Por Israel Teixeira

No jornalismo, o fotojornalismo tem o importante papel de registrar o cotidiano da sociedade, momentos históricos, informando por meio das imagens. O profissional fotojornalista é o responsável por criar cenários, retratar diferentes acontecimentos, trabalhando ao lado de repórteres ou em iniciativas autorais. Mas será que há imparcialidade nesses registros? Para a professora Renata Victor, não. “Na hora que o fotógrafo pega a câmera fotográfica e escolhe determinado ângulo para fotografar um determinado assunto, ele já está induzindo as pessoas a olharem pelo prisma dele. Toda fotografia tem uma intenção, então elas não são imparciais”, Renata coordena o curso de Fotografia da Unicap e leciona nos cursos de Jornalismo, Publicidade e Arquitetura. Para ela, o cuidado com a ética no exercício da profissão é um ponto crucial para esta atividade profissional. 

“Além da intencionalidade dos fotógrafos, as imagens passam por um processo de avaliação nos veículos de comunicação nos quais esses profissionais operam”, diz ela. “Todos os veículos de comunicação têm suas condutas para publicar uma imagem. Elas passam não só por uma avaliação do fotógrafo que executa a imagem, mas também pelos editores e pelo editor geral. Então, diante dessa conduta, eles avaliam se corresponde a linha editorial daquele veículo. Existe um grande filtro para evitar imagens não éticas”, afirma.  

Renata Victor: o fotojornalismo é uma forma de registrar momentos que ficarão eternizados na história da humanidade. Foto: acervo pessoal

O registro fotográfico é uma linguagem visual que permite captar aspectos socioculturais, econômicos e políticos. Ele pode ser usado para destacar a linha editorial de uma publicação. Um exemplo disso aconteceu na história recente da política brasileira retratada na mídia. A capa da revista IstoÉ, edição do dia 6 de abril de 2016, ilustrou a expressão de “perda de condições emocionais” de Dilma Rousseff, mostrando a intenção do fotógrafo e do editor em expor uma imagem distorcida da presidenta. A capa foi alvo de análises de pesquisadores e grupos feministas, que identificaram um discurso misógino e abordagens diferentes sobre homens e mulheres na política brasileira.  

Capa da edição 2417 da IstoÉ. Fonte: Acervo da revista IstoÉ.

Outro exemplo de imagens que violam os direitos humanos foi a capa do Aqui PE, jornal da Região Metropolitana do Recife, que publicou o corpo da moradora de rua, Diana, com a genitália à mostra, depois de ter sido espancada até a morte pelo companheiro. A edição, publicada em setembro de 2017, traduzia o aspecto sensacionalista do jornal e de total desrespeito pelas mulheres. O Ministério Público de Pernambuco, através da Promotoria de Direitos Humanos, interveio no caso e o Aqui PE assinou um Termo de Ajustamento de Conduta para reparar as violações cometidas. À época, a Comissão de Ética do Sindicato dos Jornalistas e outras entidades feministas lançaram nota de repúdio ao tratamento dado pelo jornal ao fato.

                  Aqui PE – Capa de 1º de setembro de 2017
                Fonte: Hachetetepé. Revista científica de Educación y Comunicación

Professor do Mestrado em Indústrias Criativas da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) e dos cursos de graduação em Fotografia e Jornalismo, além de servidor público do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE), João Guilherme Peixoto destaca o cuidado com a ética que se deve ter na produção de imagens na contemporaneidade. “É importante a gente dizer que precisamos de certos princípios éticos para reger a sociedade atualmente. Estamos falando do fotojornalismo que usa a imagem para fazer esse recorte social da realidade. Todos aqueles preceitos que aprendemos sobre ética devem, sim, ser aplicados ao universo da imagem. É importante creditar o fotógrafo, entender que certas questões existem e a gente precisa estar atento, como por exemplo quando fotografamos crianças e pessoas em situação de vulnerabilidade”, relata.

        João Guilherme ressalta a importância de falar sobre a ética no fotojornalismo. Foto: acervo pessoal

O cinema também tem contribuído para o debate sobre este tema. Repórteres de Guerra (2011) e Abaixando a Máquina (2007), produções dos diretores Steven Silver, Guillermo Planel e Renato de Paula, abordam o contexto do trabalho dos fotojornalistas e os limites na busca por uma foto. O longa e o documentário abordam a rotina desses mediadores do jornalismo fotográfico, observando seus seus métodos, quando fazem a cobertura de conflitos perigosos, a coragem, a autoconfiança e a empatia. 

Bastidores das gravações de Repórteres de Guerra, filme de 2011 – Foto: Divulgação

O fotojornalismo, principalmente no contexto digital, diz João Guilherme Peixoto, apresenta novos desafios para a preservação da ética. Ele reforça que esses profissionais do jornalismo precisam estar com os olhos atentos e ouvidos aguçados. “Quando a gente tenta fotografar a partir desse nosso olhar, precisamos entender que do outro lado o leitor e a leitora também precisam ter esse contexto, no qual estamos inseridos, muito bem representado e mapeado”, finaliza.