Boletim Unicap

Aula inaugural dos cursos de Pós-graduação da Unicap teve palestra com o vice-reitor da Universidade Católica Portuguesa

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A aula inaugural dos cursos de Pós-graduação da Universidade Católica de Pernambuco contou com a palestra “Bíblia e Literatura: é possível aproximar São Paulo de Fernando Pessoa?”, do ensaísta e poeta português José Tolentino Mendonça, vice-reitor da Universidade Católica Portuguesa e Consultor do Pontifício Conselho para a Cultura, no Vaticano. O evento aconteceu na manhã desta quarta-feira, dia 5, às 10h, no anfiteatro do 3º andar do bloco G4.

IMG_7396Minutos antes do início da cerimônia, a poetisa e aluna do Mestrado em Ciências da Linguagem, Maria Andrade, recitou algumas de suas poesias. A cerimônia começou com a apresentação do grupo MPB Unicap, que na ocasião estava representado por Percy Marques, no violão; Surama Rheis e Newton Cabral nos vocais. Os dois primeiros integrantes são ex-alunos de Direito e História, respectivamente, e o terceiro é professor da Graduação em História e coordenador do Mestrado em Ciências da Religião da Unicap.

IMG_7457Em seguida, o professor Degislando Nóbrega, diretor do Centro de Teologia e Ciências Humanas – CTCH, passou a palavra para o Reitor, Padre Pedro Rubens, que deu as boas-vindas ao público que lotou o anfiteatro e apresentou o palestrante Padre José Tolentino. “Apresentar Tolentino é uma tarefa fácil e difícil. Difícil porque teria muita coisa para dizer dele. Fácil porque se você colocar o nome dele no Google, vocês vão ter uma ampla literatura, 19 livros, mais o que será lançado hoje, passa a entrar na escala do vigésimo e muitos poemas. Só os títulos dos livros já dão vontade da gente comê-los, são títulos apetitosos. Então, eu não vou apresentar Tolentino, porque apresentação de alguém é o despertar de uma relação que vocês mesmos vão descobrir. Assim como eu tive a ocasião de descobri-lo. Tolentino, seja muito bem-vindo. A casa é sua!”

Pe-Tolentino-3Padre José Tolentino Mendonça começou sua conferência cumprimentando os presentes e agradecendo ao Padre Pedro Rubens a oportunidade de estar na Unicap e participar do evento. “É com um enorme entusiasmo que estou aqui mais uma vez, na Unicap, onde me sinto sempre a aprender, por exemplo, a forma como esta aula começa com a música, com o canto. Para mim, é uma aprendizagem muito grande, porque na Europa, nós separamos muito, racionalizamos muito a transmissão do saber. Só muito excepcionalmente é que as coisas se encontram, a emoção e a razão, a arte e a ciência e a forma como aqui essa unidade é uma coisa natural que acompanha a vida, para mim é uma aprendizagem enorme, que me comove e, ao mesmo tempo, me desafia também a pensar novos caminhos, novas formas, novas práticas.”

Pe-Tolentino-5“Hoje na teologia, estamos a viver uma mudança de paradigma, uma mudança de modelo e essa mudança de modelo eu traduziria, numa forma muito elementar, assim: durante séculos e séculos o parceiro privilegiado e quase exclusivo da teologia foi a filosofia. Ao lado, em diálogo com a teologia havia sempre uma filosofia. Qual é a grande novidade do Século XX? Uma novidade que a forma ainda estamos a descobrir. É que com a própria crise da filosofia, da física, a teologia volta-se para outros campos, tentando identificar outras parcerias que ajudem, também, na sua própria renovação. Como renovar e como inovar dentro do discurso religioso, que facilmente se torna um discurso autorreferencial, muito trancado em si mesmo. A relação entre a teologia e a literatura, a Bíblia e a literatura trazem, de fato, uma novidade muito grande, a ponto de podermos dizer que estamos pondo a construção de um novo modelo teórico, de uma nova forma de pensar a própria teologia. Quando a gente recorda grandes figuras do pensamento teológico do Século XX, encontramos, entre elas, autores que ficam ali, na linha de fronteira, a pensar saberes distintos. Lembro, por exemplo, Romano Guardini e a importância que ele teve ao estudo de Dante, estudo de Dostoievski, como portas para renovar a própria teologia e o pensamento religioso…”

Pe-Tolentino-1Padre Tolentino ressaltou que “nós falamos da Bíblia, como das escrituras sagradas e há um pequeno problema: nós damos mais valor ao adjetivo que ao substantivo. Nós damos mais valor ao fato de serem sagradas do que serem escrituras e, para nós, aquilo é um livro de verdades e esquecemos que, antes de tudo, a Bíblia é um romance. A Bíblia é um livro de poemas, uma biblioteca de poemas. A Bíblia é literatura, antes de tudo, e é quando a gente a olha, também, desse ponto de vista que a gente percebe que ela é sagrada. Mas é assim: o adjetivo não pode engolir o substantivo. Por isso, é que é tão importante olharmos para a Bíblia como uma biblioteca literária, como um grande clássico da literatura universal e, por isso, é tão interessante verificarmos hoje que o interesse pela Bíblia não aparece só entre os crentes, não é apenas um livro para crentes é um livro universal. É um livro que pode ser apropriado de diversas formas e nós não podemos dizer que essas apropriações não têm, em si, um caráter sagrado, não. São sagradas à sua maneira, de outra forma, por outro caminho e, com certeza, um caminho mais longo.

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