Última alteração: 2021-10-21
Resumo
Segundo Bakhtin (1997), por se edificar na oposição de ideias quanto a um texto-base, zombando de seu conteúdo, a paródia aproxima-se dos gêneros carnavalescos devido a sua característica de criar outro texto que seja o “duplo destronante” do primeiro, em outras palavras, a paródia dá gênese a um “mundo às avessas” em relação ao texto parodiado, o que é uma marca efetivamente carnavalesca. À luz de tal preceito, a obra Bufólicas, de Hilda Hilst (2018), foi escolhida porque os seus poemas parodiam, com forte teor obsceno, as fábulas e os contos de fadas. Dentre os textos da obra, encontra-se o poema “A Chapéu”, o qual foi elencado como objeto, haja vista que dialoga parodicamente com A Chapeuzinho Vermelho, de Charles Perrault (1987). Assim, como tema, propõe-se uma leitura do corpus mediante a análise da constituição paródica das suas personagens – Chapéu, Leocádia e Lobão –, objetivando-se estudar as relações que são estabelecidas com Chapeuzinho Vermelho, Avó e Lobo, pertencentes ao conto de fadas citado. Como arcabouço, serão utilizadas as reflexões de Bakhtin (1997; 2010), Bettelheim (2002), D’Onofrio (2007), Blumberg (2015) e Moraes (2015). Sobre a abordagem, a metodologia do trabalho é exploratória, qualitativa e de cunho bibliográfico. Espera-se, como resultado, verificar que o poema “A Chapéu”, de Hilda Hilst (2018), ao parodiar A Chapeuzinho Vermelho, de Charles Perrault (1987), projeta-se, por meio de suas personagens irreverentes, como uma encarnação “ao avesso” dos contos de fadas, zombando de seu conteúdo moralizante.
Palavras-chave
Referências
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