ELEIÇÕES: 2020 FOI MARCADO PELA REPRESENTATIVIDADE DE NEGROS E LGBTQIAP+ NO PLEITO ELEITORAL

As eleições municipais de 2020 apontam para uma mudança na estrutura política brasileira. Com um número significativo de negros e LGBTQIAP+ eleitos para câmaras municipais de todo país, a representatividade e a esperança em um futuro com mais igualdade só aumentam. De acordo com o movimento #voteLGBT, este ano, a candidatura LGBTQIAP+ foi a maior já registrada, com 502 candidatos. Desses, 83 foram eleitos. Só em São Paulo, o maior colégio eleitoral do país, dois dos dez vereadores mais votados são trans.

Outra grande conquista foi na cidade de Curitiba, que elegeu sua primeira mulher negra para ocupar um assento na câmara municipal. Em Porto Alegre cinco vereadores negros foram eleitos, número inédito para a capital gaúcha. Segundo dados do TSE, 49,9% dos candidatos neste ano se declararam pardos ou pretos – o número superou pela primeira vez a candidatura de pessoas brancas que representou 47,8%.

Pernambuco não fez diferente, a representatividade não ficou apenas na capital, mas se estendeu por toda região metropolitana, o que mostra que a terra dos altos coqueiros, conhecida pelas suas lutas revolucionárias, não aceita mais ser representada por oligarquias familiares.

Para Vinicius Castello, negro e homossexual eleito vereador na cidade de Olinda pelo PT, a participação de negros nos espaços de poder já deveria ser algo naturalizado, porque um estado democrático pressupõe a participação de todos, não só de homens brancos e heterossexuais. A construção de uma sociedade igualitária, segundo Castello “envolve todos os corpos”, e por isso a importância da participação de pessoas negras e LGBTQIAP+ na politica. “É algo atrasado, eu acho que por mais que todas as conquistas de pessoas que representam a coletividade seja algo a ser celebrado e necessário, é algo que já deveria estar naturalizado.”, afirma.

Vinicius Castello lembrou também que a Câmara dos Vereadores de Olinda foi a primeira do Brasil, e que foi construída sobre um projeto hegemônico europeu, que violava os direitos das pessoas negras e indígenas, e hoje ter pessoas que representam esses corpos políticos e que esteja alinhada com os direitos humanos e individuais é importante para trazer para Câmara esses discursos de coletividade. “A gente faz isso de maneira efetiva mesmo, saindo do discurso e trazendo pra praticidade, estabelecendo um mandato com equidade de gênero e de raça, potencializando lideranças que tenham alinhamento com esses discursos.”

Olinda não foi o único município da RMR a eleger uma pessoa negra e LGBTQIAP+. O município de Paulista, que fica a 18 km da capital, também elegeu sua primeira vereadora negra e lésbica, a professora de história e graduanda em Direito, Flávia Hellen, do PT. Ela afirma que o processo eleitoral deste ano foi importante, pois conseguiu ampliar a participação da população LGBTQIAP+ e da população negra nos espaços políticos. “A gente não tem mais dúvida de que nós precisamos ocupar os espaços estratégicos de poder, para que a gente fale por nós mesmos. Acredito que foi um avanço a gente ter um aumento da nossa participação nos espaços estratégicos de poder.”, ressaltou.

Flavia Hellen também destacou a importância de mais pessoas negras e LGBTQIAP+ ocuparem esses espaços institucionais que ainda são ocupados majoritariamente por pessoas brancas, heterossexuais, ricas, e que são ligadas a grupos econômicos. “Com o aumento da população negra e da população LGBTQIAP+ nesses espaços de poder a gente vai conseguindo fazer os devidos enfrentamentos, e estar reivindicando direitos, direitos esses que já estão previstos na nossa Constituição Federal. Acredito que quando a gente consegue colocar pessoas que tenham compromisso com o combate a desigualdade em espaços estratégicos de poder, a gente consegue avançar nessa luta”, disse.

Diante dos resultados eleitorais deste ano, as expectativas são de não retroceder nos anos seguintes. É importante que cada vez mais pessoas responsáveis e ligadas aos direitos humanos ocupem os cargos públicos e tenham voz para representar as lutas das classes populares.

 

Texto: Micael Morais e Odara Hana

Foto: Reprodução Portal Gladés

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