Fenômeno vs. Fenomenicidade: Husserl e Natorp no pano de fundo de um debate atual

Autores

DOI:

https://doi.org/10.25247/P1982-999X.2025.v25n1.p25-48

Palavras-chave:

Racionalismo, técnica moderna, metafísica, dasein

Resumo

Será que a fenomenologia nos permite abrir uma via privilegiada para a compreensão dos fenômenos? Basta, no entanto, um olhar sobre a história filosófica do conceito de “fenômeno” para nos vermos confrontados com resultados complexos, nem sempre fáceis de apreender. Só precisamos de dois: as definições do que é o “fenômeno” diferem consideravelmente tanto dentro como fora da tradição fenomenológica; a compreensão fenomenológica dos fenômenos foi objeto, desde Husserl em particular, de várias objecções por parte dos interlocutores diretos, e continua a sê-lo no debate atual que coloca a fenomenologia à prova das críticas provenientes de outras abordagens, desde a filosofia da mente de inspiração analítica até às chamadas ciências cognitivas. Centrar-nos-emos, então, no diálogo entre Husserl e Natorp para demonstrar a originalidade da abordagem husserliana, limitando-nos às críticas de Natorp às teses expressas na quinta das Logische Untersuchungen. São críticas que nos permitem articular uma dupla estratégia: estabelecer um confronto direto com as posições de Husserl; instituir, indiretamente, um paralelo com alguns dos principais argumentos que encontramos no debate atual onde, a par do conceito de fenômeno, se encontram outras noções, aparentemente relacionadas. Uma mais que todas: a “fenomenicidade”, que indicaria o carácter meramente subjetivo da experiência, por oposição aos conteúdos objetivos que experimentamos. O nosso objetivo é, por conseguinte, duplo: ao centrarmo-nos nas Logische Untersuchungen, formular os argumentos necessários para contrariar as objecções de Natorp; defender, em perspectiva, a especificidade da compreensão fenomenológica dos fenômenos face a certas alternativas que encontramos no debate atual.

Downloads

Biografia do Autor

  • Emanuele Mariani, Università di Bologna

     

    Emanuele Mariani é, desde 2021, investigador sénior na Universidade de Bolonha, depois de ter sido pós-doc (de 2012 a 2017) na Universidade de Lisboa e, de 2017 a 2021, investigador no Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa. Em 2010, obteve o grau de doutor pela Universidade Sorbonne (Paris IV) sob a direção de J.-L. Marion com uma tese sobre o conceito de analogia na tradição aristotélica da fenomenologia. 

Referências

ARNAUD, Dewalque; SERON, Denis. Existe-il des phénomènes mentaux? Philosophie, v. CXXIV, n. 1, p. 105-126, 2015.

ARNAUD, Dewalque; SERON, Denis. Les phénomènes. Philosophie, v. CXXIV, n. 1, 2015.

BAYNE, Tim; MONTAGUE, Michelle (ed.). Cognitive phenomenology. New York/Oxford: Oxford University Press, 2011.

BESOLI, Stefano; FERRARI, Massimo; GUIDETTI, Luca (ed.). Neokantismo e fenomenologia. Logica, psicologia, cultura e teoria della conoscenza. Macerata: Quodlibet, 2002.

BODEI, Remo; CANTILLO, Giuseppe; FERRARA, Alessandro; KUROTSCHKA, Gessa; MAFFETTONE, Sebastiano (ed.). Ricostruzione della soggettività. Napoli: Liguori Editore, 2004.

BOUVERESSE, Jacques. Le mythe de l’intériorité. Expérience, signification et langage privé chez Wittgenstein. Paris: Edition de Minuit, 1976.

BRENTANO, Franz. Psychologie vom empirischen standpunkt. 2 Bde. Leipzig: Meiner, 1928.

CHALMERS, David. Facing Up to the problem of consciousness. Journal of Consciousness Studies, v. II, n. 3, p. 200-219, 1995.

CHALMERS, David. Moving Forward on the problem of consciousness. Journal of Consciousness Studies, v. IV, n. 1, p. 3-46, 1996.

DASTUR, Françoise. Erscheinung. In: CASSIN, Barbara (ed.). Vocabulaire européeen des philosophies. Paris: Le Robert, 2004. p. 372-377.

DE WARREN, Nicolas; STAITI, Andrea (ed.). New approaches to neo-kantianism. Cambridge: Cambridge University Press, 2015.

DRESTKE, Fred. Naturalizing the mind. Cambridge: MIT Press, 1995.

DUFOUR, Éric. Paul Natorp. De la psychologie générale à la systématique philosophique. Paris: Vrin, 2010.

FERARRI, Massimo; GIGLIOTTI, Gianna. Paul Natorp tra Husserl et Kant. Scritti 1887-1914. Firenze: Le Lettere, 2011.

HOLZHEY, Helmut. Zu den Sachen selbst! Über das Verhältnis von Phänomenologie und Neukantianismus. In: HERZOG, Max; GRAUMANN, Carl F. Sinn und Erfahrung: phänomenologische Methoden in den Humanwissenschaften, Hrsg. Heidelberg: Springer, 1991. p. 3-21.

HUSSERL, Edmund. Die Idee der Phänomenologie. Fünf Vorlesungen. In: Hua II. Dordrecht-Boston-London: Kluwer Academic Publishers, 1950.

HUSSERL, Edmund. Ideen zu einer reinen Phänomenologie und phänomenologischen Philosophie. Erstes Buch: Allgemeine Einführung in die reinen Phänomenologie. In: Hua III/1. Den Haag: M. Nijhoff, 1976. Tradução: Márcio Suzuki. Idéias para uma fenomenologia pura e para uma filosofia fenomenológica. Introdução geral à fenomenologia pura. São Paulo: Idéias & Letras, 2006.

