DO FUNDO DE UM CUBÍCULO O DETENTO CLAMA POR JUSTIÇA: TENTATIVAS DE FUGA E CONTESTAÇÕES NA CASA DE DETENÇÃO DO RECIFE EM 1955
Palavras-chave:
Prisões, fuga, Casa de Detenção do RecifeResumo
Dentro do microcosmos carcerário, as fugas ou tentativas devem ser tomadas como fruto de uma infrapolítica gestada nos ambientes prisionais. Dito isto, este trabalho propõe analisar e reconstruir, a partir de um inquérito administrativo, a tentativa de fuga de três sentenciados em 1955 na Casa de Detenção do Recife. De modo que seja possível pensar em objetivos compartilhados como agentes catalizadores de ações audaciosas. José Julio dos Santos, Antônio Francelino (vulgo laranjeira), e Minervino Antero tentaram escapulir-se coletivamente. José Julio portava uma faca peixeira que conseguiu subtraindo do rancho onde trabalhava. Já Antônio Francelino era acusado de matar o guarda Teófilo, a golpes de faca, assim como a um popular que circundava as proximidades da região. Laranjeira foi detido na rua Imperial pela rádio patrulha e ao ser reconduzido à casa de detenção, afirma ter sofrido espancamento por parte da polícia e recolhido à uma cela de castigo. No dia seguinte sofreu ainda um atentado estando na mesma cela e castigo por dois detentos portando facas, resultando-lhe graves ferimentos que necessitaram de atenção médica por dois meses no pronto socorro. Isso sucederá em um processo de longa perseguição por parte de guardas e reclusos que desaprovaram a empreitada de Laranjeiras ao assassinar o guarda Teófilo, reconhecido na instituição por ser muito bem quisto entre os detentos e companheiros da guarda. Essa retaliação constante chega ao conhecimento do Diário da Noite, estampando uma de suas manchetes e suscitando discursos que adotam ou planejam adotar um vocabulário humanitário ao denunciar a condição penosa que enfrentara o sentenciado Antônio Francelino.
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