Branquitude e Racismo Antinegro no BBB 21
uma análise crítica do discurso da reprodução do pacto narcísico e da fragilidade branca
DOI:
https://doi.org/10.25247/P1982-999X.2022.v22n1.p176-197Palavras-chave:
Branquitude, Racismo antinegro, Análise de Discurso, Crítica., Big Brother BrasilResumo
Neste artigo realizamos uma análise de discurso crítica da manifestação do pacto narcísico entre pessoas brancas a partir dos comentários que circularam no Twitter relativos à discriminação racial ocorrida no Big Brother Brasil, edição de 2021, a fim de problematizar os mecanismos de poder que atribuem privilégios raciais (materiais e simbólicos) à branquitude reproduzindo o racismo antinegro. Para tanto, tivemos por base de um lado os Estudos Críticos sobre a branquitude (BENTO, 2002, 2022; CARDOSO, 2010; CARDOSO, 2020; SCHUCMAN, 2014, entre outros/as) e de outro a abordagem teórico-metodológica da Análise de Discurso Crítica. (FAIRCLOUGH, 2001, 2003, 2005; CHOULIARAKI; FAIRCLOUGH, 1999). Tal abordagem discursiva procura identificar a significação da linguagem na produção, manutenção e mudança das relações sociais de poder. Concluímos que os discursos presentes nas postagens evidenciam o pacto narcísico da branquitude que sustenta o racismo estrutural, mitigando/negando ações e discursos de pessoas brancas que reverberam a hegemonia racial existente, como também demonstra a fragilidade branca que emerge da solidariedade entre os pares.
Downloads
Referências
ALMEIDA, Silvio. Racismo estrutural. São Paulo: Pólem, 2019.
BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
RAMOS, Alberto Guerreiro. Patologia social do “branco” brasileiro. In: RAMOS, Alberto. Introdução crítica à sociologia brasileira. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1995. p. 163-211.
BATISTA JR, José; SATO, Denise; MELO, Iran. (Orgs.). Análise de discurso crítica para linguistas e não linguistas. São Paulo: Parábola, 2018.
BENTO, Cida. Branqueamento e branquitude no Brasil. CARONE, Iray; BENTO; Maria. (Orgas). Psicologia social do racismo: estudos sobre branquitude e branqueamento no Brasil. Petrópolis: Vozes, 2002. p. 25-58.
BENTO, Cida. Pactos narcísicos no racismo: branquitude e poder nas organizações empresariais e no poder público. 2002. Tese (Doutorado em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano) - Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2002. doi:10.11606/T.47.2019.tde-18062019- 181514.
BENTO, Cida. O branco na luta antirracista: limites e possibilidades. In: Branquitude: racismo e antirracismo (diálogos do encontro). 2. ed. Rio de Janeiro: Instituto Ibirapitanga, 2021.
BENTO, Cida. O pacto da branquitude. São Paulo: Companhia das Letras, 2022.
BONFIM, Marco. Linguagem e identidade: O lugar do corpo nas práticas identitárias raciais”. Linguagem em Foco - Dossiê Linguagem e Raça: diálogos possíveis. v. 8, n. 2, 2016.
BONFIM, Marco. Mística e identidade Sem Terra: uma Análise de Discurso Crítica Multimodal no Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. Colineares, v. 05, n. 02, 2018. p. 33-49.
BONFIM, Marco. Por uma linguística aplicada antirracista, descolonial e militante: racismo e branquitude e seus efeitos sociais. Lingu@ Nostr@, v. 8, 2021. p. 157-178.
CARDOSO, Lourenço. Branquitude acrítica e crítica: A supremacia racial e o branco anti-racista. Revista Latinoamericana de Ciencias Sociales, v. 8, 2010. p. 607-630.
CARDOSO, Lourenço. O branco ante a rebeldia do desejo: um estudo sobre o pesquisador branco que possui o negro como objeto científico tradicional (a branquitude acadêmica v.2). 1ed. Curitiba: Appris, 2020.
CARREIRA, Denise. O lugar dos sujeitos brancos na luta antirracista. SUR 28, v.15 n. 28, 2018, p. 127-137.
CHOULIARAKI, Lilie; FAIRCLOUGH, Norman. Discourse in late modernity: rethinking critical discourse analysis. Edimburgo: Edimburgh University Press, 1999.
DIANGELO, Robin. Não basta não ser racista: sejamos antirracistas. Trad. Marcos Marciolino. São Paulo: Faro Editorial, 2018.
FAIRCLOUGH, Norman. Analysing discourse: Textual analysis for social research. London and New York: Routledge, 2003.
FAIRCLOUGH, Norman. Discurso e mudança social. Coord.trad.; revisão e prefácio à ed. brasileira de Izabel Magalhães. Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 2001.
FAIRCLOUGH, Norman. Peripheral vision: discourse analysis in organization studies – the case for critical realism. Organization Studies, v. 26, n. 6, 2005. p. 915-939. Disponível em: <https://journals.sagepub.com/doi/10.1177/0170840605054610>. Acesso em: 30 mar. 2020.
FANON, Frantz. Pele negra, máscaras brancas. Salvador, EDUFBA, 2008.
GOMES, Nilma. Alguns termos e conceitos presentes no debate sobre relações raciais no Brasil. Educação antirracista: caminhos abertos pela Lei Federal nº 10.639/03. Ministério da Educação e Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. Brasília, 2005.
GOMES, Nilma. Corpo e cabelo como ícones de construção da beleza e da identidade negra nos salões étnicos de Belo Horizonte. São Paulo: USP, 2002.
