Boletim Unicap

Morre Padre Comblin, um dos principais representantes da Teologia da Libertação

Com informações do Instituto Humanitas Unisinos

Morreu na madrugada de domingo (27), aos 88 anos, o padre belga José Comblin, um dos mais importantes representantes da Teologia da Libertação.  Ele estava hospedado na comunidade Recanto da Transfiguração, em Simões Filho (BA), em tratamento de saúde, quando sofreu um ataque cardíaco. Foi encontrado morto, sentado, em seu quarto, quando era esperado para a oração da manhã e não apareceu na capela. Ele tinha problemas cardíacos e usava marcapasso. Apesar da doença, parecia bem disposto e estava trabalhando.

Padre Comblin pediu para ser enterrado em Solânea, na Paraíba, o que deve ocorrer nesta terça-feira (29), às 15h. Nesse município está o Santuário de Santa Fé e o túmulo de outro padre santo, Ibiapina, que Comblin tinha como exemplo. No próximo domingo (3), às 11h, será celebrada na Igreja das Fronteiras no Recife, onde viveu Dom Helder, uma missa especial em memória do grande profeta que foi José Comblin. Será uma iniciativa conjunta do Instituto Dom Helder Câmara e do Grupo de Leigos Igreja Nova, com a participação da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap).

Desde 2009 Comblin vinha doando a sua biblioteca de 9 mil livros à Universidade Católica de Pernambuco, por considerar a Unicap parceira capaz de ajudar o povo a ter uma fé mais esclarecida. No próximo dia 25 de abril, às 14h, no bloco G4 da Católica, o pastor protestante Paulo César Pereira vai defender a sua dissertação no Mestrado em Ciências da Religião da Unicap, sobre a contribuição da teologia de Comblin para a evangelização das cidades. A última vez em que Comblin esteve na Católica foi em agosto de 2009 para participar do Café Teológico sobre “Perspectivas das Igrejas e das Teologias”.

Padre Comblin nasceu no dia 22 de março de 1923, na Bélgica. Desde 1958 trabalhava no Brasil, especialmente em Pernambuco, na Paraíba e na Bahia. Ele veio para o Brasil em 1958, atendendo a apelo do papa Pio XII, que no documento Fidei donum (O Dom da Fé) pedia missionários voluntários para regiões com falta de sacerdotes. Depois de trabalhar em Campinas e, em seguida, passar uma temporada no Chile, veio para Pernambuco, em 1964, quando d. Helder Câmara foi nomeado arcebispo de Olinda e Recife. Perseguido pelo regime militar, foi detido e deportado, em 1972, ao desembarcar no aeroporto de volta de uma viagem à Europa.

Em Campinas, São Paulo, lecionou Química e Física para o curso colegial. Posteriormente, foi assessor da Juventude Operária Católica, tornando-se professor da Escola Teológica dos Dominicanos em São Paulo e tendo como alunos Frei Betto e Frei Tito. Aí permaneceu até 1962. A seguir lecionou na Faculdade de Teologia do Chile até 1965. A convite de dom Helder Câmara, veio para o Recife, onde foi professor do Instituto de Teologia – ITER, tendo oferecido cursos e assessorias também no Equador e na Bélgica. A partir de 1969 esteve à frente de seminários rurais em Pernambuco e na Paraíba.

A metodologia utilizada para os seminários era adaptada ao ambiente social dos seminaristas e essa experiência lançou as bases para a sua Teologia da Enxada. Suas ideias o colocaram sob suspeita do regime militar. Foi expulso do Brasil em 1971. Exilou-se no Chile durante 8 anos, onde também esteve à frente da criação de um seminário em Talca, em 1978. No seu livro A ideologia da Segurança Nacional: o poder militar na América Latina, publicado em 1977, destrinchou a doutrina que servia de base para os regimes militares na América Latina. Foi expulso por Pinochet em 1980.

Desde que voltou ao Brasil, radicou-se em Serra Redonda e João Pessoa (Paraíba), e atualmente estava morando na cidade de Barra, no interior da Bahia.  Sua dedicação maior sempre foi à formação de animadores de comunidades eclesiais de base, além de escrever muitos e importantes livros.

José Comblin esteve na origem da criação dos Missionários do Campo (1981), das Missionárias do Meio Popular (1986), dos Missionários formados em Juazeiro da Bahia (1989), na Paraíba (1994) e em Tocantins (1997).

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