Certo dia, em mil novecentos e lá vai cocada, um jovem estudante de classe média, insatisfeito com o curso de engenharia civil, me perguntou se valia a pena cursar jornalismo. Na época, nossa diferença de idade era pequena e eu ainda nem sonhava em ser professor do campo da comunicação. Era apenas um foca recém-formado pela Universidade Católica de Pernambuco sem saber direito o que seria da minha vida profissional. Trabalhava como repórter em uma emissora de rádio com um salário mixuruca e sem muita perspectiva de dias melhores. Apesar disso, os poucos anos na atividade (comecei a trabalhar como repórter do extinto Diário da Noite no segundo semestre da universidade) já me mostravam que ser jornalista valia a pena.

Tal e qual o jovem acima citado, eu também abandonara uma promissora carreira como engenheiro elétrico pela aventura de sair pelo mundo procurando acontecimentos relevantes, entrevistando pessoas, denunciando os malfeitos de gente troncha e transformando tudo em notícia. Vivia na pindaíba, mas quando via estampada, na primeira página do jornal, a manchete de uma matéria que tinha realizado, o sangue fervia, a alegria voltava e seguia em frente.

Pouco depois, virei mais um nordestino na Paulicéa Desvairada. Como jornalista, circulei por grandes veículos: Estadão, Folha de SP, Editora Abril e voltei a estudar, fazendo um mestrado na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Passados alguns anos, até eu pensei que não voltaria mais para os trópicos pernambucanos. Todavia, descobri que eu sou desses que gostam da terra de onde brotou. Um pé no mundo e outro no quintal. E como em terra de cego quem tem olho é rei e ser mestre em comunicação e artes nos idos dos anos 1990 do século passado era um bicho raro por aqui, achei que tinha o dever de repartir com os conterrâneos o conhecimento adquirido alhures.  E decidi voltar. E não é que deu certo? Reapareci nas redações, agora todo metido a sabido. Virei repórter de cultura e me tornei um crítico de cinema e teatro renomado do Caderno C do Jornal do Commercio dando pitaco nas obras dos outros.

Aí apareceu a Companhia de Jesus. Guiado pelas mãos dos meus mestres e mestras Valdelusa D’Arce, Carlos Benevides e Lucia Noya (foram eles que avaliaram se eu daria certo como professor ou não) adentrei de novo pelas salas e corredores da Universidade Católica de Pernambuco, agora do outro lado da moeda. A partir desse dia em vez de ter um jovem me perguntando se valia a pena cursar jornalismo, a cada semestre me deparava com uma nova leva de rostos cheios de curiosidade para conhecer essa profissão tão nobre, tão necessária e, muitas vezes, tão vilipendiada. E nunca hesitei. Sim, é massa ser jornalista.

E assim tem sido por mais de 30 anos. Mas como nada é para sempre, o mundo mudou e junto com ele mudaram os alunos e mudou o jornalismo. Foram-se as máquinas de escrever, as câmeras analógicas, as fitas cassetes e a obrigatoriedade do diploma. Chegaram os equipamentos digitais, a internet, a inteligência artificial e os “digital influencers”. Eu também mudei, acompanhando as transformações. Virei até doutor, mas sempre tentando manter a convivência harmônica entre o acadêmico e o profissional de imprensa.  Hoje, o jornalismo e o seu ensino atravessam mais uma crise, dentre tantas que já vivemos. Crises, porém, pedem soluções. Assim se me perguntam: vale a pena ser jornalista? Eu até dou um riso maroto, mas não titubeio e respondo firme e forte: sim, é difícil, mas vale a pena.

EPÍLOGO

Ah! O jovem estudante lá do comecinho largou o curso de engenharia, fez jornalismo, atuou na profissão de forma competente, foi repórter de vários jornais, assessor de imprensa de gente importante e até presidente do Sindicato dos Jornalistas de Pernambuco, ou seja, valeu a pena.

Por Alexandre Figueirôa