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Recife receberá mostra sobre o cineasta canadense Pierre Perrault

Entre os dias 24 e 30 de agosto,  o Recife recebe a Mostra Pierre Perrault, que traz ao Brasil a primeira retrospectiva integral do grande cineasta quebequense, organizada pela associação cultural Balafon, de Minas Gerais, em colaboração com o professor de história e teoria do cinema Michel Marie (Universidade de Paris 3 Sorbonne Nouvelle). No Brasil, a mostra estreou no dia 18 de maio, no Rio de Janeiro, e, desde então, já passou pelas capitais Belo Horizonte, João Pessoa, São Paulo, Porto Alegre e Salvador. Em sua abertura, no Rio, ela contou com um grande colóquio internacional, reunindo 18 especialistas canadenses, franceses e brasileiros, para a discussão da obra de Perrault.

HISTÓRICO – Depois do sucesso da Mostra Jean Rouch, exibida em 10 capitais brasileiras em 2009 e 2010 (dentre elas Recife), a Balafon realiza neste ano, com a parceria da Universidade Paris 3 Sorbonne Nouvelle e Universidade de Montréal, a Retrospectiva Pierre Perrault. Praticamente desconhecido do público brasileiro, Perrault é um cineasta fundamental da segunda metade do século vinte e um dos expoentes do cinema direto. Diga-se de passagem que, apesar da pouca divulgação de sua obra entre nós, a crítica  considera Perrault um documentarista da envergadura de Jean Rouch, Joris Ivens, Chris Marker e Dziga Vertov, dentre outros gigantes.

No Recife, a mostra conta com a parceria da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), através do projeto de extensão “Contraplano – Teorias e Práticas Audiovisuais”, coordenado pelos professores Laécio Ricardo e Mannu Costa, e da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), onde acontecerão as exibições (Cinema da Fundação e Sala João Cardoso Ayres).

A abertura, no dia 24 de agosto, às 18h, na Fundação Joaquim Nabuco, contará com a presença da diretora da Balafon, Juliana Araújo, e do professor Michel Marie, organizadores do projeto. À ocasião, Marie ministrará conferência sobre o legado de Perrault.

A mostra exibe toda a obra do cineasta: mais de trinta filmes de curta, média e longa-metragem, produzidos entre os anos de 1958 e 1994, dirigidos ou roteirizados por Perrault, além de dois documentários sobre o cineasta. Legendados em língua portuguesa, a maioria desses filmes tem nessa mostra sua primeira exibição no Brasil, permitindo assim que o público tenha a chance excepcional de entrar em contato com a cinematografia de Pierre Perrault.

Por meio da apreciação desses filmes em conjunto, emergem os temas e ciclos fundamentais da filmografia de Perrault: a trilogia fundadora da Île-aux-Coudres (formada pelos filmes “Para que o Mundo Prossiga”, “O Reino do Dia” e “Os Carros d’Água”), a busca da identidade coletiva, o ciclo de Abitibi (composto pelos documentários “Um Reino vos Espera”, “O Retorno à Terra”, “Era um quebequense na Bretanha, Senhora!” e “Gente de Abitibi”), o homem e a natureza, o rio Saint-Laurent e a série Au Pays de Neufve-France, que se constitui de treze curtas-metragens roteirizados por Perrault e dirigidos por René Bonnière.

Programação no Recife

A Retrospectiva Pierre Perrault e a conferência do professor Michel Marie (Sorbonne Nouvelle Paris 3), co-organizador da retrospectiva, começam no próximo dia 24 de agosto no Recife e seguem até 30 de agosto.  Todas as atividades acontecerão na Fundação Joaquim Nabuco (Cinema da Fundação e Sala João Cardoso Ayres). A entrada é franca e limitada à capacidade das salas.

A Retrospectiva: Sessões Temáticas

Os filmes serão apresentados em ciclos temáticos:

A trilogia fundadora da Île-aux-Coudres (Para que o mundo prossiga, O reino do dia e Os carros d’água): são os 3 primeiros longas-metragens de Perrault, consagrados aos habitantes da Île-aux-Coudres (llha das Avelãs), especialmente à família Tremblay. Acompanhamos os mesmos personagens nos 3 filmes – em Para que o mundo prossiga e Os carros d’água, se tematizam tradições em desaparecimento; em O reino do dia, acompanhamos a família Tremblay em viagem, interessada em descobrir suas raízes francesas.

A busca da identidade coletiva (Um país sem bom senso e Acadie Acadie, numa via; e Oumigmag e Cornualhas, noutra): Um país sem bom senso e Acadie Acadie são filmes explicitamente políticos, sobre questões de soberania do Quebec, especialmente a do bilinguismo, Acadie Acadie tendo surgido como um prolongamento das filmagens feitas para Um país sem bom senso. Oumigmag e Cornualhas, os dois últimos filmes de Perrault, também um como prolongamento do outro, se pretendem metáforas do Quebec. Nesses dois últimos filmes, Perrault retoma um procedimento abandonado desde o seu primeiro longa, o comentário em off, em forma de longo poema sobre a geografia, a flora e a fauna das regiões filmadas.

O ciclo de Abitibi (Um reino vos espera, O retorno à terra, Era um quebequense na Bretanha, Madame, Gente de Abitibi): esses 4 filmes têm origem num projeto de filme sobre a construção de uma grande barragem hidroelétrica na Baía James, abandonado em favor de outra pista: o personagem Hauris Lalancette, um agricultor militante do Partido Quebequense, na região de Abitibi. Neles, Perrault traça um paralelo entre a colonização de Abitibi nos anos 30 e sua falência nos anos 70.

