O ano é 1959. Na véspera dos anos 60, onde viriam a ocorrer eventos que mudariam toda a percepção do mundo acerca de muitos temas, surge uma ideia inusitada e arriscada. Na Convenção Internacional de Brinquedos em Nova Iorque, surge uma figura esbelta, loira, com uma roupa extremamente detalhada, medindo 28cm. Essa figura tão pequena era a Barbie. Representada pela fabricante Mattel e idealizada por Ruth Randler e Jack Ryan, a boneca se tornou um sucesso. O que faria uma simples boneca vender tanto e tão bem?
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A primeira boneca Barbie, lançada ao mundo no dia 9 de março de 1959. (Foto: Mattel)
Ruth Handler, uma bem sucedida mulher de negócios, notava que sua pequena filha, Barbara, brincava com bonecas recortadas em papel para vesti-las e customizá-las. Em uma viagem à Europa,em 1955, descobre a boneca alemã Bild Lili, que era direcionada a um público adulto poor ser baseada na personagem de um gibi erótico. Ruth leva a ideia aos EUA, e então começa a remodelar a ideia para criar a Barbie. Segundo a Mattel, a Barbie vendeu em seu primeiro ano no mercado 350.000 bonecas. Com um estrondoso sucesso, a Barbie vê, então, a necessidade de variar seu catálogo. As bonecas que até então eram feitas para serem gloriosamente vestidas com roupas que eram vendidas separadamente, agora ganham versões mais completas – a Barbie vai ganhando uma narrativa. Em 1965, Barbie já era uma marca consolidada e demonstrava sua grande ambição: foi lançada, em plena corrida espacial, uma Barbie astronauta. Usando um típico traje espacial, a Barbie atingiu então um outro nível: o de inspirar e criar horizontes para seu público, majoritariamente composto por garotas jovens. Desde sua jornada espacial, Barbie teve mais de 150 carreiras, de top model até engenheira de software.
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Barbie astronauta de 1965. (Foto: Mattel)
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Coleção de 2018, mostrando algumas profissões da Barbie e suas amigas. Na imagem temos: Diretora de Longas, Desenvolvedora de Jogos, Empresária, Engenheira de Robótica, Exploradora de Marte, Engenheira de Computação e Arquiteta. (Foto: Mattel)
Ao longo de sua jornada, foi acompanhada por outras personagens que faziam papeis coadjuvantes na sua vida. Os exemplos mais notáveis são seu namorado Ken, uma de suas irmãs Skipper, e suas amigas Teresa e Midge. Com sua história sendo cuidadosamente delineada, em 1987 a Barbie se torna um produto audiovisual: são produzidos filmes, curta-metragens, músicas e a partir dos anos 2000, jogos interativos com sua marca.
Em 1986, a Barbie ganha um novo status na cultura pop quando Andy Warhol, famoso fotógrafo, pintor e designer, reproduz seu rosto em uma tela. A tela era um presente para o amigo Billy Boy, um talentoso designer de roupas e joias, que já colecionava bonecas Barbie e tinha uma fixação pela loira. Billy Boy então marca uma nova era para a Barbie: as bonecas podem ser feitas, também, para o deleite e coleção. Billy Boy produziu em 1985 duas bonecas para a Mattel: duas bonecas Barbie com roupas detalhadas, costura impecável e uma atenção gigante ao detalhe. Foram as primeiras bonecas a terem o nome do designer responsável inscrito na caixa. Estas edições limitadas foram acompanhadas de fotografias que quebravam a linha do senso comum na fotografia de produto: eram fotos que, assim como as bonecas, apresentavam um conceito. Desde então, a Barbie ganhou diversas edições limitadas e colecionáveis, muitas em parceria com marcas ou estilistas famosos; em 2004 oficialmente surge uma classificação para as bonecas colecionáveis – ganham selos oficiais conforme o número de unidades produzida. Milhares de colecionadores ávidos moldam suas coleções a partir das fotografias que são mostradas antes do lançamento das bonecas, que geralmente têm um valor acima da média da Barbie “comum”.
