O Plenário da Assembléia Legislativa de Pernambuco aprovou um requerimento da Deputada Estadual Teresa Leitão e incluiu nos anais da Casa o artigo intitulado “Filósofos do atraso”, de autoria do ex-secretário da Fazenda e de Planejamento do Estado, Luiz Otávio Cavalcanti.
O texto foi publicado originalmente no Caderno Opinião do jornal Diario de Pernambuco. Nele, o autor descreve um estudo realizado sobre a Filosofia e ressalta a sua importância na formação humana e coletiva dos indivíduos. Em seu artigo, Luiz Otávio compartilha sua posição de espanto com a postura do atual governo em revogar uma ciência tão importante e essencial quanto as demais.
Para o professor de Direito Manoel Moraes, coordenador da Cátedra de Direitos Humanos Unesco/Unicap, o texto ressalta a importância da Filosofia como instrumento de emancipação de sujeito histórico. Segundo ele, trata-se da compreensão humanística e, antes de tudo, crítica de uma pedagogia que nasce no contraditório, na tentativa de refutar o que se pode chamar de verdade absoluta. “A retirada do pensamento filosófico, sociológico, do segundo grau não só é uma volta ao atraso como representa, antes de tudo, uma perda significativa do sentido maior do ser humano no seu cotidiano. Afinal de contas, estamos cercados por questões que nos impulsionam acerca da ética, de onde nós partimos, onde chegaremos. E é nesse lugar de partida que o texto anuncia a sua grande contribuição. Uma educação pública, de qualidade social ou mesmo a Educação no contexto mais amplo, prescinde desse pensamento crítico e ético”, analisa.
Manoel Moraes considera que é importante a transcrição do texto nos anais da Assembléia Legislativa de Pernambuco para que não se esqueça o que foi dito sobre a formação humana no momento atual da educação brasileira.
A seguir, confira, a íntegra do texto:
Filósofos do atraso
Luiz Otavio Cavalcanti
Ex-secretário da Fazenda e ex-secretário de Planejamento de Pernambuco.
Idos de 1960. Colégio Nóbrega. Curso Clássico, precedendo a escolha de Direito. No currículo, Filosofia. O professor era um jovem jesuíta. No decorrer das aulas, foram sendo delineadas as fronteiras do conhecimento. Nos seus três níveis: conhecimento empírico, conhecimento científico e conhecimento filosófico.
Aquelas noções, a estudantes que se preparavam para o curso superior, foram definitivas. O conhecimento empírico apreendido nas mãos operárias do pedreiro. O conhecimento científico absorvido nas hipóteses testadas em laboratórios. E certificadas na confirmação da ciência. O conhecimento filosófico moldando o pensar. Pensar correto. Na lógica. No silogismo. Todo homem morre. João é homem. Logo, João é mortal.
Aqueles princípios formaram a base que sedimentou o universo da Filosofia do Direito. Que viria a seguir. De Recasens Siches, por exemplo. Na sua lógica do razoável.
Por isso, não entendi, e não entendo, a orientação do governo de desmerecer o ensino da Filosofia. Mas, há mais. Tomemos a origem do pensamento ocidental cristão, tão caro aos do governo. Em Platão, vamos encontrar a ideia da busca da verdade. E, em Aristóteles, o entendimento do conceito de felicidade. Verdade e felicidade. Eis o binômio que mais ecoa a aspiração do espírito do homem ocidental. Na ventura que leva angústias e desígnios no céu de cada um.
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A caminhada que o homem histórico escreve, superando as trevas, dispensa o dogmatismo. E consagra o iluminismo dos filósofos. Valorizando o pensar. Realçando a capacidade de formular. De formar juízo crítico. De fazer o contraditório para tornar o mundo melhor. E isto foi no século 18.
Estamos no século 21. Avançamos muito na consolidação de ideais e de instituições. Ultrapassamos a era das revoluções. Amadurecemos a conquista de formas de convivência democrática. E estamos, hoje, enfrentando o desafio do neopopulismo autoritário.
Por isso, após tantas pedras no caminho, fico pasmo. Pasmo no que me parece a filosofia do atraso. Pretender revogar a filosofia é um atraso milenar.
Na prática, verdadeiramente, filosofar é semear o futuro. É assinalar, no horizonte do humano, as estrelas que iluminam a vida coletiva. Pois nada é tão humano e coletivo quanto a filosofia.