GOMES, Nilma. Entrevista. Revista Linguagem em Foco. v.8, n. 2. Fortaleza, 2016. p. 115-122.
GOMES, Nilma. O movimento negro educador: saberes construídos nas lutas por emancipação. Petrópolis: Vozes, 2017.
GUIMARÃES, Antonio Sérgio. Cor e raça: Raça, cor e outros conceitos analíticos. In PINHO, O; SANSONE, L. (Orgs). Raça: novas perspectivas antropológicas. 2. ed. rev. Salvador: Associação Brasileira de Antropologia: EDUFBA, 2008. p. 63-82.
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade.11. ed. Trad. Tomaz Tadeu da Silva, Guaracira Lopes Louro. Rio de Janeiro: DP&A, 2006.
HALLIDAY, Michael. An Introduction to Functional Grammar. London: British Library Cataloguing in Publication Data, 1985.
HOOKS, Bell. Alisando o nosso cabelo. Trad. Lia Maria dos Santos. Revista Gazeta de Cuba – Unión de escritores y Artista de Cuba, janeiro-fevereiro de 2005. Tradução do espanhol: Lia Maria dos Santos. Disponível em: <https://www.geledes.org.br/alisando-o-nosso-cabelo- por-bellhooks/>. Acesso em: 05 fev. 2022.
IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Desigualdades sociais por cor ou raça no Brasil. Estudos e Pesquisas. Informação Demográfica e Socioeconômica. v. 41. Rio de Janeiro: IBGE, 2019.
IRINEU, Lucineudo; PEREIRA, Adriana; SILVA, Ametista; SANTANA, Ana; LIMA, Fernando; SANTOS, Suellen. Análise de Discurso Crítica: conceitos-chave. 1. ed. Campinas: Pontes Editores, 2020.
JESUS, Rodrigo. Quem quer (pode) ser negro no Brasil? 1. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2021. (Coleção Cultura Negra e Identidades).
LOPES, Adriana. Funk-se quem quiser no batidão negro da cidade carioca. Tese (Doutorado em Linguística). Campinas. Instituto de Estudos da Linguagem/ IEL, Universidade Estadual de Campinas/ UNICAMP, 2010.
MAGALHÃES, Izabel. MARTINS, André; RESENDE, Viviane. Análise de discurso crítica: um método de pesquisa qualitativa. Brasília: Universidade de Brasília, 2017.
MUNANGA, Kabengele. Rediscutindo a mestiçagem no Brasil: identidade nacional versus identidade negra. 5. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2020.
NASCIMENTO, Gabriel. Racismo linguístico: os subterrâneos da linguagem e do racismo. Belo Horizonte: Letramento, 2019.
NOGUERA, Renato. O ensino de filosofia e a lei 10.639. 1.ed. Rio de Janeiro: Pallas: Biblioteca Nacional, 2014.
OLIVEIRA, Daniele; RESENDE, Viviane. Branquitude, discurso e representação de mulheres negras no ambiente acadêmico da UFBA. Bakhtiniana, 15(4), out./dez. 2020. p. 149-171.
OSÓRIO, Andy. Corra, homem negro! Uma análise de discurso crítica da constituição discursiva de masculinidades negras e estereótipos racistas no filme Get Out (2017). 109f. Dissertação (Mestrado em História e Letras). Mestrado Acadêmico Interdisciplinar em História e Letras. Faculdade de Educação, Ciências e Letras do Sertão Central, Quixadá, 2021.
RAMALHO, Viviane. RESENDE, Viviane de Melo. Análise de discurso crítica. São Paulo: Contexto, 2006.
REZENDE, Claudia Barcellos; MAGGIE, Yvonne. Raça como retórica: a construção da diferença. In: Rezende, Claudia Barcellos e Maggie, Yvonne (Orgs). Raça como retórica: a construção da diferença. Rio de Janeiro: Ed. Civilização Brasileira, 2001.
RODRIGUES, Vera. “Sim, o racismo existe!” In: AMARO, Sarita; OLIVEIRA Evaldo Ribeiro (orgs.). Entre Vivências e Resistências: o racismo na ótica de negras(os) intelectuais. 1. ed. Nova Práxis Editorial, Curitiba, 2019. p. 229-246.
SCHUCMAN, Lia Vainer. Branquitude e poder: revisitando o “medo branco” no século XXI. Revista da ABPN. v. 6, n. 13, 2014 p. 134-147.
SCHUCMAN, Lia. Entre o encardido, o branco e o branquíssimo: branquitude, hierarquia e poder na cidade de São Paulo. 2. edição. São Paulo: Veneta, 2020.
SCHUCMAN, Lia. Entre o encardido, o branco e o branquíssimo: branquitude, hierarquia e poder na cidade de São Paulo. Tese (Doutorado em Psicologia Social). Programa de Pós-Graduação em Psicologia/Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, 2012.
SOUZA, Neusa. Tornar-se Negro: as vicissitudes da identidade do negro Brasileiro em Ascensão Social. Rio de Janeiro: Graal, 1983.
TWINE, France; STEINBUGLER, Amy. The gap between whites and whiteness: interracial intimacy and Racial Literacy. Du Bois Review, 3(2), 2006. 341–363.
VAN DIJK, Teun. Discurso antirracista no Brasil: da abolição às ações afirmativas. Trad. Conceição Guisardi e revisão da trad. Viviane Resende. São Paulo: Contexto, 2021.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2022 Revista Ágora Filosófica
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License. Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
- Autores mantém os direitos autorais e concedem à Revista Ágora Filosófica o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta Revista.
- Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), desde que reconheça e indique a autoria e a publicação inicial nesta Revista.
- Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer momento depois da conclusão de todo processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre).