1ª Escuta dos Povos Indígenas reúne lideranças na Unicap
|Com o objetivo de reafirmar e evidenciar os direitos dos povos indígenas, a Cátedra Dom Helder Camara de Direitos Humanos Unesco/Unicap e o Instituto Humanitas Unicap, em parceria com a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e a Universidade de Pernambuco (UPE), promoveram, na terça-feira (30), a 1ª Escuta dos Povos Indígenas, no auditório Dom Helder Camara. Na ocasião, foram abordadas e debatidas as atuais situações políticas, econômicas e sociais referentes a esta população.
Fugindo dos moldes tradicionais dos eventos acadêmicos, nos quais especialistas e pesquisadores falam por determinadas classes sociais, a prioridade desse evento foi respeitar o lugar de fala dos indígenas e escutar seus anseios diante da atual conjuntura política que os invisibilizam. Vânia Fialho, professora de Antropologia da UPE, acredita que a grande contribuição do encontro foi justamente mudar os papéis, atribuindo protagonismo aos próprios índios. “O evento está invertendo a lógica dos encontros que acontecem relacionados aos povos indígenas. A grande questão é que o espaço é deles e para que possamos ouvi-los, e não o contrário”, afirma Vânia.
Ao longo de duas horas de encontro, foram abordados diversos aspectos referentes a como os povos indígenas lutam pela questão do reconhecimento e como se organizam, interna e externamente, para lutar pelos objetivos e direitos relacionados à demarcação territorial, educação e saúde. Ana Maria Sobrinho, professora e representante do Povo Atikum, afirma que disseminar a sua história para as instituições, como a Universidade Católica de Pernambuco, é uma questão de fortalecimento. “No final, o objetivo da gente é um só: manter o reconhecimento, sair de dentro da aldeia e contar nossa história lá fora. A gente fica muito fortalecido quando tem uma instituição, como essa, interessada em nos ouvir e nos compreender. É questão de viver e reviver o que estava, de certa forma, apenas na aldeia. Esse momento aqui fortalece muito nossa convivência, nosso trabalho e valoriza o nosso povo”, ressalta a professora.
Em decorrência da escuta dos diversos líderes indígenas, representantes dos povos Pankararu, Xucuru, Atikum, Fulni-ô e Truká, a Universidade Católica de Pernambuco se propõe a contribuir com textos, produções e pesquisas para que os direitos dos povos indígenas sejam disseminados e, consequentemente, assegurados. O professor de Direito da Unicap e coordenador da Cátedra de Direitos Humanos, Manoel Moraes, acredita que ouvir é, de fato, uma grande contribuição para a visibilidade desses povos. “A Unicap se junta a outras universidades para dizer que juntos podemos, na defesa desses direitos, fortalecer a luta dos povos indígenas. Ainda mais numa conjuntura tão adversa, quando você tem a fala de representantes do Poder Executivo, incentivando a violência contra esses povos”, assegura o professor.
O evento contou com a presença de estudantes e professores universitários, alunos do Colégio Liceu Nóbrega, membros do Ministério Público Federal e Defensoria Pública da União. A procuradora Maria Beatriz Ribeiro refletiu sobre a distância física que separa grande parte dos órgãos estatais da maioria dos territórios indígenas e os benefícios que encontros como o da última terça proporcionam. “A gente sabe que, justamente pela especificidade do tipo de vida e morada dos indígenas, eles tendem a não estar nos centros urbanos, onde estão os órgãos, geralmente os estatais. Então, esse tipo de evento é muito importante pela aproximação com os povos. Mais do que nunca, vai ser necessário que órgãos como o Ministério Público, como a Defensoria Pública e o próprio Poder Judiciário, intervenham nas políticas do Executivo, na medida do possível, em prol dos direitos indígenas e de todas as minorias”, pontua Maria Beatriz Ribeiro.
Por Antonio Diniz, El Hana Filipides e Sofia Montenegro