Aconteceu a Caminhada dos + 70 da Católica – de Recife à Olinda
|Por Artur Peregrino
“El camino de Hurtado”
“¡Cómo no voy a estar contento! ¡Cómo no estar agradecido a Dios!”
Santo Alberto Hurtado, SJ (1901-1952)
Artur Peregrino – Mestre em Antropologia pela Universidade Federal de Pernambuco (UPPE), possui graduação e bacharelado em Filosofia pela Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP) e bacharelado em Teologia pelo Instituto de Teologia do Recife (ITER); prof. do Curso de Teologia na Unicap e integrante do Instituto Humanitas Unicap; pesquisador do Grupo de pesquisa UNICAP/CNPq Religiões, identidades e diálogos, na linha de pesquisa Diálogos inter-religiosos. Email: arturperegrino@gmail.com
A caminhada aconteceu no dia 17 de agosto e reuniu professores, funcionários e estudantes da Católica. Foi um patrocínio do Instituto Humanitas e do Curso de Teologia da Unicap.
O sentido
Diante de um tempo, marcado pela rapidez das mudanças, pelo corre-corre frenético, pelo individualismo, muitas vezes é difícil avaliar o impacto que isso acarreta em nossa vida, pois afeta os nossos valores, a prática pessoal, espiritual e profissional.
Portanto, a caminhada é uma experiência que resgata a existência humana, trazendo equilíbrio, sabedoria, discernimento para melhor viver, além de possibilitar conhecer novas pessoas, novos lugares, integrar-se mais consigo, com os outros e com o transcendente. É uma possibilidade de ordenar os sentimentos.
É dentro desse espírito que acontece, já a cinco anos, uma caminhada da Unicap para a Sé de Olinda, celebrando a memória, refletindo sobre o trabalho de Santo Alberto Hurtado e celebrando o aniversário da Unicap que nesse ano completa 70 anos de existência a serviço do povo nordestino.
Santo Alberto Hurtado (1901 – 1952)
Santo Alberto Hurtado (1901 – 1952) foi um sacerdote chileno, da Companhia de Jesus, que, no último século, dedicou sua vida a Deus e ao serviço dos mais pobres. Homem de grande dinamismo, foi conferencista, professor e assessor da Ação Católica. Incansável e de notável criatividade, construiu uma Casa de Exercícios Espirituais, fundou em 1947 a Associação Sindical Chilena. Convocava a todos para operar a grande revolução de viver cristãmente. Frequentemente saía à noite para recolher meninos de rua e dar-lhes alimentação e alojamento. Fundou para os pobres a rede de “Lares de Cristo”. Sua palavra convencia porque sua vida era testemunho vivo. Para ele amar a Cristo era reconhecê-lo no pobre, nos universitários, nos operários despedidos, nos mendigos das ruas de Santiago do Chile.
1. “A FEIJOADA EUCARÍSTICA”
No final da última aula da manhã começou chegar as pessoas na sala do Instituto Humanitas para partilhar a feijoada. A partilha de uma feijoada já é uma tradição na católica. Tudo começou com a conclusão de uma disciplina no curso de administração. A iniciativa foi do funcionário e estudante de administração, Elias Heleno, e acolhida pelo professor da disciplina Humanidade e Transcendência. A feijoada, comida típica nordestina, deu o toque inicial na caminhada. Na sala do Instituto Humanitas participaram da partilha da feijoada professores, funcionários e alunos. Foi realmente um momento comunitário rico em humanidade.
2. NO RITMO DA CAPOEIRA
O relógio já marcava 14h30 quando nos reunimos no térreo do Bl A. O Grupo Capoeira Chapéu de Couro fez uma belíssima apresentação, acompanhada de um momento de relaxamento e expressão corporal. Foi um momento excelente de termos consciência do corpo. Ajudou imensamente, de uma vez que todos iriam iniciar uma caminhada. O Mestre Corisco ligou o momento de mística da capoeira com o sentido da caminhada que fazia memória de Santo Alberto Hurtado e ao mesmo tempo celebrava o aniversário da Católica. Esse momento possibilitou um tempo de silêncio e interiorização. Finalmente o momento vivido ajudou todo grupo a respirar também com método. De modo que o andar e respirar se tornaram harmônicos.
