Na semana em que o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) liberou as versões digitalizadas das redações entregues pelos candidatos do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2022, me deparo com uma frase da estudante Maria Fernanda Lemes que, em entrevista para o jornal Estadão, declara: “Não adianta saber escrever, tem que saber argumentar”. Pronto, foi o suficiente para pegar aqui o meu café e começar este texto. Mas aí você já deve estar se perguntado: o que danado isto tem a ver com jornalismo?    

Tem tudo, pode ter certeza. Em um mundo cada vez mais digital e difuso, repleto de transformações sociais, econômicas e tecnológicas, é preciso estar atendo para o desenvolvimento de competências e habilidades que dialoguem de forma significativa com ecossistemas em transição intensa. Mas o que isto quer dizer? É o seguinte: já ouviu falar em hard e soft skills? Não? Então bora lá.

Hard skills são habilidades que aprendemos a partir de cursos, livros, testes. São facilmente quantificáveis e, geralmente, são identificadas nos tradicionais currículos. Já as soft skills vão além. São habilidades intangíveis e pessoais e estão diretamente relacionadas a nossa forma de interagir e de nos relacionarmos com as pessoas. Ah, detalhe: são extremamente valorizadas no mercado de trabalho.

Pois bem, voltando ao que nos disse a estudante (que por sinal, obteve nota máxima no exame, viu?), vale destacar que o jornalismo vem atravessando uma forte turbulência. Crise nos modelos de consumo e financiamento de conteúdo nos coloca diante de desafios que já estão rearranjando as dinâmicas de produção em veículos tradicionais e independentes. Buscar novos horizontes para a profissão a partir de práticas inovadoras e que estimulem o empreendedorismo não é mais um diferencial de mercado, mas uma urgência. Mais que saber escrever e editar “bem” (hard skills), é preciso agora criar cenários, desenhar futuros possíveis e construir saídas viáveis, éticas e humanas para o jornalismo contemporâneo (olha ai as soft skills!). Compreender que nosso ofício nunca foi tão relevante para os tempos atuais. Ou, como nos ensinou Maria Fernanda: “tem que saber argumentar”.

Por João Guilherme – Professor do curso de Jornalismo