HUSSERL, Edmund. Logische Untersuchungen. In: Hua XIX/1. Dordrecht-Boston-London: Kluwer Academic Publishers, 1984. Tradução: P. Alves e C. Morujão. Investigações lógicas. Segundo Volume, Parte I: Investigações para a fenomenologia e a teoria do conhecimento. Lisboa: CFLUL, 2007.

HUSSERL, Edmund. Einführung in die Phänomenologie der Erkenntnis. Vorlesung 1909. In: Hua Materialien, Bd. VII, hrsg. von E. Schuhmann, Kluwer. Dordrecht-Boston-London: Kluwer Academic Publishers: 2005.

KERN, Iso. Husserl und Kant. Eine Untersuchung über Husserls Verhältnis zu Kant und zum Neukantianismus. Den Haag: Nijhoff, 1964.

KUROTSCHKA, Gessa. La questione dell’irriducibilità della coscienza. In: BODEI, Remo, CANTILLO, Giuseppe; FERRARA, Alessandro; KUROTSCHKA, Gessa; MAFFETTONE, Sebastiano (ed.). Ricostruzione della soggettività. Napoli: Liguori Editore, 2004. p. 3-32.

LEVINE, Jospeh. Materialism and Qualia: The Explanatory Gap. Pacific Philosophical Quarterly, v. LXIV, n. 4, p. 354-361, 1983.

LUFT, Sebastian. Natorp, Husserl und das Problem der Kontinuität zwischen Leben, Wissenschaft und Philosophie. Phänomenologische Forschungen, v. VI, p. 97-133, 2006.

LUFT, Sebastian. Reconstruction and Reduction: Natorp and Husserl on Method and the Question of Subjectivity. In: MAKKREEL, Rudolf A.; LUFT, Sebastian (ed.). Neo-Kantianism in Contemporary Philosophy. Bloomington: Indiana University Press, 2009. p. 59-91.

LUFT, Sebastian. Einleitung. In: P. Natorp. Allgemeine psychologie nach kritischer Methode. Darmstadt: WBG Academic, 2013. p. XI-XXXVIII.

MOORE, Georg Edward. The Refutation of Idealism. In: Philosophical studies, p. 1-30. Kegan Paul, 1922.

NAGEL, Thomas. What is it Like to be a Bat. The Philosophical Review, v. LXXXIII, n. 4, p. 435-450, 1974.

NATORP, Paul. Über objective und subjective Begründung der Erkenntnis. Philosophische Monatshefte, v. XXIII, p. 257-286, 1887.

NATORP, Paul. Einleitung in die psychologie nach kritischer methode. Freiburg i.B.: J.C.B. Mohr, 1888.

NATORP, Paul. Allgemeine psychologie nach kritischer methode. Erstes Buch. Objekt und Methode der Psychologie. Tübingen: J.C.B. Mohr, 1912.

PORTA, Mario A. G. Brentano y Natorp (Intentionalität y Bewusstheit). Revista Philosophica, v. 30, p. 103-126, 2006.

SELLARS, Wilfrid. Empiricism and the Philosophy of Mind. In: FEIGL, H.; SCRIVEN, M. (ed.). Minnesota Studies in the Philosophy of Science. The foundations of science and the concept of psychology and psychoanalysis, v. I. University of Minnesota Press: 1956. p. 253-329.

SERON, Denis. Existe-il des phénomènes mentaux? Philosophie, v. CXXIV, no. 1, p. 105-126, 2015.

SERON, Denis. La critique de la psychologie de Natorp dans la Ve Recherche logique de Husserl. Érudit, v. XXXVI, n. 2, p. 533-558, 2009.

SHAUN, Gallagher; ZAHAVI, Dan (ed.). The phenomenological mind. An introduction to philosophy of mind and cognitive science. London/New York: Routledge, 2008.

SIEWERT, Charles. Is Experience Transparent. Philosophical Studies, v. CXVII, n. 1-2, p. 15-41, 2004.

TYE, Michael. Ten problems of onsciousness. Cambridge: MIT Press, 1995.

ZAHAVI, Dan. How to Investigate Subjectivity: Natorp and Heidegger on Reflection. Continental Philosophy Review, v. XXXVI, n. 2, p.155-176, 2003.

ZAHAVI, Dan. Intentionality and phenomenality: a phenomenological take on the hard problem. Canadian Journal of Philosophy, v. XXIX, p. 63-92, 2003.

ZAHAVI, Dan. Introduction: Subjectivity in the Center or Back to Basics. Phenomenology and the Cognitive Sciences, v. III, n. 3, p. 229-234, 2004.

ZAHAVI, Dan. Phenomenology and the project of naturalization. Phenomenology and the Cognitive Sciences, v. III, n. 4, p. 331-347, 2004.

ZAHAVI, Dan. Internalism and externalism in phenomenological perspective. Synthese, v. CLX, n. 3, p. 309-312, 2008.

ZAHAVI, Dan. Intentionnalité et phénoménalité: un regard phénoménologique sur le “problème difficile”. Philosophie, v. CXXIV, n. 1, p. 80-104, 2015.

Downloads

Publicado

2025-03-10

Como Citar

EMANUELE, Mariani. Fenômeno vs. Fenomenicidade: Husserl e Natorp no pano de fundo de um debate atual. Revista Ágora Filosófica, Recife, PE, Brasil, v. 25, n. 1, p. 25–48, 2025. DOI: 10.25247/P1982-999X.2025.v25n1.p25-48. Disponível em: https://www1.unicap.br/ojs/index.php/agora/article/view/2537.. Acesso em: 16 mar. 2025.

Artigos Semelhantes

1-10 de 70

Você também pode iniciar uma pesquisa avançada por similaridade para este artigo.