Boletim Unicap

Mesa-redonda discute consequências da microcefalia nos laços familiares

IMG_1160[1]A Clínica de Psicologia da Católica promoveu, na tarde desta quarta-feira (27), no auditório do bloco J, uma mesa-redonda que discutiu as repercussões no cotidiano dos pais, cuidadores e bebês com microcefalia. Participaram do debate a médica infectologista do Hospital Universitário Oswaldo Cruz (HUOC) e professora do curso de Medicina da Católica, Drª Regina Coeli; a coordenadora do curso de Serviço Social da Unicap, Profª Sandra Carla Pereira de Lima; e a psicóloga do Imip Maria do Carmo Camarotti.

O debate começou com Regina. Ela falou sobre a experiência nos atendimentos no HUOC. De acordo com dados do último boletim apresentado pela médica, Pernambuco notificou 1.849 casos, sendo 761 prováveis, 312 confirmados e outros 664 descartados do que agora as autoridades em Saúde estão chamando de Síndrome Congênita do Zika Vírus. Isso porque a microcefalia é apenas um dos problemas decorrentes desta arbovirose.

Além das calcificações que impedem o desenvolvimento cerebral, os bebês apresentam alterações auditivas, oftalmológicas e osteo musculares.  “A microcefalia é causada pela infecção pelo vírus da Zika até o terceiro mês de gestação, que é quando se forma o encéfalo. Depois disso, pode até haver um outra alteração neurológica, mas não microcefalia”, explicou Regina.

A infectologista relatou ainda outras alterações nos bebês a exemplo da constante irritabilidade (provocada quase sempre por refluxo esofágico, epilepsia e hipertonia); além do pé torto congênito; hérnias umbilicais e inguinais; luxação congênita no quadril; e artrogripose, que é quando uma ou mais articulações ficam em posição fixa. “Nós temos muito a entender sobre essa doença”, frisou Regina.

Se a doença ainda tem muito a revelar do ponto de vista clínico, no âmbito social as explicações envolvem várias outras questões. As famílias com bebês com microcefalia têm uma série de direitos garantidos pelo Sistema Único de Assistência Social (Suas). Quem afirma é Sandra Pereira. A professora explicou que esse conjunto de políticas públicas instituída em 2005 no Brasil quebrou o paradigma do assistencialismo de ajuda ou de favor.

IMG_1166[1]“Essas famílias têm de entender que o acesso aos serviços de saúde terapêuticos e assistenciais são um direito delas. O caráter intersetorial das Políticas Assistenciais interage ainda com educação e seguridade e desloca a abordagem do indivíduo para o núcleo familiar”. A coordenadora do curso de Serviço Social abordou o contexto que, segundo ela, favoreceu o alcance da doença, a exemplo da falta de saneamento básico adequado e condições de habitação. “São problemas que potencializaram as consequências da microcefalia”.

Consequências que também deixam marcas no aspecto psicológico da família. O assunto foi tratado por Maria do Carmo Camarotti. Ela traçou um paralelo entre o que classifica de bebê esperado x bebê real. Para a psicóloga do Imip, a gestação depende da vivência da mulher, do seu mundo interno consciente e inconsciente. “O bebê imaginário é o idealizado, que vai preencher anseios e realizar sonhos. Na realidade pós-parto, os relacionamentos são alterados e os pais têm de se adequar ao novo papel”.

Ainda de acordo com Maria do Carmo, nos casos em que a criança nasce com microcefalia, esses papéis envolvem um turbilhão de sentimentos que oscilam entre amor/ódio, aceitação/rejeição, tristeza e culpa. “A capacidade interpretativa dos pais é muito importante para a construção da parentalidade”.

A terapeuta frisou ainda os cuidados necessários na hora de os pais serem informados sobre o diagnóstico porque isso representa o remanejamento nos projetos para o filho. “O diagnóstico deve ser o ponto de partida para o plano de ação terapêutica e de reabilitação no qual os pais devem ser inseridos desde o início”. Maria do Carmo encerrou sua explanação citando uma psiquiatra judia. “O olhar tem valor  de escuta quando não existe a palavra”. A frase é de Myriam David, que dedicou sua vida a cuidar de crianças, mesmo sem nunca ter tido filhos.

 

 

 

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