A reprodução da Barbie por Andy Warhol ganha uma edição especial colecionável da Barbie, em 2017. A boneca apresenta cabelo e joia similares às de Andy, e seu vestido é uma grande estampa da obra de arte. (Fotos: Acervo de Andy Warhol/Reprodução; Mattel)
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Billy Boy e sua boneca, criada especialmente para Mattel. A fotografia mostra o criador e sua criação, tentando jogar com as proporções para imaginarmos uma Barbie que pode ser como nós. (Foto: Reprodução/Acervo da Mattel)
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Barbie de Coleção Fantasy Goddess of Africa, de 1999. A comum fotografia de produto com um fundo branco ou monocromático é reimaginada para inserir a boneca no contexto desejado e esperado. A iluminação deve ser não somente eficiente para mostrar a boneca, mas também colaborar com sua estética. (Foto: Mattel)
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Barbie As Juliet, modelo do ano de 2004, tem uma das mais interessantes fotografias da linha de coleção. A boneca, inspirada por Julieta do romance atemporal de Shakespeare, foi fotografada em um cenário miniaturizado, onde o jogo de luzes simula uma noite de lua intensa. A silhueta da boneca é destacada por uma linda luz de contorno, enquanto que suas feições são iluminadas precisamente para que seja possível também visualizar seu rosto e maquiagem. (Foto: Mattel)
Uma história peculiar chama atenção na relação da Barbie com a fotografia. Um semhor chamado Al Carbee, ganha atenção do mundo das artes ao debutar, aos 89 anos de idade, uma exposição no museu da pequena cidade de Saco, nos EUA, contendo fotografias e colagens diversas utilizando a boneca como personagem principal. Al Carbee, que possuía uma vasta e diversa coleção de bonecas Barbie, expressava através de dioramas (pequenos cenários) e bonecas sua ânsia criativa. Sua criação deu origem a um notável documentário intitulado “Magical Universe” onde ele narra precisamente suas criações. Mesmo após falecer em 2005, suas imagens foram e continuam sendo fonte de inspiração para fotógrafos, colecionadores e entusiastas da arte.
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Al Carbee em seu estúdio improvisado, na sua casa, fotografando suas bonecas para suas composições. (Foto: Reprodução/John Atherton Monroe).
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Colagem de Al Carbee onde a Barbie aparece como estrela. (Foto: Reprodução/Al Carbee)
A história da Barbie, no entanto, não é apenas construída no glamour e nos aplausos. Nos anos 90 começaram as primeiras críticas de que a boneca possuía proporções incoerentes: sua cintura seria muito fina, seus quadris não teriam a forma normal de uma mulher adulta, e muitas outras críticas. Em sua defesa, a Barbie alegava que estas proporções não poderiam ser comparadas a uma mulher adulta pois seu pequeno corpo deveria ter uma ergonomia que pudesse vestir as minúsculas roupas, que exigiam um processo diferente das roupas para adultos. Ainda assim, a Mattel decide em 2016 estrelar uma nova linha de bonecas, as Fashionistas. As Fashionistas estreavam um momento único na história: a Barbie agora possuía novos biotipos, tons de pele e diversidade imensa de cabelos, maquiagens e estilos. Em 2018, as Barbies Colecionáveis ganham uma nova linha de bonecas inspiradas por grandes mulheres; todos os anos são lançadas novas bonecas que mostram exemplos diversos como Frida Kahlo, Amelia Earhart, Katherine Johnson e muitas outras.
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Coleção “Mulheres Inspiradoras” da Barbie, que começou com 3 grandes exemplos de perseverança feminina, e hoje já conta com mais de 20 modelos. (Foto: Mattel)
Em todo seu curso de vida, a Barbie inspirou e inspira especialmente garotas jovens de todo o mundo. Para os colecionadores, ela não é somente inspiração, mas também criação: muitos fotografam suas coleções de maneira única. O que não se pode negar é que um pequeno pedaço de plástico mudou o mundo. Desde 2017, as arrecadações mundiais da Barbie vêm caindo: o entretenimento por meios digitais conquistou seu público alvo infantil, deixando a fantasia de brincar de boneca de lado. Mas, ainda assim, ela chega aos 60 anos com uma coleção de bonecas comuns e para colecionadores, mostrando toda sua versatilidade e glamour.
Sexagenária, a Barbie certamente tem muito a dizer. E mais ainda quem a acompanha, fielmente. Para muitos o que era apenas plástico, se torna parte de suas vidas. O que toda sua jornada culmina até hoje é no seu amadurecimento. Desprendendo-se dos padrões do passado, buscando sempre novos horizontes com artistas e colaboradores, a Barbie mostra uma mulher contemporânea, que não tem medo de se expressar, de mostrar suas conquistas e de inspirar quem a cerca.
Feliz 60 anos, Barbie!
Referências:
https://hyperallergic.com/125248/al-carbees-art-of-dolls-and-yearning-oh-for-a-real-live-barbie/
https://barbielistholland.files.wordpress.com/
https://mashable.com/article/barbie-careers-stem-robotics-engineer/#Vp.Ml.5iHOqh
https://www.history.com/news/barbie-through-the-ages
https://barbie.mattel.com/shop/en-us/ba/barbie-signature-gallery
https://en.wikipedia.org/wiki/Barbie
Texto da aluna Alice Brooks
Amei! Sempre fui fã S2