Desafios pandêmicos na atenção e promoção dos cuidados com a saúde dos povos Warao

No contexto da pandemia do coronavírus, muitos foram os desafios enfrentados no sistema de saúde, mas um em especial chamou a atenção de profissionais do Distrito Sanitário I (DSI): a atenção e a promoção da saúde para imigrantes venezuelanos da etnia Warao. Esses desafios vão desde a barreira linguística, pois grande parte desses grupos falam somente no dialeto Warao, até o desenvolvimento de competências culturais.

Até esse ano, foram registrados pelas autoridades que cerca de 130 mil venezuelanos pediram asilo no Brasil para fugir do cenário de crise política, humanitária e econômica que a Venezuela vem enfrentando. Grande parte desses imigrantes são os povos Warao. Perante a necessidade de lidar com esse grande fluxo de imigrantes, foi aprovada no Brasil a Lei n. 13.445, que reconhece os direitos desses grupos. Nela é garantido o direito ao “acesso a serviços públicos de saúde, assistência social e à previdência social, sem discriminação em razão da nacionalidade e da condição migratória”.

Com a covid-19 ficou evidente que existe um grupo de maior vulnerabilidade no enfrentamento da doença. Essa população é diretamente atingida pelas desigualdades no acesso a bens e serviços – o que consequentemente causa um agravamento do quadro. Em abril deste ano, a Vigilância Epidemiológica do DSI foi informada pela Secretaria de Assistência Social do Município sobre um óbito de um imigrante venezuelano Warao com suspeita de covid-19. Ele morava em uma residência com mais 25 pessoas da mesma etnia e integrava um grupo de outros 168 venezuelanos. Assim como esse grupo, diversos outros se encontram tão ou até mais vulneráveis.

Em visitas domiciliares feitas pela Vigilância Epidemiológica foram relatados que os imigrantes enfrentavam contexto de insalubridade habitacional, de cuidados básicos, alimentação precária, além da ausência de acompanhamento das unidades básicas de saúde por se encontrarem em área descoberta da Atenção Primária de Saúde (APS). Outros problemas também vem sido percebidos, como a dificuldade de comunicação adequada, inclusive na transmissão de informações e orientações relativas a covid-19; as condições de subsistência, que faz com que muitos desses venezuelanos fiquem expostos pelas ruas da cidade; os requisitos de biossegurança exigidos para a prevenção do contágio – que acabam interferindo nas dinâmicas de vida e ritos, incluindo os fúnebres, que requerem compartilhamento e aglomeração; ou até mesmo na formação de vínculos com esses grupos que se apresentou como um desafio na ação da vacinação contra o vírus, pois muitos apresentam resistência na hora de se vacinar, por acreditar que estavam sadios.

 

Texto: Deborah Amanda

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