Há várias maneiras de se fazer jornalismo. A gama de ferramentas, áreas de atuação e abordagens fazem da profissão um campo próspero de possibilidades e novos modos de contar histórias. Existe um caráter intrinsecamente humano, cuja comunicação é utilizada para retratar vivências, realidades diversas e, muitas vezes, invisibilizadas na sociedade. Esse é o caso do Projeto e Curso de Extensão “Ganhando Asas Através da Comunicação e da Arte”, idealizado por Mary Cantarelli e coordenado, desde agosto de 2017, por Renata Victor, professora de fotografia da Universidade Católica de Pernambuco.

O curso de Jornalismo atua no projeto pela participação de professores e alunos que atuam como monitores e com o apoio da psicopedagoga Flávia Ferraz, o projeto promove a inclusão e a capacitação de jovens com Síndrome de Down através de oficinas de arte e comunicação, com duração de seis meses.

Unindo a tecnologia e as práticas da educomunicação, a jornalista e professora Andrea Trigueiro ministra a disciplina de Mídias Sonoras e faz parte da família do Ganhando Asas. Por meio de atividades pedagógicas e educativas, a professora cria um espaço de acolhimento e protagonismo, onde os jovens são incentivados a desenvolver sua comunicação e individualidade através das ferramentas do rádio. “Todos os momentos com eles são muito importantes. Primeiro porque é um momento de integração entre os estudantes de jornalismo e os do ganhando asas. Segundo porque contribui para a formação humana e profissional dos alunos de comunicação e terceiro porque para esses jovens com down é uma experiência única estar frequentando o ambiente do ensino superior e produzindo”, pontua Andrea destacando como é rico poder desfrutar, numa mesma experiência, de tantos aprendizados.

Dentre as práticas que já foram realizadas na disciplina, está o podcast “Ganhando Asas”, produzido no período de 2019 a 2020, e veiculado pela Rádio Universitária FM no ano seguinte. O programa de oito episódios aborda o cotidiano das pessoas com deficiência e atravessa temas como trabalho, saúde, educação e cultura. Os estudantes participaram de todas as etapas do projeto, desde a sugestão das pautas à gravação. Atuando no campo dos direitos humanos, a educomunicadora ressalta a importância das técnicas jornalísticas dentro do processo de formação dos jovens. “No caso da mídia sonora, colabora tanto para que os estudantes de jornalismo aprimorem as suas técnicas quanto para que os alunos do ganhando asas desenvolvam sua comunicação oral”, explica Andrea.

Aline Beltrão, jornalista e ex-aluna da Unicap, foi uma das voluntárias do projeto e auxiliou na produção dos programas de rádio e podcast em 2019. “Participar do ganhando asas foi absurdamente transformador. Tanto para mim, como pessoa, mas principalmente de ter essa mudança do meu olhar para o outro, em questão de sensibilidade, de respeito, acolhimento e de admiração”, pontua a jornalista. Aline também destaca o papel do Ganhando Asas no fortalecimento da cidadania. “A gente está ali, com pessoas que socialmente não tem a atenção que deveriam e que, infelizmente, não estão inseridas da mesma forma que a gente. E esse projeto faz com que eles possam estar envolvidos e ter esse espaço de participação. A gente está ali, movimentando, apoiando e impulsionando eles para mais e mais”

Ao construir essa rede de aprendizados colaborativa, histórias como a do aluno João Marcelo Mansi surgem como inspiração para outros jovens com deficiência. Através do curso, João descobriu o amor pelo jornalismo esportivo e participa ativamente das atividades e discussões do Ganhando Asas. “Sonho com um mundo que tenha mais inclusão e mais respeito”, declara o jovem.

O relato de Mansi revela o compromisso vital do jornalismo de atuar na defesa dos direitos humanos e na liberdade de expressão, que abraça todos os indivíduos em suas múltiplas e complexas identidades. É da representatividade a partir do lugar de fala e da ampliação de vozes que se ocupam novos espaços. O jornalismo é o instrumento e a porta por onde passam sujeitos que transformam o mundo e cabe à profissão contribuir para que cada um ganhe asas e possa construir uma realidade mais justa e diversa.