O mundo digital vive nos pregando sustos. O mais novo atende pelo nome de inteligência artificial (IA para os que já se sentem íntimo delas). Das páginas e telas da ficção científica ela agora bate na nossa porta sem pedir licença e tem deixado muita gente com a pulga atrás da orelha.  Os mais maduros lembrarão da obra do escritor Isaac Asimov, autor do livro Eu, Robô, um clássico do gênero, onde robôs aprendem a pensar por si mesmos e que virou filme em 2004, estrelado por Will Smith. Não menos conhecido, o filme 2001: uma Odisseia no Espaço, do diretor inglês Stanley Kubrick, é outra obra que ganhou fama por mostrar um computador que passa a agir por conta própria e assume o controle de uma nave espacial rumo a Júpiter. Kubrick também foi o autor do projeto de A.I.Inteligência Artificial que acabou sendo realizado por Steven Spielberg, em 2001, abordando a delicada relação entre homens e máquinas.

Acontece que, agora, não estamos mais no universo imaginário dos filmes. A IA chegou para valer e se correr o bicho pega e se ficar o bicho come. Na verdade, a IA já está presente nas pequenas coisas do nosso cotidiano. Ao acionar um aplicativo ou dirigir um comando para a Alexa, assistente virtual desenvolvido pela Amazon, estamos lidando com ela. Todavia, se antes a IA era vista como uma curiosidade e resultado lógico e previsível do desenvolvimento tecnológico, desde novembro do ano passado com o aparecimento do ChatGPT, a coisa tomou outra proporção. Desenvolvido pelo laboratório de pesquisa norte-americano OpenAI, o chatbot (algoritmo usado em chats para imitar a conversa humana) com IA surpreendeu por ser capaz não apenas de ler e escrever, mas entender o conteúdo. O ChatGPT, que já está acessível na web, pode, além de responder perguntas, escrever programas de computador, criar poemas, compor músicas, responder testes e escrever trabalhos escolares.

Embora ainda tenha falhas e as informações por ele geradas não sejam, muitas vezes, confiáveis, o dispositivo acendeu o sinal amarelo para pesquisadores e cientistas sociais. Como sempre acontece com invenções capazes de mexer com a vida das pessoas, há quem considere esses avanços da IA tão poderosos quanto a descoberta da energia nuclear. Mas, para alguns segmentos da sociedade, algoritmos como o ChatGPT podem significar o fim de muitos processos de criação e rotinas de trabalho elaboradas e protagonizadas pelos humanos. Já tem listas apocalípticas circulando pela internet decretando o fim de profissões e atividades, e entre elas as de tradutor, contador, dubladores e… tchan tchan tchan… jornalistas. É claro que ainda é cedo para afirmar com todas as letras se estas previsões se concretizarão na dimensão apontada, contudo bigtechs como Google, Amazon, Meta estão investindo bilhões de dólares na novidade e certamente as consequências virão.

Não é de hoje que os algoritmos, as redes sociais e outras engenhocas digitais bagunçaram o coreto do campo da comunicação. Muita coisa mudou para melhor, mas a rapidez com que isso acontece tem sido um desafio permanente, sobretudo pelos efeitos nocivos de algumas práticas, pela falta de legislação para impedir abusos, e pelo poder desmesurado de quem domina essas tecnologias. Investir no futuro, redefinir paradigmas, estimular o olhar crítico e entender o que está acontecendo será, portanto, fundamental para enfrentar essa nova era que parecia só existir em filmes como Matrix.

Por Alexandre Figueirôa