defendida no Mestrado em Liturgia do Instituto Católico de Paris. O estudo fez uma análise do ponto de vista teológico do trabalho desenvolvido por Padre Jaime na paróquia da Mustardinha, Zona Oeste do Recife, durante 31 anos. Ele celebrava as missas utilizando-se de elementos da cultura pernambucana e da própria comunidade. “Trudel é um homem fincado nas tradições da Igreja”, explicou Creômenes ao se referir que a liturgia de Padre Jaime era norteada pelo Concílio Vaticano II.

Padre Jaime

“O movimento que Trudel fez é mostrar que o fundamento da Liturgia é primeiro: a Páscoa de Cristo interligada com a Páscoa da gente e que é fecundada a cada doação de vida, a cada pessoa que se coloca numa caminhada e que derrama seu sangue nesse exemplo radical de doação como fez Cristo. É uma Páscoa que está acontecendo hoje no Corpo de Cristo que é a Igreja. Uma páscoa que não passou, está acontecendo fortalecido pela Eucaristia”.

Essa maneira de harmonizar dogmas litúrgicos com as características da comunidade está inserida num processo de inculturação. De acordo com Creômenes, tal processo se repete ao longo da história e com outros povos. Ele citou como exemplo as diferentes representações do próprio Cristo, dos santos e das comunidades nos templos românicos. “Não é de hoje que a vida de Cristo se comunica com a realidade do povo. É algo muito antigo da tradição da Igreja”.

Ainda segundo Creômenes, a inculturação não era o propósito da atuação de Padre Jaime na Mustardinha. Era algo maior. A perspectiva inaciana da salvação do ser humano e de sua alma. “O que importava para Trudel era fazer o que Cristo fez, era dar a sua vida pela vida do rebanho dele. Um pastor que dá a vida pela de seu rebanho. Então, ele vai buscar todos os meios para fazer isso. Como é que eu posso comunicar essa vida a esse povo aqui nessa realidade, para essa comunidade da Mustardinha, para esse país onde estou?”

O pesquisador jesuíta continuou a explicação afirmando que a salvação pode estar intimamente ligada ao contexto no qual aquela comunidade está inserida. “Ninguém se salva na estratosfera. A gente se salva lá onde tem o pé colocado. Se é aqui no Recife, é no nosso mangue. Então, é aqui no nosso mangue junto com a caranguejada que a gente se salva. Cristo, quando assume a carne humana, ele vive a realidade e a vida de seu povo e nos salva por este meio”.

Ao final da apresentação, Padre Jaime agradeceu afirmando estar feliz com a pesquisa de Creômenes, que analisou a recepção do Concílio Vaticano II “numa paróquia do Recife”. Ele também falou da relação entre o aspecto teórico do ensino e a prática da liturgia. Padre Jaime destacou ainda que o documento da Igreja tratava essa maneira de celebrar como sendo uma “adaptação”, mas que tanto este como o termo inculturação trazem a essência do que a Igreja pretendia enquanto aproximação com a comunidade.

Gil

“O que o Concílio queria era a celebração com esse povo. Por isso, a gente celebrava com crianças, com jovens, com adultos, com pobres, com classe média do mesmo jeito”. Ele ressaltou também um outro ponto abordado por Creômenes. A liturgia enquanto resgate da dignidade da pessoa “através de uma celebração viva”.

Entre as pessoas que estavam no auditório Dom Helder, havia uma testemunha do trabalho do Padre Jaime na paróquia da Mustardinha. “Eu me reconheci na cultura, aprendi a não rejeitar a minha origem e sim a valorizá-la. Na celebração eu sentia muito forte a presença de Deus no meu movimento, na dança que eu vivi, na minha comunidade. O encarnado que se via na gente representava toda uma comunidade, toda uma cultura que era valorizada e prestigiada dentro de uma celebração”, disse Gilvânia Nascimento da Silva (Gil).

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