Portal de Conferências da Unicap, v. 2, n. XXIII, 2021: Semana de Estudos Linguísticos e Literários da Unicap

Tamanho da fonte: 
O DESBOCAMENTO FEMININO E A ERÓTICA SENIL PRESENTES NA CONSTITUIÇÃO PARÓDICA DO POEMA “A CHAPÉU”, DE HILDA HILST
Rosana Pugina

Última alteração: 2021-10-21

Resumo


Segundo Bakhtin (1997), por se edificar na oposição de ideias quanto a um texto-base, zombando de seu conteúdo, a paródia aproxima-se dos gêneros carnavalescos devido a sua característica de criar outro texto que seja o “duplo destronante” do primeiro, em outras palavras, a paródia dá gênese a um “mundo às avessas” em relação ao texto parodiado, o que é uma marca efetivamente carnavalesca. À luz de tal preceito, a obra Bufólicas, de Hilda Hilst (2018), foi escolhida porque os seus poemas parodiam, com forte teor obsceno, as fábulas e os contos de fadas. Dentre os textos da obra, encontra-se o poema “A Chapéu”, o qual foi elencado como objeto, haja vista que dialoga parodicamente com A Chapeuzinho Vermelho, de Charles Perrault (1987). Assim, como tema, propõe-se uma leitura do corpus mediante a análise da constituição paródica das suas personagens – Chapéu, Leocádia e Lobão –, objetivando-se estudar as relações que são estabelecidas com Chapeuzinho Vermelho, Avó e Lobo, pertencentes ao conto de fadas citado. Como arcabouço, serão utilizadas as reflexões de Bakhtin (1997; 2010), Bettelheim (2002), D’Onofrio (2007), Blumberg (2015) e Moraes (2015). Sobre a abordagem, a metodologia do trabalho é exploratória, qualitativa e de cunho bibliográfico. Espera-se, como resultado, verificar que o poema “A Chapéu”, de Hilda Hilst (2018), ao parodiar A Chapeuzinho Vermelho, de Charles Perrault (1987), projeta-se, por meio de suas personagens irreverentes, como uma encarnação “ao avesso” dos contos de fadas, zombando de seu conteúdo moralizante.


Palavras-chave


“A Chapéu”; Hilda Hilst; A Chapeuzinho Vermelho; Charles Perrault; paródia.

Referências


BAKHTIN, Mikhail. Problemas da poética de Dostoiévski. Tradução de Paulo Bezerra. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1997.

BAKHTIN, Mikhail. A cultura popular na Idade Média e no Renascimento: o contexto de François Rabelais. 7. ed. Tradução de Iara Frateschi Vieira. São Paulo: HUCITEC, 2010.

BEAUVOIR, Simone de. O segundo sexo – a experiência vivia. Tradução de Sérgio Milliet. São Paulo: Difel, 1967.

BEIGEL, Hugo. Dicionário de sexologia. Tradução de Alice Nicolau. Lisboa: Círculo de leitores, 1982.

BETTELHEIM, Bruno. A psicanálise dos contos de fadas. Tradução de Arlene Caetano. 16. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2002.

BLUMBERG, Mechthild. Sexualidade e riso: a trilogia obscena de Hilda Hilst. In: REGUERA, Nilze Maria de Azeredo; BUSATO, Susanna (Orgs.). Em torno de Hilda Hilst. São Paulo: Editora Unesp Digital, 2015. p. 121-137.

HILST, Hilda. Contos d’escárnio. Textos grotescos. São Paulo: Globo, 2002a.

HILST, Hilda. Cartas de um sedutor. São Paulo: Globo, 2002b.

HILST, Hilda. Pornô Chic. São Paulo: Globo, 2018a.

HILST, Hilda. O caderno rosa de Lori Lamby. In: HILST, Hilda. Pornô Chic. São Paulo: Globo, 2018b. p. 8-59.

HILST, Hilda. Bufólicas. In: HILST, Hilda. Pornô Chic. São Paulo: Globo, 2018c. p. 219-237

HILST, Hilda. A Chapéu. In: HILST, Hilda. Pornô Chic. São Paulo: Globo, 2018d. p. 228-229.

HILST, Hilda. Berta & Isabô: um fragmento pornogeriátrico rural. In: HILST, Hilda. Pornô Chic. São Paulo: Globo, 2018e. p. 239-240.

KNOLL, Ludwig; JAECKEL, Gerhard. Léxico do erótico. Sem tradução. Lisboa: Círculo de leitores, 1976.

MORAES, Eliane Robert. Aquelas coisas e um pouco mais: a erótica senil. In: REGUERA, Nilze Maria de Azeredo; BUSATO, Susanna (Orgs.). Em torno de Hilda Hilst. São Paulo: Editora Unesp Digital, 2015. p. 115-119.

PERRAULT, Charles. O Chapeuzinho Vermelho. Tradução de Francisco Balthar Peixoto. Porto Alegre: Kuarup, 1987. (Coleção Era uma vez, 3).

ROBLES, Martha. Fadas e bruxas. In: ROBLES, Martha. Mulheres, mitos e musas. Tradução de William Lagos e Débora Dutra Vieira. 3. ed. São Paulo: Aleph, 2019, p. 227-234.

VALENSIN, Georges. Dicionário sexual. Tradução de J. L. César. São Paulo: IBRASA, 1976.