Discurso do Pró-Reitor Comunitário na abertura do 9º Encontro Internacional das Águas
|O Pró-Reitor Comunitário e coordenador do Instituto Humanitas Unicap, Padre Lúcio Flávio Cirne, fez o discurso de abertura do 9º Encontro Internacional das Águas, na noite desta quarta-feira (17). Confira a íntegra do discurso:
Boa noite a todas e todos. É uma grande honra receber vocês nesta noite para a abertura do 9º Encontro Internacional das Águas, um evento já tradicional na nossa universidade e de grande relevância, sobretudo nos nossos dias, quando o meio ambiente e, particularmente, a água, precisam de toda a nossa atenção e cuidado.
O tema deste ano “Rios Urbanos Limpos: Possibilidades e Desafios” é de extrema importância diante do crescimento desordenado das cidades, do descaso do poder público e da falta de consciência da população, que transformam os nossos rios urbanos em verdadeiras lixeiras a céu aberto. Dados divulgados pela Comissão Mundial de Águas revelam que os 500 maiores rios do planeta enfrentam graves índices de poluição, o que já é considerado um dos maiores problemas ambientais da atualidade.
Em muitas cidades, o sistema sanitário ainda é precário e o esgoto é jogado diretamente nos rios sem receber o tratamento devido, matando peixes e provocando a proliferação de doenças. Indústrias despejam produtos químicos nos rios, embora essa prática seja crime ambiental no Brasil. Infelizmente, a fiscalização é ineficiente ou inexistente e o problema persiste. O lixo sólido, principalmente doméstico, descartado nos rios é outro fator causador da poluição, provocando também o assoreamento dos rios e causando enchentes.
Não poderia deixar de fazer um registro aqui de uma das maiores tragédias socioambiental, a maior da história do Brasil, ocorrida em novembro de 2015, quando as águas do Rio Doce foram contaminadas por um mar de lama, após o rompimento de uma barragem de rejeitos da mineradora Samarco, que destruiu o distrito mineiro de Bento Rodrigues. Ainda hoje nos impressionam as imagens, tragicamente perturbadoras: a lama tóxica navegando pelo rio Doce, atingindo mais de 660 quilômetros de rios, atravessando territórios de aproximadamente 30 municípios até chegar ao litoral do Espírito Santo, onde pelo menos 70 quilômetros da costa foram poluídos.
Esse crime ambiental ceifou 19 vidas humanas, deixou centenas de desabrigados e desencadeou uma série de prejuízos que atingiram principalmente as populações mais pobres. Ficou-nos o sentimento de tragédia humana, no seu sentido mais amplo, associado à violação dos direitos humanos, como direitos sociais, ambientais, econômicos e culturais. No atual cenário político brasileiro, tão difícil e incerto, importa seguir perguntando, na triste memória das imagens da agonia e da morte de todo um Rio: Quem matou o Rio Doce? Como os culpados serão responsabilizados e punidos?
Para não ficarmos restritos ao negativo e doloroso – embora seja necessário tê-lo presente -, é animador saber que, do outro lado da margem, vamos encontrar experiências exitosas e animadoras de recuperação e revitalização de rios urbanos, que certamente serão objetos de estudo nesse 9º Encontro Internacional. Certamente esse evento ajudará no melhor conhecimento sobre o tema através da troca de experiências e na apresentação de possíveis caminhos para a solução dos problemas.
Em nome do M. Reitor, Pe. Pedro Rubens, gostaria de agradecer ao Ministério do Meio Ambiente, à Marinha do Brasil, à Chesf e à Academia Pernambucana de Química pela parceria com a Unicap na realização do 9º Encontro Internacional das Águas. Agradeço também ao apoio dado pelo CNPq, Facepe, IPA, Café com Quê e Carpool Receptivo. Um
agradecimento especial à comissão organizadora, na pessoa da Profa. Arminha Saconi. Muito obrigado!