Boletim Unicap

Charles Taylor faz conferência na Católica sobre “Políticas de reconhecimento”

Charles Taylor

Um dos maiores filósofos contemporâneos, o canadense Charles Taylor, 82 anos, fez na noite desta segunda-feira (13) conferência na Universidade Católica de Pernambuco sobre “Políticas de reconhecimento”. O professor emérito de ciência política e de filosofia da Université McGill (Montreal) e autor de dezenas de livros traduzidos para mais de 20 línguas, teve como debatedores o coordenador do Mestrado em Ciência da Religião da Unicap, Gilbraz Aragão, e o coordenador do curso de Filosofia, Danilo Vaz.

Antes do início da conferência, foi exibido um vídeo, no qual o Reitor da Universidade Católica de Pernambuco, Padre Pedro Rubens, dava as boas-vindas a Charles Taylor e agradecia ao Instituto Humanitas por ter viabilizado a vinda dele à Unicap. Padre Pedro, que é presidente da Federação Internacional das Universidades Católicas (Fiuc), está em El Salvador participando da Assembleia Geral da Associação das Universidades Confiadas à Companha de Jesus na América Latina (Ausjal). Ele foi representando no evento pelo Pró-reitor Comunitário, Padre Lúcio Flávio Cirne. A presença de Charles Taylor na Católica faz parte das comemorações dos 70 anos do curso de Filosofia da instituição.

Charles TaylorFalando em francês, com tradução do professor do curso de Filosofia da UFPE Érico Andrade, Taylor centrou a sua apresentação em dois paradigmas que caracterizam a igualdade: 1º) A igualdade implica a homogeneização social. Como exemplo, ele citou a Revolução Francesa, que acabou com o privilégio da nobreza e procurou tornar iguais os cidadãos, do ponto de vista social e econômico. 2º)A igualdade deve implicar o reconhecimento das diferentes culturas e perspectivas e não a uniformização. Para Taylor,  o ideal seria um “mix” desses dois paradigmas, cuja validade é tentada empiricamente em vários contextos.

Taylor considera fundamental que as democracias se abram à questão das diferenças e não se fechem aos imigrantes porque têm distintas culturas, distintas religiões. Segundo o conferencista, há hoje no Canadá, particularmente no Quebec lutas tremendas sobre as diferenças religiosas, sobretudo com os muçulmanos. Na Europa e América do Norte, de acordo com ele, há movimentos perigosos de islamofobia, que deve ser combatida. “Nas democracias modernas devemos trabalhar constantemente sobre esse tipo de exclusão”, enfatizou.

Charles TaylorEm sua apresentação, Taylor frisou que o feminismo nas sociedades do Hemisfério Norte surgiu para romper com um modo de pensar e agir. Na sua visão, uma das características fundamentais das democracias dessa parte do globo é a existência ou, pela primeira vez, a autoasserção das diversidades. Nesse caso temos o problema de grupos diferentes dentro das sociedades liberais mais amplas, clamando por aceitação, igualdade e liberdade.

Taylor no Brasil

Acompanhado da esposa, a historiadora Aube Taylor, o filósofo chegou ao Recife no sábado e no mesmo dia fez uma visita a Olinda, ciceroneado pelo coordenador do curso de Filosofia da Unicap, Danilo Vaz. Na verdade, ficou tão encantado, que passou o dia todo na Cidade Patrimônio da Humanidade. No Alto da Sé, experimentou tapioca pela primeira vez na vida e adorou. Comeu várias. No domingo, ele visitou o Recife Antigo. Esta é a primeira vez que Charles Taylor vem ao Brasil. O filósofo chegou ao país para participar de um roteiro de eventos acadêmicos, que teve início no dia 24 de abril, na Unisinos, no Rio Grande do Sul, onde esteve a convite do Instituto Humanitas Unisinos para um ciclo de debates. Antes de chegar ao Recife, passou por Belo Horizonte e Rio de Janeiro.

A presença de Charles Taylor no espaço acadêmico brasileiro é de grande relevância. O filósofo canadense é conhecido pelas suas reflexões sobre a política do reconhecimento, a diferença cultural, a esfera pública, a sociedade civil versus o Estado, a ideia de modernidade, a concepção de identidade, a ética da autenticidade, o debate liberal-comunitário e o tema da secularização.Nos debates étnico-políticos atuais, Taylor é relacionado ao comunitarismo, embora sua obra seja transdisciplinar e coloque em diálogo o pensamento de Wittgenstein, de Austin, de Merleau-Ponty, de Max Weber, de Durkheim, de Tocqueville e da Escola de Frankfurt.

Taylor voltou-se nos últimos tempos para a filosofia da religião, como atestam a sua palestra “A Catholic Modernity” e o seu ensaio “Varieties of Religion Today: William James Revisited”. No entanto, a sua mais impressionante contribuição sobre o tema é o livro Uma Era Secular, que argumenta contra a tese da secularização de Max Weber e Steve Bruce. Para estes, a modernidade científica diminui a influência da religião, mas para Taylor esse fato não se verificou e sim a diversificação e o crescimento da religiosidade humana. Na “Idade Secular”, ética e espiritualidade continuam em pauta, embora por outros caminhos…

Entre os livros de Charles Taylor em língua portuguesa, destacam-se : Imaginários sociais modernos (Lisboa: Edições Texto e Grafia, 2010); Uma era secular (São Leopoldo: Unisinos, 2010); As fontes do self (São Paulo: Loyola, 2005).

 

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