O homem e a natureza (O gosto da farinha e O país da terra sem árvore, numa via; e A fera luminosa, noutra): O país da terra sem árvore é um desdobramento de O gosto da farinha; encontramos em ambos os mesmos personagens e a mesma região, onde vivem os índios Montagnais. Neles, Perrault confronta os discursos dos antropólogos e linguistas aos dos índios Montagnais. Ambos tratam da caça ao Caribu. A fera luminosa trata também da caça, mas dessa vez empreendida por um grupo de citadinos do Quebec. Esse filme é frequentemente considerado a obra-prima de Perrault.

O rio Saint-Laurent (As velas baixas e de través e A grande mareação I e II): tematizam a descoberta do Quebec pelo navegador Jacques Cartier no século XVI. Perrault filma a viagem de barco entre Saint Malo e o Quebec, como a que Cartier fez, reunindo marinheiros bretões e intelectuais quebequenses, dentre os quais o poeta Michel Garneau e o filósofo francês Michel Serres.

A série Au Pays de Neufve-France: 13 curtas-metragens de 29 minutos (de 1958 a 1960), com direção de René Bonnière, e argumento, roteiro e texto de Perrault. São as primeiras realizações de Perrault no campo do cinema, após haver trabalhado durante anos no rádio, com emissões sobre canções e tradições na costa norte do rio Saint-Laurent. Nesses curtas com comentário em off sob a forma de poema (algumas vezes misturados às falas dos próprios personagens), Perrault aborda as regiões, personagens e temas com os quais irá trabalhar posteriormente, ao longo de toda a sua obra.

A mostra conta ainda com alguns filmes sobre Pierre Perrault: Os traços do sonho e No vale de Sverdrup.

(ver programação em anexo; ou também em www.balafon.org.br ou em https://www.facebook.com/PierrePerraultnoBrasil)

Conferência no Recife

Título: Escolhas de um cineasta

Conferencista: Professor Michel Marie

MICHEL MARIE é professor emérito de História e Estética do Cinema francês, na Universidade de Paris 3- Sorbonne Nouvelle, onde criou o programa de ensino em Estudos Cinematográficos. Dirige a coleção Cinéma et arts visuels da editora Armand Colin, desde 1988. Foi presidente da Associação Francesa de Pesquisa sobre História do Cinema, e da Cinemateca universitária de Paris. Nos últimos anos, ensinou também, como professor convidado, na Universidade de Montréal (Cadeira: França contemporânea), no CERIUM – Centro de Estudos e Pesquisas Internacionais, de 2009 a abril de 2011; e na Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP, ministrando curso sobre ficção e documentário. É autor de numerosos livros sobre o cinema. Últimos títulos publicados: Les Films maudits, Armand Colin, 2010; Les Grands pervers au cinéma, Armand Colin, 2009; Lire les images de cinéma (avec L.Jullier), Larousse, 2007; Guide des études cinématographiques, Armand Colin, 2006; Comprendre Godard, Armand Colin, 2006. Livros traduzidos para o português: A estética do filme (com Aumont, Bergala e Vernet, Ed: Papirus), Dicionário teórico e crítico do cinema (com Aumont, Ed: Papirus), A análise do filme (com Aumont, Ed: Texto & Grafia), Lendo as imagens do cinema (com Laurent Jullier), e A Nouvelle Vague e Godard (publicado neste ano pela editora Papirus, 2012). É co-organizador da retrospectiva e colóquio Pierre Perrault no Brasil, 2012, junto à associação Balafon, e co-organizador, com Juliana Araújo, do catálogo que acompanha a retrospectiva, também editado pela Balafon; no âmbito desse projeto, vem realizando uma série de conferências sobre o cineasta, desde maio de 2012 (no Rio de Janeiro, em Belo Horizonte, João Pessoa, São Paulo, Porto Alegre e Salvador).

Michel Marie lança também no Recife seu livro A Nouvelle Vague e Godard, recém-traduzido para o português pela editora Papirus.

Quando:

A conferência – 24 de agosto

A Retrospectiva dos Filmes – 24 a 30 de agosto

Onde: Fundação Joaquim Nabuco| Cinema da Fundação e Sala João Cardoso Ayres, Rua Henrique Dias, 609, Derby

Tel.: (81) 3073.6688 / 6689 / 6712 e 6651

Site: www.balafon.org.br e https://www.facebook.com/PierrePerraultnoBrasil

Catálogo

A Mostra conta também com um catálogo composto de textos sobre a obra de Perrault, de um texto importante do cineasta, filmografia completa e bibliografia. Além dos programas do colóquio e da retrospectiva. Com isso pretende-se oferecer ao espectador elementos que lhe permitirão prosseguir em suas pesquisas após a descoberta dos filmes nas salas.

O Cinema Direto – Perrault e Rouch

Pierre Perrault veio uma só vez ao Brasil, em 1996, na III Mostra Internacional do Filme Etnográfico no Rio de Janeiro, pouco antes de sua morte em 1999. Ele se encontrou nessa ocasião com Jean Rouch, presente no mesmo evento. As filmografias desses dois cineastas apresentam vários pontos em comum: um, explorador do Sahel, do rio Niger e da África do Oeste, o outro, do rio Saint Laurent, da imensa floresta quebequense com seus milhares de lagos e da tundra ártica. Eles desestabilizaram, tanto um quanto o outro, as práticas do cinema documentário, disseminando o cinema direto. A organização dessa retrospectiva, justamente após a de Jean Rouch, em 2009 e 2010, também organizada pela BALAFON, oferece ainda a possibilidade de multiplicar as confrontações entre os filmes e a problemática do cinema direto.

 

 

 

 

 

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