Católica participa do lançamento do V Caderno da Memória e Verdade
|Com a colaboração de Bruna de Oliveira.
O Pró-reitor Comunitário em exercício, Padre Marcos Augusto Mendes, representou a Universidade Católica de Pernambuco no lançamento do V Caderno da Memória e Verdade – IBAD Interferência do Capital Estrangeiro nas Eleições do Brasil, na sexta-feira (26), no Palácio do Campo das Princesas. O evento contou com a presença do Padre Jesuíta José Carlos Brandi Aleixo, filho do ex-vice-presidente do Brasil, Pedro Aleixo.
O V Caderno de Memória e Verdade, uma iniciativa da Comissão Estadual de Memória e Verdade Dom Helder Camara (CEMVDHC), relata o escândalo de corrupção político-eleitoral no Brasil, em 1962, denunciado pelo então governador de Pernambuco, Miguel Arraes de Alencar. O documento possui 320 páginas e aborda a interferência do Capital Estrangeiro nas Eleições do Brasil, realizado a partir das investigações dos 17 volumes que compõem o dossiê do IBAD e faz parte da relatória temática “IBAD/IPES: Preparação do Golpe, Financiamento da Repressão”.
Durante o lançamento, foi assinado um Projeto de Lei Federal que inclui o nome do ex-governador no “Livro dos Heróis da Pátria”. Participaram da solenidade, além do Padre Marcos e do Padre Aleixo, Vera Paiva, filha de Rubens Paiva; secretários do governo; parlamentares; familiares do ex-governador Miguel Arraes de Alencar; autoridades e representantes da sociedade civil.
Padre Aleixo, filho do ex-vice-presidente do Brasil, Pedro Aleixo, falou da importância do lançamento do V Caderno da Memória e Verdade. “Eu acho que é muito importante recordar capítulos importantes da nossa história e a Comissão da Verdade fez uma pesquisa a respeito de interferências, digamos assim, de grupos, inclusive estrangeiros, no processo eleitoral de 1962. Então, recordar o que aconteceu naquela época é útil para evitar que aqueles fatos se repitam. Então, tem um caráter pedagógico conhecer a verdade como foi e, ao mesmo tempo, tirar lições válidas, para os dias em nós vivemos.”
Em resposta à pergunta da reportagem do Boletim Unicap sobre que lembranças teria do seu pai, o ex-vice presidente Pedro Aleixo, no período da ditadura, Padre Aleixo disse: “Eu fui estudar Teologia na Espanha, passei quatro anos lá em Comillas, depois, um ano de Espiritualidade em Dublin, na Irlanda, e cinco anos em Washington fazendo Doutorado em Ciência Política. Por conseguinte, eu não estava presente fisicamente no Brasil, nesse período de 1958 a 1968. Acompanhava tudo por notícias de jornais. Mas, eu tenho a impressão que há um reconhecimento da seriedade dele (Pedro Aleixo), da competência dele como relator da comissão que se criou, uma Comissão Parlamentar de Inquérito, para verificar os fatos. Boa parte dos trabalhos dessa comissão está sendo publicada na oportunidade do evento de hoje. A gente sabe que ele atuou ali como um experimentado parlamentar, tinha sido, inclusive, presidente da Câmara, no ano de 1937, era advogado, atuava na área do Direito Penal, catedrático em Direito Penal e isso valeu muito para fazer as perguntas às pessoas que eram chamadas para depor. Para ele, foi uma experiência importante. Ele tinha sido, também, relator de um tema difícil, que era a questão da companhia aérea Panair do Brasil, em 1960, houve uma Comissão Parlamentar de Inquérito. Então, ele já tinha essa experiência e passou a desempenhar esse papel de ser o relator, o presidente era o deputado Ulysses Guimarães. Foram feitas perguntas a diferentes pessoas, de alguma forma, ou realmente ou presumivelmente envolvidas na vinda de recursos do exterior para beneficiar a determinados candidatos e prejudicar a outros”, afirmou.
A professora titular no Departamento de Psicologia Social, do Instituto de Psicologia, da Universidade de São Paulo, USP, Vera Paiva, filha do ex-deputado Federal Rubens Paiva, desaparecido durante a ditadura militar, conversou com a reportagem do Boletim Unicap sobre o lançamento do documento da Comissão da Verdade. “É um relatório aqui da Comissão da Verdade, um trecho do relatório, onde esse capítulo, em particular, onde fala da CPI IBAD, coordenada e presidida por meu pai, antes de ser cassado. Que foi a CPI que identificou o empenho das empresas norte-americanas em patrocinar e financiar as candidaturas para o Congresso Nacional e que provou o envolvimento direto dessas empresas interessadas em acabar com o monopólio da Petrobras, em acabar com várias outras questões que estavam em discussão no Congresso e elegeu concretamente deputados. Então, para nós, é muito importante porque a gente associa o assassinato e a perseguição brutal ao meu pai, como foi o desaparecimento do corpo, especialmente a esse modo como ele, quando deputado e o fato dele ter feito esse tipo de ação. Lembrando que, recentemente, o Obama entregou á presidenta Dilma, quando ela esteve lá, um documento mostrando que dez dias depois da prisão do meu pai, o governo americano já sabia que ele tinha sido assassinado. E, segurou esta informação até o ano passado.”
O Pró-reitor Comunitário em exercício, Padre Marcos Mendes, falou sobre a importância da Unicap em participar do lançamento. “Esse é um momento muito importante porque resgata a história brasileira, a história recente do Brasil. Se faz necessário tornar mais evidente e se tornar público, porque é um período da história pouco conhecido, pouco aprofundado e que nós precisamos resgatar. O Brasil precisa fazer um reconhecimento, uma reconciliação com sua história, só que essa reconciliação se passa pelo crivo da Justiça. A gente tem que olhar a história e olhar a história pelo crivo da Justiça e não jogar os fatos que aconteceram na nossa história pra debaixo do tapete. Nós precisamos reconhecer o que aconteceu, aprofundar, entender, justamente com um intuito de querer construir um país melhor. Se a gente não se reconcilia com o nosso passado, a gente não consegue construir o país que desejamos, um país mais justo, solidário, mais humano. Um país onde as pessoas possam ter seus direitos cidadãos garantidos, porque o período da Ditadura Militar foi um período em que aprofundou mais ainda uma tradição que nós temos no Brasil de não empoderar o seu povo no direito à cidadania. Se nós queremos construir um país onde todas as pessoas possam ser respeitadas em sua cidadania, então é importante que a gente reconheça nossa história, façamos a verdadeira justiça com os fatos que aconteceram, com as memórias, pra que a gente possa dar o passo significativo pra o futuro. Esse passo, construindo um presente onde nós possamos nos reconhecer, nos respeitar em nossa cidadania, em nossa condição de povo brasileiro. Eu creio que a Católica tem esse compromisso de ajudar nessa construção, nesse debate, e na discussão e pesquisa da nossa história.”