3. A ACOLHIDA TRADICIONAL DO PE. CAETANO NA IGREJINHA DA RUA DO LIMA
Chegamos por volta da 16h na igrejinha da Rua do Lima. Entramos na igrejinha para um momento de silêncio e descanso. Logo em seguida fomos convidados para seguir para o salão paroquial onde foi nos servido um gostoso suco de frutas. O padre Caetano, professor de direito da Católica, é pároco naquela igreja de Nossa Senhora da Piedade que completa 102 anos em 2013. O padre Caetano nos contou algumas histórias engraçadas que logo cativou todo grupo de peregrinos. Antes de sair voltamos à igreja para uma oração que nos enviou para a Sé de Olinda. Voltamos para a estrada às 16h30.
4. A MAGIA DO CAMINHO
O caminho se mostrava agradável porque não estava fazendo sol nem chovendo. A caminhada continuou pela Av. Cruzcabugá no sentido Olinda. Havia um clima muito gostoso de compartilhamento. Alguns caminhavam em silêncio vivendo um momento privilegiado. Percebíamos que a meditação andando pode trazer uma sensação de felicidade, equilíbrio e paz. Outros caminhavam em pequenos grupos partilhando a vida. Chamou-nos atenção o que víamos no caminho. Passando, em muitas paradas de ônibus, observávamos as pessoas e as pessoas nos observavam. Foi chocante ver o rio que divide as cidades de Recife e Olinda extremamente poluído. A cena vivida calou profundamente em cada um. O caminho vivido demonstra que não se trata de um andar qualquer, mas de um andar com método. A vivência do caminhar foi nos ajudando a sentir o prazer de cada passo, de cada respiração, do céu azul, de cada paisagem.
5. OLINDA SEMPRE ENCANTADA
Chegando às ruas históricas de Olinda no finalzinho da tarde pôde-se viver o clima bucólico proporcionado pelas ladeiras dessa bela cidade. Paramos na Rua de São Bento, na praça da prefeitura, para um momento de descanso e contemplação do mar. Seguindo o caminho chegamos ao Alto da Sé. Subindo pela paralela da Ladeira da Misericórdia chegamos à igrejinha dedicada a Nossa Senhora da Misericórdia mantida pelas irmãs beneditinas missionárias de Tutzing. O relógio marcava 18h. No momento de visita a Igreja da misericórdia as irmãs iniciavam a oração das vésperas (oração do final da tarde). Foi um momento silencioso que possibilitou cada um fazer sua oração pessoal.
6. A PARTILHA DA CEIA
A ceia festiva aconteceu no Convento das Dorotéias. Chegando no Convento da Conceição encontramos algumas professoras da Católica que nos aguardavam. A alegria da chegada se misturou com a alegria do encontro. Também nos aguardava um grupo do coral Recife Em Canto. No refeitório do convento foi servida a ceia. Após um canto de agradecimento participamos dessa ceia solene regada a um vinho chileno. Foi um momento belíssimo! Todos ficaram maravilhados com o sabor do momento. Na mesa de jantar o assunto era reviver a caminhada percorrida. E já se falava da caminhada de 2014.
7. EM OLINDA, RECIFE EM CANTO
Para concluir o “El camino de Hurtado”, com chave de ouro, assistimos a apresentação do coral Recife em Canto, regido pelo maestro Josué. O coral era composto por vinte pessoas incluindo funcionários e alunos da Católica. No auditório do Convento da Conceição escutamos o melhor da MPB nordestina. Entre as músicas de Luiz Gonzaga escutamos uma Ave Maria em latim. Foi um momento mágico.
O CAMINHO CONTINUA
Essa pedagogia do caminho, com certeza, nos leva a entender que o conhecimento se torna experiência. “Não é o muito saber que sacia e satisfaz a alma, mas o sentir e saborear as coisas internamente”(EE 2). As pessoas que, realmente, fazem a experiência do caminho certamente, em breve, serão mais sábias. Voltando para a Católica nos sentíamos mais dispostos para continuar o caminho e agora saboreando o mesmo e com mais sabedoria.