Pesquisas sobre o novo coronavírus não apontam raça como um dos fatores de grupos de risco. No entanto, o número de internações e óbitos de pacientes pretos e pardos é cinco vezes maior que o número de óbitos de pacientes brancos. Se raça não é um motivo de agravamento da doença, por que a população negra está morrendo mais?
A reposta pode estar em questões socioeconômicas e raciais. A pandemia da covid-19 deixou ainda mais evidente a desigualdade social e racial brasileira. Por muito tempo, o critério racial definiu quem tinha acesso a saneamento básico, moradia, educação e a serviços de saúde, aquilo que deveria ser direito essencial e básico para todos. Essas disparidades ainda são muito fortes no Brasil.
Grande parte da população negra do Brasil vive em comunidades. Lugares que, em sua grande maioria, tem saneamento básico precário, onde a falta de água é constante, e casas pequenas com mais de cinco moradores, que acarreta falta de espaço para cumprir o isolamento, o que torna difícil para essas pessoas realizar as recomendações básicas para evitar a infecção. Além disso, nem todos os brasileiros tem fácil acesso à informação, que seria essencial para entender os cuidados necessários, fora a dificuldade de entrada em hospitais públicos, que estão lotados e muitas vezes sem estrutura, a demora em conseguir o tratamento necessário pode ser letal. Então, sim, a desigualdade racial é o principal fator que explica a diferença nas taxas de letalidade e infecção entre negros e brancos.
Um aspecto socioeconômico, que também influência na taxa de mortalidade da população negra, é a necessidade de trabalhar, o que torna essas pessoas ainda mais expostas ao vírus. Muitos trabalham em serviços que exigem a presença física. Sem privilégio de Home Office, essa parcela da população precisa escolher entre seguir o isolamento social e ficar sem renda ou perder o emprego, ou sofrer com o risco de infecção.
Vale lembrar que há uma subnotificação de casos no Brasil, e nas periferias, o diagnóstico da covid-19 é ainda mais baixo, o que mostra que o número é ainda maior do que o que os registros apontam. Diante da necessidade da coleta de dados, uma liminar da Justiça Federal do Rio de Janeiro, determinou que casos confirmados e óbitos, que resultem do coronavírus, devem incluir informação de raça e cor dos pacientes.
Portanto, há um equívoco quando afirma -se que a pandemia é capaz de igualar todos, pois é evidente que uma parte da população sofre mais que a outra. E essa parte, tem cor e classe declaradas.
Matéria: Odara Hana
Imagem: Jerome Gilles