As Mulheres na Fotografia

Homenagem a grandes fotógrafas da História da Fotografia

por Profa. Ms. Julianna Torezani

A fotografia foi desenvolvida no século XIX através das experiências de vários fotógrafos que testaram substâncias sensíveis à luz colocando placas sensibilizadas com estas dentro da câmara escura. De 1826 em diante, desde que Joseph Nicéphore Niépce fez a primeira fotografia permanente na história, muitos nomes se destacam em trabalhos maravilhosos com a missão de registrar o mundo.

Em função do dia 8 de março ser o Dia Internacional da Mulher, por conta de vários acontecimentos do final do século XIX e início do século XX, mas sobretudo por conta de que em 8 de março de 1917, durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) vários protestos eclodiram em todo o mundo. Nesta data, cerca de 90 mil operárias manifestaram-se contra as más condições de trabalho, a fome e a participação russa na guerra para o Czar Nicolau II, este ato é conhecido como “Pão e Paz”. Mas a data só foi oficializada em 1921.

Diante disso vamos relembrar algumas grandes fotógrafas que se destacaram ao longo do tempo com imagens incríveis e ajudam a escrever a história da fotografia. A primeira foi a grande retratista do século XIX, Julia Margaret Cameron (1815-1879), fotógrafa indiana nascida em Calcutá, depois radicada na Inglaterra, começou a fotografar aos 48 anos, fez fotografias da sua família e de amigos, mas também pessoas famosas da época, como Charles Darwin e Sir. John Herschel (astrônomo inglês que participou do desenvolvimento do processo fotográfico). Além disso, usava a fotografia de forma criativa ao retratar as mulheres como heroínas, fazendo inclusive encenações.

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Uma das principais fotógrafas do projeto Farm Security Administration, realizado nos Estados Unidos em função da depressão dos anos 1930, foi a norte-americana Dorothea Lange (1895-1965). Pedagoga que estudou em Sorbonne, fez a imagem mais famosa do projeto em 1936, “Mãe migrante, Nipomo, Califórnia”, que mostra uma mãe e seus filhos passando fome, é considerada a imagem mais publicada da história. Com o propósito de documentar os horrores provenientes dessa situação, publicou o livro The American Exodus (O Êxodo Americano), com texto de Paul Taylor. O livro foi utilizado para um relatório do Congresso Americano e, com esse projeto, Lange fez da situação um problema conhecido nacionalmente, tendo suas fotos publicadas em inúmeros jornais e revistas. Mais tarde fez reportagens para a Life em países da América Latina e da Ásia.

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Outra grande fotógrafa foi a norte-americana Margaret Bourke-White (1904-1971) que fotografou vários temas e destaca-se pelo seu pioneirismo. Criou fotografias da fundição de aço da Otis Steel Company em Cleveland, Ohio, nos Estados Unidos. Foi a primeira repórter fotográfica das revistas Life e Fortune. Publicou uma obra fotográfica, em 1937, sobre os estados do sul dos Estados Unidos durante a Grande Depressão, intitulada “You Have Seen their Faces”, do escritor Erskine Caldwell. Foi a primeira mulher que teve a permissão de fotografar na União Soviética na década de 1930, um oficial russo deu a permissão após examinar seu portfólio, produziu cerca de mil imagens de barragens, fábricas e trabalhadores. Ficou no front de batalha durante a Segunda Guerra Mundial, inclusive fazendo imagens de campos de extermínio nazistas. Fez também imagens de Mahatma Gandhi em sua casa, horas antes dele ser assassinado em 1946.

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Diane Arbus (1923-1971), fotógrafa norte-americana, iniciou sua carreira como fotógrafa de moda junto com seu marido Allan Arbus, mas a partir dos anos 1960 interessou-se por outros temas, passou a fotografar deficientes, travestis, anões e prostitutas, ou seja, passou a retratar o que era considerado uma população marginal, pessoas que não eram fotografadas por outros fotógrafos. Fez através de seu trabalho uma reflexão sobre os estereótipos da moda em contradição as pessoas que estavam fora desse padrão de beleza a ser fotografado e publicado. Sua fotografia busca o contexto e a situação vivida por estas pessoas, vai além dos retratos, porque apresenta os lugares onde vivem tais pessoas, em hotéis, circos, hospitais e campos de nudismo.

