Cristofascismo em questão: entre a teologia política de Dorothee Sölle e o pensamento fraco de Gianni Vattimo

Resumo

Este artigo analisa criticamente o fenômeno do cristofascismo, compreendido como a confluência entre fundamentalismo religioso e autoritarismo político, a partir do diálogo entre a teologia política de Dorothee Sölle e o pensamento fraco de Gianni Vattimo. Sölle denuncia a instrumentalização da fé cristã como legitimação de opressão, exclusão e violência, propondo uma espiritualidade engajada na justiça social e na libertação dos marginalizados. Vattimo, por sua vez, elabora a noção de “debilidade de Deus” como contraponto à ideia de um Deus onipotente e autoritário, frequentemente convocado para sustentar práticas de intolerância. Longe de significar impotência, essa debilidade representa a solidariedade divina com a fragilidade humana, abrindo espaço para uma religião mais inclusiva, dialógica e compassiva. A aproximação entre Sölle e Vattimo evidencia a necessidade de superar verdades absolutas e de reinterpretar as escrituras em chave contextual, fortalecendo práticas de tolerância e abertura ao pluralismo. No contexto brasileiro, onde discursos cristofascistas têm se intensificado, o pensamento desses autores revela-se especialmente relevante para resistir à manipulação religiosa na esfera política. Tais contribuições nos inspiram à construção de uma espiritualidade pós-metafísica capaz de promover justiça, democracia e fraternidade, reafirmando a vocação do cristianismo como força de transformação social e não como instrumento de dominação.