Fórum Inter-religioso debate candomblé em Pernambuco
|O Fórum Inter-religioso do mês de abril discutiu o universo do candomblé. O evento, é um espaço aberto pela Universidade Católica há quatro anos para que os diversos cultos religiosos possam apresentar sua história e fundamentos.
O encontro começou com a exibição de um vídeo gravado pela Assessoria de Comunicação da Católica no terreiro da nação xambá, localizado em Olinda. O filme mostrava aspectos da prática do candomblé, como a reunião, chamada de “toque” onde os praticantes dançam ao som de instrumentos de percussão. As cenas eram entrecortadas com explicações do historiador e filho de santo Ildo Leal Barbosa, que depois do filme contou sua experiência na religião.
Ildo foi criado em família católica praticante, tendo inclusive dois primos padres, mas diz que passou a se sentir pouco integrado aos preceitos do catolicismo. Depois de dois anos conhecendo diversos terreiros de candomblé, ele se tornou filho de santo, em 1992.
Ildo garante que a mudança não foi por decepções com a Igreja Católica, a qual continua admirando. Ele diz que o respeito à igreja é tal que deixou de receber os sacramentos após entrar para o candomblé. Apesar disso, ele ainda participa de eventos cristãos quando viaja para Floresta. “Eu sou católico 15 dias no ano, quando visito minha família”, diz o historiador.
O candomblé é uma religião de origem africana, trazida ao Brasil pelos escravos. A prática consiste no culto aos orixás. Barbosa explicou que os orixás não são venerados por terem sido necessariamente bons, mas porque foram pessoas reais, com uma existência histórica e que souberam demonstrar coragem, ou liderança quando viventes. Os adeptos do candomblé também acreditam em Olorum, o Criador, que está num plano superior aos orixás.
No Brasil, o candomblé se fundiu a elementos católicos, a fim de facilitar a aceitação do culto no país. Por isso, muitos orixás ainda são vinculados aos santos católicos. Barbosa acredita que essa prática não pode ser negada, já que faz parte da história das duas religiões, mas que é preciso fazer a distinção entre os dois cultos. “Tem gente que até hoje pensa que Iemanja é Nossa Senhora, tamanha é a submissão que ainda existe entre o candomblé e a Igreja Católica”, lembra o historiador. Por conta dessa tradição histórica, é comum o trânsito de fiéis entre as duas religiões.
O coordenador do Mestrado em Ciências da Religião da Unicap, Gilbraz Aragão, que organiza o fórum, diz que os encontros são “uma experiência de diálogo entre as religiões”. Apesar da multiplicidade de denominações, ele não considera isso ecumenismo. Segundo Aragão, o ecumenismo ocorre entre grupos cristãos, e o Fórum é algo que ultrapassa o ecumenismo.
Mais informações sobre a Nação Xambá no site http://www.xamba.com.br