Avaliação da IIª Semana da Conciência Negra da Unicap

A IIª Semana de Consciência Negra – “ELES BULIRAM, NÓS VAMOS ABOLIR” -, realizada entre os dias 09 e 13 de novembro de 2009, foi fruto de uma decisão da Alta Direção da Unicap, de prover a Universidade de instituições e equipamentos necessários para responder a Lei 10.639/2003 que estabelece a obrigatoriedade da inclusão no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-brasileira”.

A semana teve como “eixos estruturantes” três eventos históricos: Os 122 anos da Abolição da Escravidão; os 314 anos do martírio de Zumbi dos Palmares e o Centenário de Nascimento de D. Helder Câmara. Os dois primeiros, reconhecidamente eventos ligados à história e cultura afro-brasileira; o último evento nomeado faz memória a um dos ícones da luta pelos direitos humanos, notadamente do “direito dos pobres”. Enquanto foi bispo da Arquidiocese de Olinda e Recife, D. Helder notabilizou-se por sua defesa intransigente dos mais pobres ou como ele mesmo os nomeava de seus “pequenos irmãos”.

D. Helder ajudou a construir uma belíssima página da história brasileira contemporânea,quando em 1981,acolheu na Arquidiocese que presidia a “Missa dos Quilombos” no dia 22 de novembro. O evento aconteceu na Praça do Carmo, lugar onde a cabeça de Zumbi ficou exposta depois de seu assassinato em 1695. Reunindo um público de 8 mil pessoas,essa celebração eucarística criada por D. Pedro Casaldáliga e Pedro Tierra,com música de Milton Nascimento,transformou-se num marco do processo de inculturação da liturgia católica. O ato religioso denunciou as consequências da escravidão e do preconceito no Brasil e se transformou numa cerimônia de fé, comunhão, música e ritmo, a partir da atitude revolucionária de membros da Igreja em favor da introdução de referências culturais afro-brasileiras na celebração eucarística.

A IIª Semana reuniu um público formado basicamente por professores das redes pública e particular da cidade,estudantes de diversas instituições de ensino,pesquisadores,lideranças da sociedade civil e do Movimento Popular.A todo esse público,somou-se ainda a participação internas dos alunos da Unicap e notadamente da comunidade afro-pernambucana.

O evento teve como inquietação principal investigar (com a realização de Seminários, Painéis, Mesas Redondas e Mini-Cursos), debater e apresentar o tema da “abolição da escravidão”, com o sugestivo lema “Eles buliram, nós vamos abolir”.

A escolha do tema se deve a uma estratégia mais ampla de nos próximos anos (2008 a 2012) realizar um re-leitura histórico-crítica da “abolição da escravidão”, recolhendo para isso os resultados dos estudos interdisciplinares que renovaram a pesquisa científica sobre o tema. A essa proposição de caráter mais epistemológico agregamos a deliberação (também estratégica)da Unicap, de potencializar a extensão universitária,fazendo valer para isso o “paradigma da indissociabilidade entre ensino,pesquisa e extensão” assim como indicado na sua “Carta de Princípios”.

A partir da temática geral da IIª Semana, foram abordados os seguintes sub-temas: “A África contemporânea e seus atuais dilemas”; “África: novos olhares, novos saberes”; “Angola do passado, presente, rumo ao futuro”; “Religiões Afro-brasileiras, no plural: Candomblé, Xangô, Jurema, Umbanda”; “Novas relações entre a Igreja Católica e as religiões de matriz africana” e “O compromisso social das ciências e dos cientistas na luta pela superação das desigualdades sociais”

À discussão do rico temário exposto no parágrafo anterior, aliou-se uma extensa pauta de atividades afro-culturais (danças dramáticas populares, maracatu, capoeira, frevo, poesia, música e teatro), que enriqueceram de ludicidade a questão racial brasileira.

Finalmente encerrou-se a IIª Semana da Consciência Negra, com a celebração de uma “missa inculturada em estilo afro-brasileiro”; considerada por muitos, como um dos eventos mais significativos da IIª Semana.

Imediatamente após a celebração eucarística realizou-se uma “Kizomba” (festa-confraternização), reunindo todos muitos dos elementos presentes nas cosmovisões africanas e afro-brasileiras: solidariedade, alegria, inclusão e partilha.

Não poderíamos terminar esta avaliação,sem chamar a atenção para a participação da comunidade angolana presente na Unicap(são mais de trinta estudantes,freqüentando diversos cursos) e aqueles “ad extra”. Nossos irmãos angolanos,nossas irmãs angolanas nos “presentearam” com a organização do dia 11 de novembro,dia da Independência de Angola(1975).

O debate sobre “uma Angola que renasce junto com toda África”; o momento cultural com uma linda performance de dança;o desfile de “moda angolana” e os deliciosos “quitutes”,oferecidos na confraternização por eles organizada,encheu os nossos olhos e os nossos corações… Com certeza naquele dia fortalecemos os laços que nos faz povos irmãos e nos refizemos “africanamente” pernambucanos.

Coordenador do NEABI/UNICAP:Clovis Cabral

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