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Uma mulher que por décadas fotografou, mas nunca mostrou suas fotos a ninguém foi Vivian Maier (1926-2009). Ela nasceu em Nova Iorque e fez fotografias de rua, mostrando as pessoas e os lugares. Maier passou a sua infância na França e após voltar para os Estados Unidos, trabalhou como babá por mais de 40 anos e durante este período, em seus dias de folga, fotografou a cidade de Nova Iorque, focando nas ruas, nas pessoas e nos edifícios, sempre com a sua câmera Rolleiflex. Foram mais de 150 mil fotografias mostrando as pessoas e a arquitetura da sua cidade natal, além de Los Angeles e Chicago entre as décadas de 1950 e 1960. Também fez fotos de Manila, Bangkok, Pequim, Egito e Itália. Este material só foi descoberto em 2007, por John Maloof, que reconheceu o valor artístico e histórico do material, mas foi somente após a sua morte que houve o reconhecimento do seu trabalho e o material começou a ser reproduzido na internet e em revistas especializadas, além da publicação de livros com o seu acervo e exposições na Alemanha, Inglaterra, França, Bélgica e Suécia.

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No cenário brasileiro, destaca-se a fotógrafa Nair Benedicto (1940), formada em Comunicação (Rádio e Televisão) pela Universidade de São Paulo em 1972, data em que iniciou sua carreira na fotografia. Foi sócia fundadora da Agência F4 de Fotojornalismo, em 1974, junto com os fotógrafos Juca Martins, Delfim Martins e Ricardo Malta e, também, da agência Nafoto. Desde 1991 dirige a agência N Imagens por onde veicula seus trabalhos, como as fotografias dos indígenas e trabalhadores sem terra. Documentou a situação da mulher e da criança na América Latina pela UNICEF em 1988 e 1989. Tem fotos publicadas nas principais revistas nacionais e internacionais, assim como no acervo do MOMA (Museu de Arte Moderna de Nova York), no Smithsonian de Washington, no MAM (Museu de Arte Moderna de São Paulo). Foi reconhecida com o Prêmio Trip Transformadores 2010 e foi a fotógrafa homenageada no Foto Fest POA 2012, além de muitos outros prêmios.

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Aos 15 anos, quando ganhou a sua primeira câmera de seu professor Nan Goldin (1953) começou a fotografar. Depois de se formar na School of the Museum of Fine Arts, em Boston, em 1978, mudou-se para Nova York e começou a fotografar o cenário new-wave pós-punk e a subcultura gay. Publicou seu diário visual íntimo com 700 slides acompanhadas de música intitulado A balada da dependência sexual, que trata da política sexual, a questão de gênero e revela a vida de uma comunidade marginal urbana no Lower East Side, em Nova York. Em novembro de 1989, Goldin foi curadora da exposição de imagens “Testemunhas contra nosso desaparecimento” na Galeria Artists Space, em Nova York, muitas das fotos tinham como tema o impacto da Aids sobre o corpo humano, com algumas imagens sexualmente explícitas, mostrando o corpo e a sexualidade. A intenção dos artistas com esta exposição foi alertar outras pessoas da devastação de sua comunidade e oferecer um espaço de apoio aos que estavam morrendo de Aids.

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A obra de autorretratos da fotógrafa norte-americana Cindy Sherman (1954) reflete o papel da mulher na sociedade, a série Untitled Film Stills (Fotogramas de cinema sem título), iniciada em 1977 apresentam imagens inicialmente em em preto e branco, e depois coloridas. Ao representar diferentes tipos femininos estereotipados, com poses inspiradas em personagens de novelas, de anúncios vistosos e de filmes de Hollywood dos anos 1950, problematiza o lugar na mulher. Sherman utiliza maquiagem, perucas, penteados, fantasias e acessórios em cenários distintos para compor a narrativa em que apresenta que a feminilidade é uma construção de códigos baseados na representação.

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O trabalho Mulheres de Alá (feito entre 1993-1997) da artista iraniana Shirin Neshat (1957), que saiu do Irã para os Estados Unidos em 1974, aos dezessete anos, discute a identidade das mulheres iranianas em relação ao fundamentalismo islâmico e a militância política no país. A Revolução Islâmica que ocorreu em 1979 a impediu de retornar ao país, só conseguindo voltar em 1993. A artista analisa através de seu trabalho a discrepância entre as experiências passada e presente dela no Irã, além de demonstrar sua identidade cultural e religiosa. Em suas imagens aparecem elementos simbólicos como o véu islâmico, a arma, o olhar e o texto em farsi, que são prosas e poesias escritas por mulheres iranianas, discute as questões sobre a sociedade patriarcal, a discriminação e a democracia no Irã.

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Fontes de consulta:

NADAL, Paula. Por que 8 de março é o Dia Internacional da Mulher? Revista Nova Escola. Disponível em: . Acesso: 08 mar. 2016.

TOREZANI, Julianna. As mulheres na fotografia. Ikoneblog. Disponível em: .

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